Rosana Nunes em 24 de Junho de 2018
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Ato de levar a imagem do santo em procissão ao Porto Geral, uma das referências históricas da cidade, é movido pelas crendices, superstições e fortes emoções.to
A festa é sempre de encher os olhos de quem acompanha. O porto ficou repleto de pessoas, inclusive de outras cidades, que demonstravam sua fé multiplicada ao verem os andores serem banhados, levando seus pedidos e agradecimentos e embalados pela ladainha na descida da ladeira: “Se São João soubesse, que hoje era seu dia, descia do céu à terra, com prazer e alegria”.
Entre os milhares de devotos estava Maria Helena Silva, de 33 anos. “Desde muito jovem venho aqui para acompanhar tudo de perto. Tenho muita fé em São João e sempre renovo meus pedidos de saúde e paz para minha família e amigos”, contou.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Pela ladeira Cunha e Cruz passaram mais de 90 andores este ano
Na beira da prainha, José Castanheira, de 57 anos, fez questão de acompanhar o banho do santo. “Já vi pelo menos uns 15 andores passarem por aqui. É muito bonita essa devoção, nos dias atuais, nós precisamos renovar a nossa fé, confiança de dias melhores. Pedi a São João que nos dê forças e saúde para seguirmos em frente”, destacou ao Diário Corumbaense.
Ver a descida dos andores pela ladeira ao som das bandas que louvavam São João é sempre emocionante. Bandeirolas, fogos de artifícios que anunciavam os andores e as lamparinas revelaram a alegria do povo, que se juntou de forma democrática e festiva em devoção ao santo.
Também é tradição passar por baixo dos andores sete vezes, para pedir um namorado ou casamento ou bênçãos. “Na verdade já perdi as contas de quantas vezes passei, mas o que importa é que tenhamos paz, harmonia e saúde e que todos se sintam abençoados por São João.
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Prefeito Marcelo Iunes e a primeira-dama Amanda, na descida do andor oficial da Prefeitura
Vestidos a caráter, o prefeito Marcelo Iunes e a primeira-dama e secretária especial de Cidadania, Amanda Iunes, acompanharam a descida do andor oficial da Prefeitura. À meia-noite deste 24 de junho, o céu de Corumbá se encheu de fogos de artifício, celebrando o nascimento de João Batista, um profeta que previu o nascimento de Jesus Cristo. São João é conhecido também por ter batizado Jesus e assim, nasceu a simbologia cultivada nas águas do rio Paraguai: banhar a imagem de São João na noite do dia 23 até a madrugada do dia 24 de junho, assim como ele havia feito com o Messias.
O ritual
O ritual do “batismo” de São João tem influências portuguesas. Organizado pelas comunidades, com o passar do tempo incorporou o cururu e siriri, ritmo e dança presentes às festas indígenas e africanas. E são os festeiros os principais responsáveis pelo espetáculo. Eles mantêm viva a maior e mais autêntica festa junina do Brasil Central. Este ano, a Prefeitura certificou 93 festeiros do Banho de São João como agentes de preservação cultural. São eles que organizam o ritual.
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São João não tem tradição de casamenteiro, mas a crença popular diz que passando sete vezes por baixo do andor a pessoa pode conseguir um relacionamento amoroso
Segundo historiadores, a tradição do Banho de São João foi introduzida na região por volta de 1882. O ato de levar a imagem do santo em procissão ao Porto Geral, uma das referências históricas da cidade, é movido pelas crendices, superstições e fortes emoções. Dizem os mais antigos que o banho renova as forças do santo e abençoa tudo o que se relaciona a água com o homem.
A louvação ao santo tem dois momentos marcantes, durante a procissão pelas ruas da cidade. Ouve-se primeiro a ladainha: “Deus te salve João/Batista sagrado/O teu nascimento/Nos tem alegrado”. Logo, a banda imprime um ritmo carnavalesco e o povo pula de alegria, cantando: “Se São João soubesse que hoje era o seu dia/ Descia do céu à terra/Com prazer e alegria”. Durante o banho, o povo entra na água, toca a imagem, se percebe a religiosidade dominante. Aos gritos de “Viva São João”, escuta-se batuque da umbanda na beira do rio, anunciando a presença de entidades num grande terreiro. Os pagadores de promessas se ajoelham com emoção e fé fervorosa. O andor retorna para a casa do festeiro, subindo a Ladeira, onde é tradição cumprimentar quem desce, até a madrugada do dia 24.
Patrimônio Imaterial
O banho de São João nas águas do rio Paraguai é uma manifestação que já ostenta o título de patrimônio imaterial cultural de Mato Grosso do Sul. Agora busca o reconhecimento nacional.
No final de fevereiro deste ano, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) anunciou a contratação da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) para a elaboração do dossiê e material audiovisual para subsidiar o Processo de Registro do “Banho de São João de Corumbá e Ladário” como patrimônio imaterial do Brasil.
Os pesquisadores são dirigidos pela Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura), contando com alunos-bolsistas da UFMS em seus campi da Capital e do Pantanal (Corumbá), a fim de aprofundar as pesquisas, buscando identificar e conhecer as referências culturais existentes no Banho de São João, compreender o significado da festa para quem a celebra e como ela desempenha papel central na formação da identidade cultural local.
A instituição de ensino tem até outubro deste ano para entregar os materiais solicitados que serão enviados à Brasília para análise e parecer técnico do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural Brasileiro. Caso seja aceito, o Bem “Banho de São João de Corumbá e Ladário/MS” será registrado no Livro das Celebrações como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, tornando-se o primeiro bem exclusivamente registrado em território sul-mato-grossense.
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Segundo historiadores, a tradição do Banho de São João foi introduzida na região por volta de 1882
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