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Títulos de telenovelas

Coluna English Corner, com Regina Baruki (*) e Naudir Carvalho (*) em 22 de Janeiro de 2021

Neste texto, tecemos alguns comentários sobre traduções de títulos de telenovelas. Na grande maioria, os exemplos elencados são de produções da Rede Globo.

Recentemente tivemos, no Brasil, dois casos de títulos de telenovelas em inglês: I Love Paraisópolis (2015) e Rock Story (2016-2017), ambas exibidas no horário das 19h. A primeira seria inicialmente intitulada I Love Marizete, devido ao nome da personagem principal e para fazer referência ao seriado I Love Lucy. Paraisópolis é um bairro paulistano onde se situava a história – uma escolha de intuito comercial. Rock Story, por sua vez, faz referência a Love Story (História de Amor).


Para serem divulgadas em outros países, os títulos das telenovelas são traduzidos, muito comumente, com adaptações, por vários motivos, entre os quais a dificuldade de se traduzir literalmente ou a necessidade de chamar a atenção para a trama. Ainda no tema de histórias de amor, Caminho das Índias (2009) teve o título traduzido por uma composição mais acessível, mais objetiva: India, A Love Story. Outro exemplo seria Amor à Vida (2013-2014), que teve o título mudado em inglês para Trail of Lies (Rastros de Mentiras).


A telenovela Malhação (iniciada em 1995), que há muito não se passa em uma Academia, foi intitulada Young Hearts (Jovens Corações). Sangue Bom (2013), cujo título vem de uma gíria brasileira, foi readaptada na tradução como Tangled Hearts (Corações Entrelaçados). Totalmente Demais (2015-2016) perdeu a referência à música de abertura e teve o título traduzido para Total Dreamer (Completa Sonhadora). Segundo Sol (2018) foi renomeada, no título em inglês, para A Second Chance (Uma Segunda Chance). O regionalismo presente no título de Êta Mundo Bom! (2016) teve que sofrer uma completa alteração no inglês: The Good Side of Life (O Lado Bom da Vida).


Pega Pega (2017-2018) não foi traduzida literalmente pelo termo Tag, que define a brincadeira, em inglês. Ficou The Big Catch (O Grande Roubo ou A Grande Captura). Bom Sucesso (2019-2020), por sua vez, não recebeu a tradução de Good Success, já que o título faz referência ao bairro carioca de Bonsucesso. A solução foi A Life Worth Living (Uma Vida que Vale a Pena), alinhada com a história vivenciada pelas personagens.


Cordel Encantado (2011) virou An Enchanted Tale (Um Conto Encantado), pois a arte do cordel é algo com que os brasileiros têm mais contato. O mesmo ocorreu com Sweet Diva (Doce Diva), que perdeu o duplo sentido do seu título original em português, A Dona do Pedaço (2019) – uma mulher imponente, que vende pedaços de bolo.


Claro, existem as traduções mais literais, que não requisitaram adaptações: Brazil Avenue (Avenida Brasil, 2012), Rising Sun (Sol Nascente, 2016-2017), The Ten Commandments (Os Dez Mandamentos, da RecordTV, 2015-2016), Shades of Sin (Da Cor do Pecado, 2004), dentre outras.


Como vimos nos exemplos selecionados, raramente é viável traduzir títulos ao pé da letra. O tradutor deve escolher frases/palavras que façam a devida referência ao enredo do texto original da telenovela, tentando não se distanciar da proposta do autor. O mesmo acontece com títulos e textos de filmes, livros, poesias... O profissional da tradução enfrenta situações muito curiosas, além de grandes desafios. Imaginem traduzir Guimarães Rosa, Manoel de Barros, ou mesmo novelas cheias de regionalismos e neologismos, como O Bem-Amado! O mesmo vale para as traduções de títulos e textos de filmes e livros etc. para o português, só para mencionar uma pequena parcela das áreas de atuação dos tradutores.


A constatação da relevância desse pequeno aspecto do trabalho de tradutores, por si só, já revela o aporte cultural exigido de todo ato tradutório. O tradutor, nas palavras de Paulo Rónai, húngaro que se naturalizou brasileiro e que atuou como tradutor, revisor, crítico e professor, desempenha o “ papel de aproximador de espíritos e povos”. Graças ao valoroso trabalho dos tradutores, temos acesso a todo tipo de obra, em qualquer língua, de qualquer lugar do mundo!  


(*) Regina Baruki-Fonseca é professora do Curso de Letras do CPAN. Tem Mestrado em Língua Inglesa pela UFRJ e Doutorado em Educação pela UFMS. 

(*) Naudir Ney Carvalho da Silva é acadêmico do Curso de Letras Português/Inglês do CPAN.