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Coisas do Carnaval

Por Regina Baruki-Fonseca e Naudir Ney Carvalho da Silva (*) em 16 de Fevereiro de 2023

Um dos desvios comuns de tradução é a proximidade entre a palavra ‘carnaval’, a festividade brasileira que se estende por uma/duas semanas (dependendo do local) entre o Natal e a Páscoa, e a palavra inglesa carnival. A palavra ‘carnaval’, segundo alguns estudiosos, origina-se da expressão latina carnis levale, cujo significado é ‘retirar a carne’, em referência ao período da Quaresma.

Carnival, no sentido comumente utilizado na língua inglesa, refere-se a um parque de diversões itinerante, com diversas atrações para aqueles que o visitam. Tal tradição pode ser vista no cinema, em filmes como o musical O Rei do Show, o drama de horror O Beco do Pesadelo e em seriados como Carnaviále e American Horror Story.

A celebração do carnaval aos moldes brasileiros não se limita ao nosso território. Na cidade de Nova Orleans, é famosa a celebração do Mardi Gras, conhecido pelos desfiles deslumbrantes, roupas chamativas e máscaras de gesso. Assim como o carnaval brasileiro, a festividade tem como inspiração as celebrações pagãs que ocorriam há milhares de anos em Roma, para comemorar a fertilidade e a chegada da primavera – e que também foram cooptadas à tradição cristã ocidental. O nome da festa tem origem no francês: a terça-feira antes da Quarta-Feira de Cinzas é apelidada de ‘Mardi Gras’ (Terça-Feira Gorda).

O explorador franco-canadense Pierre Le Moyne d'Iberville foi o responsável por trazer a festividade para a América do Norte em 1699. Deu ao seu acampamento o apelido de Point du Mardi Gras – “o Ponto da Terça-Feira Gorda”.  Um baile de gala foi realizado à época no acampamento, localizado a cerca de 97 km da atual Nova Orleans. Desde então, a celebração é realizada anualmente e atrai turistas vindos, além de diferentes lugares do mundo, de diversos locais dos Estados Unidos, devido a uma tradição americana: o Spring Break. Durante o ano letivo, os universitários têm uma folga (break) entre os dois semestres de aula, normalmente entre março e abril, incidindo na primavera (Spring).

O Mardi Gras e toda a cultura ao redor da festividade foi explorada pelo cinema em diversas obras, como o psicodélico Spring Breakers: Garotas Perigosas, a comédia Viagem das Garotas e a animação da Disney A Princesa e o Sapo.

Já o famoso Carnaval de Veneza, com suas fantasias e máscaras excepcionais, é bem diverso da comemoração brasileira. Trata-se de uma celebração mítica, que dura cerca de dez dias. Diferentemente do nosso Carnaval, com forte mobilização popular, o ritual italiano costuma ser organizado pela elite financeira e cultural. As máscaras e figurinos procuram reproduzir o estilo dos nobres dos séculos XVII e XVIII, além de personagens como Pierrôs, Arlequins e Colombinas, em homenagem às representações teatrais da Commedia Dell’Arte.

Como manifestações culturais, constatamos similaridades entre as festividades: a coletividade, as vestimentas chamativas, o espírito de rito de passagem dos mais jovens para a vida adulta, a música alta, a energia contagiante e o clamor da multidão para que esse pequeno recorte de tempo se eternize em momentos de pura alegria.


(*) Naudir Ney Carvalho da Silva é licenciado em Letras, Habilitação Português e Inglês (CPAN/UFMS). Cursa Especialização em Tradução Profissional na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

Regina Baruki-Fonseca é professora do Curso de Letras do CPAN. Tem Mestrado em Língua Inglesa pela UFRJ e Doutorado em Educação pela UFMS.

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