Rosana Nunes em 23 de Junho de 2018
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Depois da missa, devotos saíram em procissão até a casa de festeiro
Maria de Lourdes Batista, de 62 anos, é a madrinha da bandeira do santo há 11 anos. A devoção em São João, começou por acaso. "Eu sou de Campo Grande, mas moro em Corumbá há 21 anos. Depois de dez anos morando aqui, uma amiga me chamou para participar da homenagem da comunidade. Vim, me encantei e ainda fui escolhida madrinha da bandeira, o que se tornou uma honra, uma emoção muito grande. Desde então, só tenho a agradecer a São João por 'guardar' a minha família, com saúde e paz. Somos abençoados e até costumo dizer que sou 'prima' do santo, já que tenho o sobrenome Batista", disse brincando Maria de Lourdes ao Diário Corumbaense.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Maria de Lourdes é madrinha da bandeira do santo há 11 anos
Chegando em frente à casa do festeiro Alfredo Ferraz, mais de 500 pessoas se aglomeraram no local, entre adultos, idosos e crianças. Os devotos rezaram o Pai Nosso e a Ave Maria, hastearam a bandeira de São João no mastro e deram voltas em torno dele, segurando o andor com o santo, rezando e fazendo louvores.
Feito o ritual, todos entraram na casa com a imagem do santo e o café da manhã foi oferecido para as pessoas que ali estavam.
Segundo Alfredo Ferraz, o levantamento do mastro com a bandeira de São João representa o nascimento de João Batista. “Segundo a tradição cristã, Maria e Isabel combinaram que no dia que João nascesse, Zacarias iria erguer um tronco de uma árvore com uma bandeira para simbolizar que João tinha nascido porque não tinha meio de comunicação na época, então eles moravam naquela região montanhosa da Judéia, e quando São João Batista nasceu, Zacarias fez a fogueira e pegou um tronco de árvore e colocou uma bandeira para simbolizar. Maria soube que João tinha nascido, aí ela foi ao encontro de Isabel para poder ajudá-la”, lembrou. O mastro com a bandeira fica erguido até o dia de São Pedro, 29 de junho, quando é retirado.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Alfredo Ferraz assumiu a função de festeiro quando ainda era adolescente
Tradição herdada
Aos 29 anos, Alfredo Ferraz herdou do avô e do pai a tradição de homenagear São João. Mas foi dele a iniciativa de levar a imagem do santo para ser banhada nas águas do rio Paraguai na noite de 23 para 24 de junho, ápice dos homenagens. Isso começou há 15 anos, quando ele ainda era adolescente e ganhou a imagem e o andor dos tios. De lá para cá, a festa promovida por Alfredo só se fortalece e atrai um grande número de devotos. Ele também já foi diversas vezes campeão do concurso de andores que o Município realiza todos os anos. “São João faz parte da minha vida. É muita fé, muita devoção, muitas graças”, afirmou.
Depois do café da manhã, a comunidade liderada por Alfredo volta a se reunir às 21 horas para a reza do terço. A descida do andor de São João para a prainha do Porto Geral está prevista para 21h30. De lá, os devotos voltam para a casa do festeiro, que servir jantar para cerca de 600 pessoas e, como é fim de semana, vai ter "bailão" até a madrugada.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Para o café da manhã, 500 kits foram preparados
Patrimônio Imaterial
O banho de São João nas águas do rio Paraguai é uma manifestação que já ostenta o título de patrimônio imaterial cultural de Mato Grosso do Sul. Agora busca o reconhecimento nacional.
No final de fevereiro deste ano, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) anunciou a contratação da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) para a elaboração do dossiê e material audiovisual para subsidiar o Processo de Registro do “Banho de São João de Corumbá e Ladário” como patrimônio imaterial do Brasil.
Os pesquisadores são dirigidos pela Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura), contando com alunos-bolsistas da UFMS em seus campi da Capital e do Pantanal (Corumbá), a fim de aprofundar as pesquisas, buscando identificar e conhecer as referências culturais existentes no Banho de São João, compreender o significado da festa para quem a celebra e como ela desempenha papel central na formação da identidade cultural local.
A instituição de ensino tem até outubro deste ano para entregar os materiais solicitados que serão enviados à Brasília para análise e parecer técnico do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural Brasileiro. Caso seja aceito, o Bem “Banho de São João de Corumbá e Ladário/MS” será registrado no Livro das Celebrações como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, tornando-se o primeiro bem exclusivamente registrado em território sul-mato-grossense.
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