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Títulos de filmes de horror

Por Regina Baruki-Fonseca e Naudir Ney Carvalho da Silva (*) em 03 de Novembro de 2022

A adaptação de títulos de filmes de um país para outro tem que levar em consideração os diversos elementos culturais e de significados possíveis na língua-alvo.

Como primeiro exemplo, temos o título em inglês do filme Final Destination, de 2000, que remete não somente à temática, pois os personagens lutam contra uma força sobrenatural que os levará ao seu destino final – a morte – mas também ao termo usado em bilhetes aéreos, indicando o último destino da viagem. Uma tradução direta – Destino Final – seria pouco chamativa e, de certa forma, irônica, pois o filme teve mais cinco sequências. A distribuidora optou, então, pelo título Premonição – que  não remete ao original, mas tem vínculo com a trama do filme, além de maior apelo comercial.

O mesmo ocorreu com o filme Child’s Play, de 1988. O título, traduzido diretamente, Brincadeira de Criança, poderia induzir ao engano de que se trata de um filme infantil. No Brasil, o título do primeiro filme do boneco Chucky foi o mais literal possível, em termos do enredo: Brinquedo Assassino. Outro clássico do horror dos anos 1980, que recebeu uma adaptação com o intuito de não causar uma confusão quanto ao público-alvo, foi o longa The Funhouse – A Casa da Diversão, em tradução direta, que aqui foi adaptado para Pague Para Entrar e Reze Para Sair.

A adaptação também pode eliminar algumas dificuldades de entendimento, como foi o caso de A Nightmare on Elm Street, de 1984, que seria Um Pesadelo na Rua Elm, e que por aqui recebeu o título de A Hora do Pesadelo – eliminando a rua fictícia em que se passa a história e sendo mais apelativo para o público desse tipo de filmes.

Ao divulgar o filme Scream, de 1996, escolheu-se o título Pânico, diferentemente da tradução literal, que seria Grito. A palavra selecionada provoca maiores interesses por obras de terror, ao que tudo indica.

Um caso interessante é o de It – obra de Stephen King, estrelada por um grupo de crianças assombradas pelo palhaço Pennywise, que foi adaptada em duas ocasiões. O telefilme  de 1989 foi intitulado, no Brasil, como A Obra Prima do Medo. Já o longa metragem para os cinemas, de 2017, recebeu o título de A Coisa, termo mais apropriado, por ser mais próximo do significado da palavra inglesa it – um pronome pessoal subjetivo e objetivo  neutro, que remete a situações, animais, objetos, e ao desconhecido.

Algo similar ocorreu com o clássico de John Carpenter de 1982, The Thing, que se traduz por A Coisa, mas que em terras brasileiras levou o nome de O Enigma de Outro Mundo. Esse título remove, um pouco, o suspense sobre a origem da ameaça enfrentada pelos pesquisadores. O fato de a adaptação brasileira ser mais apelativa que o título original também ocorreu com Jaws, de 1975, Mandíbulas, em português, adaptado como Tubarão  e Tremors, de 1990, Tremores, em nossa língua, que se chamou O Ataque dos Vermes Malditos. Todavia, o exemplo mais notável e longevo desse caso foi a adaptação de Saw, de 2004 – que remete ao serrote presente no primeiro filme e ao apelido do assassino da franquia, Jigsaw (vindo do termo jigsaw puzzle = quebra-cabeças, enigma) – para Jogos Mortais. Um título mais comercial e chamativo para o público brasileiro, para a franquia de horror que hoje soma mais de oito filmes em sua continuidade.

Pelos exemplos selecionados, deduz-se que traduzir títulos de filmes é uma atividade mental bem complexa – não basta conhecer as palavras e suas versões nos dois idiomas, a da língua de origem e a da língua-alvo. É preciso assistir ao filme e adaptar o termo de acordo com o gênero da obra, com o objetivo de atrair o público – às vezes com o efeito contrário, afugentando quem decide assistir ou não a um filme apenas com base em seu título!

(*) Regina Baruki-Fonseca é professora associada do curso de Licenciatura em Letras, Habilitação Português e Inglês (CPAN/UFMS). Mestre em Letras Modernas Língua Inglesa (UFRJ) e Doutora em Educação (UFMS).


(*) Naudir Ney Carvalho da Silva é licenciado em Letras, Habilitação Português e Inglês (CPAN/UFMS). Cursa Especialização em Tradução Profissional na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).