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Após reunião técnica, Governo da Bolívia mantém Censo para 2024

Leonardo Cabral em 09 de Novembro de 2022

Unitel TV

Reunião técnica realizada em Trinidad

Acabou sem consenso a reunião técnica iniciada na semana passada entre o governo do presidente Luiz Arce e os movimentos cívicos da Bolívia que lideram greve geral desde o dia 22 de outubro no departamento de Santa Cruz de la Sierra, cidade que fica distante 650 km da fronteira com Corumbá.

A linha internacional entre os dois países foi fechada pelos manifestantes bolivianos que exigem que o Censo Demográfico seja realizado em 2023 e não em 2024 como quer o governo federal. O porta-voz do governo, Jorge Richter, disse nesta quarta-feira, 09 de novembro, em La Paz, que após a mesa técnica em Trinidad, serão recebidas as recomendações para decretar a data do Censo Demográfico entre março e abril de 2024. 

Ainda de acordo com o porta-voz a data do Censo “será divulgada ao país em breve” por meio de decreto que dará forma legal aos acordos que ele afirma terem sido alcançados em Trinidad, argumentando que a  maioria das delegações ficou até o final das discussões.

De acordo com a Unitel TV, a delegação do Comitê Interinstitucional de Santa Cruz e das Prefeituras de Santa Cruz de la Sierra, La Paz e Tarija, deixaram a mesa técnica na noite de terça-feira (08), depois de denunciar que o Instituto Nacional de Estatística (INE) colocou obstáculos ao longo do processo de diálogo para aceitar um ajuste que permitia encurtar os prazos e convocar o Censo ainda em 2023.

"O governo nos trouxe para dizer que concordamos com suas atividades censitárias", disse Melvy Vargas, técnico da delegação de Santa Cruz. "Decidimos nos retirar porque não há como acontecer um acordo quando há ouvidos surdos", completou o técnico da Prefeitura de La Paz, Diego Chávez em relação ao que estava sendo direcionado pela mesa técnica.

Prejuízos

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Comércio sente reflexos da greve na Bolívia e fronteira completa 19 dias fechada

O fechamento pelo Paro Cívico da fronteira da Bolívia com Corumbá completou 19 dias nesta quarta-feira.  

Os impactos do protesto afetam a Bolívia e o Brasil em relação às exportações e importações, além do comércio de Corumbá, que devido a alta do dólar e o real desvalorizado, vinha recebendo grande movimento de consumidores bolivianos. 

“Aqui no meu estabelecimento, houve uma queda em torno de 20% desse público. O que representa a compra à vista, pois temos vendas no crediário e esse público é daqui mesmo, onde o movimento segue, pois tenho cerca de 10 mil clientes cadastrados”, disse Falastin Ady, dono de uma loja no centro da cidade.

Por outro lado, ele que também é proprietário de um posto de combustíveis, registrou aumento na movimentação. “Muitas pessoas que iam abastecer na Bolívia, hoje, com fronteira fechada, estão abastecendo aqui mesmo. Foi possível observar aumento de 10% nas vendas do posto”, disse. No lado boliviano o litro da gasolina é mais barato que o vendido no Brasil.

Janaina Bento da Silva, uma das proprietárias de uma loja de calçados e roupas, disse que o movimento também caiu, porém, há clientes da região que estão suprindo essa queda.

“É nítido que o movimento caiu, mais ainda tenho clientes locais e de outras regiões. Mas, os bolivianos mantêm um movimento bom para o nosso comércio. Aqui na loja, houve uma queda de 30% nas vendas para esse público, além disso, tenho mercadorias paradas aqui, que são reservadas, que alguns bolivianos compram por atacado para revender. Uma vez parada, perdemos nós, perdem eles, pois alguns já até pagaram pelo estoque, mas não conseguem vir fazer a retirada”, explicou Janaina ao Diário Corumbaense.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Loja de calçados no Centro viu movimento cair em 30%

A rede hoteleira também está sendo afetada, além de restaurante e supermercados. Gerente de um dos maiores hotéis de Corumbá, Luciane Toledo, falou que houve queda no movimento de reservas.

“Nós recebemos público de bolivianos que vem a passeio ou a negócios. Nesse período de fronteira fechada tivemos reservas canceladas e hóspedes com famílias que tiveram que prolongar a estadia porque não conseguiram cruzar a fronteira e seguir viagem”, mencionou.

A mobilização

De acordo com lideranças do Paro Cívico, o Censo Demográfico precisa ser realizado o quanto antes, pois o Estado de Santa Cruz de La Sierra e outros departamentos são os mais prejudicados, já que o último foi realizado em 2012 e de lá pra cá, muita coisa mudou.

Santa Cruz, conforme o ultimo Censo, tinha 2 milhões de habitantes, desde então, essa população cresceu, ainda mais com a migração de pessoas de outras cidades e departamentos da Bolívia, que optaram por viver lá. Como consequência, afeta diretamente no repasse de verba pública para investimentos, políticas sociais, que deveriam ser de acordo com o número de pessoas que vivem nos estados. Também afeta a representatividade política do departamento no Congresso boliviano. 

No início do Paro Cívico, houve conflito em Puerto Quijarro, na fronteira com Corumbá entre moradores contrários e apoiadores da paralisação. O funcionário da Prefeitura de Quijarro, Julio Pablo Taborga, morreu na confusão. Três homens foram detidos, acusados de envolvimento na morte e levados para Santa Cruz. 

Com o Censo em 2024 ratificado pelo Governo, ainda não se sabe qual caminho tomarão os líderes do movimento que mantém a fronteira fechada.