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Retorno de tuiuiús ao ninho é símbolo de "renascimento" do Pantanal após queimadas

Leonardo Cabral em 17 de Maio de 2021

Alexander de Oliveira/foto cedida ao Diário Corumbaense

Casal de tuiuiús foi flagrado no final da tarde de domingo pelo técnico de informática

“Estou muito feliz com eles de volta. É um sinal de renascimento do Pantanal. Foi emocionante”. Com essas palavras, Alexander de Oliveira definiu o momento em que presenciou casal de tuiuiús, dentro do ninho artificial, construído às margens da BR-262, após o ninho natural, que ficava no alto de um Ipê, ter sido destruído pelas queimadas que devastaram o Pantanal em 2020.    

Em entrevista ao Diário Corumbaense, Alexander, que é técnico em informática e mora em Corumbá desde 2002, conta que o flagrante do casal de aves, foi feito exatamente às 17h32, de domingo, 16 de maio, quando retornava de Campo Grande.

 

“Eu tinha ido cedo para Campo Grande e retornei à tarde. Confesso que não foi por acaso, desde que o ninho foi consumido pelo fogo e resolveram colocar um artificial no lugar, parava e observava, com esperança de o casal de tuiuiú estar lá. Mas, ao longo desse período não via eles, ontem foi a primeira vez. Foi um momento de muita felicidade da minha parte e creio ser de todos os corumbaenses também”, contou Alexander.

 

O técnico em informática relembrou que ao passar pelo local, que fica próximo à ponte sobre o rio Paraguai, no Porto Morrinho, distante cerca de 70 km de Corumbá, que ao ver as aves em cima do ninho artificial não pensou duas vezes para fazer o registro.

 

“Quando os vi, rapidamente parei o carro, mas preferi não descer, pois fiquei com medo de assustá-los e comecei a fazer o registro das imagens de dentro do meu automóvel. Eles estavam bem calmos, um parado e o outro construindo o ninho. Para mim, é quase certeza que seja o casal de sempre, pela tranquilidade em que estavam. Foi uma cena que deu gosto de ver, pois esse ninho e as aves são patrimônios nosso, nosso cartão postal também”, descreveu Alexander.

 

A importância do ninho

 

O ninho original ficava localizado no alto de uma árvore, um Ipê, às margens da BR-262. Depois de ser completamente destruído pelo fogo, no final de setembro de 2020, o ninho de tuiuiús, foi reconstruído de forma artificial, em outubro, ao lado da árvore que o abrigava. A reconstrução teve a parceria da Fundação de Meio Ambiente de Corumbá, Embrapa Pantanal, Concessionária de Energia e Projeto Arara Azul.

 

Alexander de Oliveira/foto cedida ao Diário Corumbaense

Ninho artificial foi instalado em outubro após o natural ser consumido pelas chamas

De estrutura metálica, o ninho artificial, foi preparado para receber o casal de aves. Na época em que foi instalada, a diretora-presidente da Fundação do Meio Ambiente do Pantanal, Ana Cláudia Moreira Boabaid, disse ao Diário Corumbaense que a ação era considerada inédita no Brasil, ainda mais pelo fato de o local ser protegido por lei municipal. 

Pela tradição e beleza, bem como pela sua importância e como forma de proteção, o decreto municipal 964/2011, declarou que o Ipê-roxo ou Piúva, que sustenta o ninho de tuiuiú é imune de corte, é uma espécie de tombamento a esse bem natural, haja vista a sua importância simbólica por sustentar um ninho da ave símbolo do Pantanal.

 

O Ipê é uma das árvores mais altas da região e pela sua casca rugosa e copa aberta, é adequada para pousos e decolagens do tuiuiú, que, além disso, prefere essa espécie para fazer ninhos.  

 

As aves e sua moradia também são famosas por sempre estarem aparecendo em campanhas publicitárias que enaltecem a fauna e flora pantaneira, dando visibilidade ao Pantanal de Corumbá, cidade onde está localizada a maior área do bioma pantaneiro.

 

O tuiuiú

 

De plumagem branca e pernas pretas, a ave possui papo vermelho que se destaca entre o preto do pescoço. Com cerca de 30 centímetros, o bico é preto e muito forte.

 

Arquivo Pessoal/Alexander de Oliveira

Tuiuiús fotografados quando o ninho ainda era em cima do Ipê, na BR-262

O período reprodutivo dos tuiuiús coincide com o período de estiagem das águas, ou seja, quando o nível da água está baixando e os peixes ficam vulneráveis nas baías servindo de alimento para o casal e os filhotes, que aguardam nos ninhos, que podem chegar, em alguns casos em até três metros de diâmetro. 

Uma vez construídos, eles permanecem no local e a cada ano só passam por reparos, onde as aves refazem a reconstrução com novos galhos, capins e plantas aquáticas. A capacidade é de até quatro ovos no ninho.

 

Já os filhotes do tuiuiú permanecem no ninho até os três meses de idade e o casal fica unido durante todo o período reprodutivo, que vai de maio a novembro.