Coluna English Corner, com Regina Baruki (*) e Lorena Duarte Santiago (*) em 29 de Outubro de 2021
Nesse cenário, há mais ou menos 10 meses, nos Estados Unidos, essa rede social começou a ser palco de um conflito geracional, cujas armas eram os memes (vídeos, imagens e até mesmo ideias engraçadas que viralizam na internet). Esse conflito espalhou-se para as demais redes e, pouco antes da metade de 2021, também começou a se popularizar no Brasil. Surgiram inúmeros vídeos de jovens fazendo piadas com os costumes da geração anterior, rotulando os comportamentos e gostos dos Millennials de cringe. Mas o que, ou quem são os Millennials? O grupo jovem também tem um nome? E o que significa essa palavra cringe, que tanto vemos na internet?
Nos anos 1950, houve grandes mudanças sociais nos Estados Unidos e na Europa, principalmente pela criação do conceito de juventude, que não era estabelecido até então. Com a prosperidade econômica e o fim da Segunda Guerra, as condições de vida melhoraram e o consumo aumentou. A adolescência passou a ser vivida com entusiasmo, influenciando diretamente na cultura e na economia.
Levando em conta esse poder de consumo da juventude, algumas denominações passaram a ser utilizadas para classificar gerações de épocas específicas, com o consequente mapeamento das características e da forma como esses grupos agem e consomem. O Pew Research Center (instituto americano) esclareceu que essa classificação também auxilia a entender como diferentes experiências de formação influenciam o ciclo da vida e a visão de mundo das pessoas. Há um consenso de que existem cinco gerações: Baby Boomers, X, Y, Z e Alpha.
No momento, iremos focar apenas nas gerações Y e Z. A geração Y refere-se aos que nasceram entre 1980 e 1996. Os integrantes desse grupo foram apelidados de millenials, pois eram crianças ou adolescentes durante a virada do millennium. A geração Z (1997-2010) é conhecida como Gen Z, abreviação de Generation Z. Também é conhecida como iGen, pois nasceu completamente cercada por aparelhos digitais. Os integrantes desse grupo são apelidados de Gen Z-ers ou Zoomers. Esse último termo ainda é controverso. Primeiramente, referia-se aos Baby Boomers, que continuam ativos e atualizados, misturando o Boomer (da época do boom de crescimento da natalidade nos EUA nos anos 1950) com o Z da geração mais atual. No entanto, devido à praticidade de se pronunciar Zoomer, invés de Gen Z-er, o termo tem se popularizado com essa geração.
Refletindo sobre isso, percebemos que os Millenials constituem uma geração mais adaptável que as anteriores e viu o mundo digital dar seus primeiros passos. Talvez seja por isso que houve o estranhamento entre essa geração e a Gen Z, que já nasceu autodidata em relação ao mundo digital. Para os Zoomers, muitas coisas da geração passada não fazem sentido e já estão defasadas. Então, eles resolveram expor seu estranhamento nas redes sociais. Usar emojis de risada, falar sobre pagar boletos e usar calças skinny são algumas das coisas que muitos Gen Z-ers acham cringe.
Mas o que significa cringe? O termo originou-se da palavra germânica krank, um adjetivo que significa ‘doente’. Nos países de língua inglesa, a palavra seguiu outro rumo. Segundo o Cambridge Academic Content Dictionary, cringe é o ato de retrair-se por medo, submissão, desgosto ou dor. No entanto, há alguns anos essa palavra virou uma slang, ou seja, uma gíria, e começou a ter outro sentido, sendo usada para falar de situações, pessoas e costumes que são ‘sem noção’, bregas ou ultrapassados. Existe até mesmo um subgênero de comédia chamado cringe comedy, em que a ação cômica está em uma situação constrangedora que não seria tão engraçada se acontecesse com você. Alguns exemplos são as séries Fleabag, The Office e Parks and Recreation.
Tanto no Brasil como em países de língua inglesa, cringe, agora, é muito utilizado na forma original, como adjetivo. Ele expressa o sentimento de se envergonhar por algo ou alguém. Um exemplo em frase seria: She's always sending us emojis, this is so cringe! (Ela está sempre nos enviando emojis, isso é tão cringe!).
Enfim, vemos que sempre haverá estranhamentos entre gerações. E as mais novas tentarão se desvincular das anteriores, renomeando objetos, procurando inovações e também brincando com a identidade das gerações consideradas obsoletas. Isso está acontecendo com os Millenials, mas logo também acontecerá com os Zoomers, que serão superados pela geração Alpha, e assim sucessivamente...
(*)Regina Baruki-Fonseca é Mestre em Letras Modernas Inglês (UFRJ) e Doutora em Educação (UFMS). É docente do Curso de Licenciatura em Letras, Habilitação Português/Inglês, Campus do Pantanal/UFMS.