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De Xinguara para Corumbá, estilista cria sua marca

Nelson Urt em 21 de Setembro de 2019

Navepress

Ju Gamboa no seu ateliê em Corumbá: sensação de liberdade

A paraense Juliane Gamboa deixou para trás seus principais vínculos afetivos, a família, os amigos, uma faculdade com curso à distância, o namorado. Deixou para trás Xinguara, interior do Pará. Queria viver um novo sonho em Corumbá, onde a aguardava, de concreto, apenas uma vaga assegurada pelo Enem no curso de Letras do Campus Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O restante era um livro aberto.

Cinco anos depois, ela comprova que a reviravolta deu certo. Além dar aulas de redação, inglês e artes em escolas particulares, tornou-se a estilista revelação de Corumbá com um ateliê próprio montado na rua Ladário. Assim começa a escrever a sua história.

A marca Gamboa ficou tão conhecida que hoje, faltando ainda cinco meses para o Carnaval, ela já sabe que terá quase um mês inteiro de serviços para atender os pedidos de customização de camisetas de blocos corumbaenses. Vai passar o Carnaval inteiro trabalhado, como nos três anos anteriores. Só na terça-feira, quando todos os pedidos estiverem entregues, se dará uma folga. “Aí eu vou finalmente para avenida desfilar no Bloco dos Palhaços”, conforma-se. “Enfim, meu grande evento é o Carnaval”.

Corumbá se tornou uma cidade propicia para proclamar sua pequena revolução. “Corumbá me transmite segurança, não sei se conseguiria fazer em outra cidade o que faço aqui, principalmente com relação ao ateliê”, constata. “Aqui eu tenho uma sensação de liberdade muito grande, posso ser o que eu quiser ser, sem grandes distâncias, e conto com a intensa vida cultural que a cidade oferece”, disse ao Diário Corumbaense.

Ju Gamboa adora seguir a programação do Sesc e participar dos eventos culturais da cidade. E foi da Boemia Cultural, sarau criado pela produtora cultural e atriz Bianca Machado, que ela pela primeira vez teve seu trabalho de customização reconhecido pelo público. Hoje ela já possui quatro máquinas de costura e planeja comprar a quinta, industrial, para expandir o ateliê. O objetivo é ver o nome Gamboa escrito em letras maiúsculas na fachada da própria loja.

Nas raras horas vagas ainda se torna youtuber. No canal Youtube ela publica vídeos com dicas sobre customização. E nas escolas públicas prepara oficinas sobre seu trabalho. Além de dar dicas sobre como tingir, reciclar roupas manchadas, desenhar estampas e letras, ela ensina para as crianças como montar um “filtro de sonhos” – uma teia circular ornamentada com penas que filtra os sonhos bons e isola os maus, segundo a tradição indígena.

O acessório, pendurado na entrada das casas ou sobre o berço de bebês, pode se transformar em fonte de recursos para estudantes de baixa renda. Juliane se emociona ao lembrar a reação de estudantes que aprenderam a montar o “filtro de sonhos” na oficina. “Como professora, cabe a mim realizar esse processo de despertar bons sonhos nos jovens”, diz. "Eu acredito no poder emancipatório da arte".

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