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Narguilé é porta de entrada para drogas, aponta pesquisa com estudantes de Corumbá

Rosana Nunes em 25 de Fevereiro de 2023

Reprodução

OMS estima que apenas uma hora de uso do narguilé equivale a tragar 100 cigarros

Quase 20 % dos alunos que cursam o Ensino Fundamental (faixa etária de 11 a 15 anos) nas escolas da rede pública de Corumbá, já tiveram contato com as drogas. No Ensino Médio (de 15 a 19 anos), mais de 40% declararam que já usaram ou experimentaram algum tipo de entorpecente. Nos dois casos, o narguilé – com fácil acesso – é a porta de entrada.

Os dados são de um estudo elaborado pelo ‘Projeto Semear’ que visa a prevenção ao uso de drogas nas escolas municipais e estaduais corumbaenses. A pesquisa, realizada entre agosto e dezembro de 2022, ouviu 4.200 estudantes em 14 escolas da rede pública de ensino. Foram visitadas 9 escolas da Rede Municipal e 5 da Rede Estadual.

Dos 2.520 alunos ouvidos pelo estudo – que cursam do 5° ao 9° ano do Ensino Fundamental –,19,01% deles declararam já ter feito uso de drogas. Entre as drogas citadas por eles, a imensa maioria (90,2%) afirmou que a droga usada ou experimentada foi o narguilé, seguido do cigarro (4,8%); da maconha (2,9%) e do cigarro eletrônico (2,1%). Outros 80,99% destes estudantes disseram que nunca fizeram uso de drogas.

Realizador do estudo e coordenador do ‘Projeto Semear’, o guarda civil municipal e professor Alfredo Magalhães da Silva Filho, afirmou que estes números podem não expressar a realidade. “Embora tenham sido alertados que não precisariam se identificar, e que os dados seriam apenas para análise, muitos alunos podem ter optado por declarar que jamais usou qualquer tipo de substância alucinógena apenas por receio de serem descobertos, amedrontados por pensarem haver a possibilidade de os pais, colegas e professores descobrirem que o mesmo já fez uso de droga”.

As estatísticas do Ensino Médio são mais preocupantes e trazem a cocaína surgindo como opção. Lá, dos 1.500 estudantes que responderam a pesquisa, 41% deles confirmaram ter usado ou experimentado algum tipo de entorpecente. Com 89,9% de citações, o narguilé domina o cenário. Logo atrás aparecem álcool e cigarro (7,8%); maconha e cocaína (2,2%). Contudo, 59% declararam nunca ter usado nenhum tipo de droga.

Também foram ouvidos 180 alunos que cursam a EJA (Educação para Jovens e Adultos) – na faixa etária de 15 a 63 anos. E, nesse universo, mais da metade (60% dos entrevistados) afirmou já ter usado droga. O narguilé continua insuperável nesse cenário com 57,40% das respostas. Foram citados ainda o cigarro (21,29%); maconha (15,74%) e cigarro eletrônico (5,55%).

Narguilé faz “soar alarme”

Na avaliação de Magalhães, o fato de o narguilé ser a droga mais procurada pode ser explicado pelo fato de “a maioria dos usuários acreditar se tratar de um produto saudável, que não causa nenhum malefício à saúde”. Entretanto, observou o coordenador, "muitas vezes são ludibriados por não verificar nenhum malefício a curto prazo, pois as doenças e agravos do uso do narguilé não surgem de forma imediata. E isso causa uma falsa sensação de que não está acontecendo nada de ruim com a saúde, pois não se nota nenhuma alteração significativa imediatamente após o uso. E isso incentiva os usuários a continuarem a usar cada vez mais”.

“O número de usuários do narguile, analisados através dos dados nos fornece uma visão panorâmica do problema, enfatizando ainda mais a necessidade de campanhas educativas nas escolas, através de palestras, cartilhas e folhetos informativos. Ou seja, nos possibilitou soar o alarme com relação a um grave problema que até então vinha sendo tratado com certa naturalidade, sem que absolutamente nada fosse feito no intuito de amenizar os efeitos na vida dos alunos, pois trata-se de um grave problema de saúde pública que deve ser duramente combatido para proteger nossos alunos”, pontuou o relatório.

Ainda segundo o estudo, a baixa citação do álcool pelos entrevistados se deve ao fato de que "as bebidas alcoólicas em geral não são consideradas, principalmente entre os mais jovens, como uma droga. Diante disso, mesmo os que fazem uso do álcool, quando perguntados se fazem uso de droga, responderam que não, gerando um falso resultado de que o álcool não é tão consumido entre os mais jovens, porém pesquisas realizadas exclusivamente sobre o uso do álcool mostram um número alarmante de usuários, de todas as idades”.

Como conclusão, a pesquisa do ‘Projeto Semear’ alertou que na prevenção e combate às drogas – em âmbito escolar – as “ações do poder público, escola, comunidade escolar e pais devem ser realizadas de forma muito mais intensiva, pois caso contrário estaremos apenas assistindo os alunos se envolverem com drogas, destruindo a própria saúde, gerando um clima de insegurança inclusive dentro das salas de aula, afetando fisicamente e psicologicamente os professores, que também se encontrarão “amarrados” diante da situação, assim como os pais sem saberem o que fazer e a quem recorrer. Cabendo às autoridades policiais apenas reprimir os crimes decorrentes do uso de drogas”.

A pesquisa teve como objetivos “oferecer subsídios teóricos para auxiliar significativamente aos educadores, nos seus esforços, que possam reduzir e prevenir os danos à saúde e à vida, bem como as situações de violência e criminalidade associadas ao uso prejudicial de drogas em nossa comunidade”.  Alfredo Magalhães destacou que o ‘Projeto Semear’ atua com o intuito de “minimizar os problemas decorrentes do uso e comercialização de álcool, fumo e entorpecentes”.

Um problema chamado narguilé

O uso do narguilé representa um grande perigo à saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que apenas uma hora de uso equivale a tragar 100 cigarros. O consumo pode levar ao aparecimento de câncer de pulmão, doenças cardíacas e respiratórias, além de também causar dependência.

O narguilé possui uma característica peculiar: um único cachimbo pode ser usado por várias pessoas simultaneamente. Tal fato reforça o seu aspecto de socialização, algo muito atraente, especialmente para os jovens. Além disso, há a falsa sensação de que o narguilé, por ser usado com água, não causa mal à saúde.

O aparelho é um tipo de cachimbo de água, de origem oriental, destinado a fumar tabaco aromatizado. É muito utilizado por hindus, persas e turcos. Mas, já disseminado por todo o mundo, o objeto é constituído de um fornilho, um tubo longo, pelo qual passa a fumaça antes de chegar à boca, e um pequeno recipiente, originalmente usado para armazenar água perfumada.

“O principal problema do uso de narguilé é desenvolver a dependência da nicotina, uma vez que, no tabaco do narguilé, há maior concentração da substância. Também temos uma grande inalação de CO2 (dióxido de carbono ou gás carbônico) e outros tóxicos, como no tabaco”, alertou o médico Carlos Viegas ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) em matéria alusiva ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, que é anualmente celebrado em 29 de agosto.