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O que leitores pensam de pronome neutro

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa (*) em 17 de Setembro de 2021

Caríssimos

Na edição nº 2653, de 20/08, deixamos uma questão aos leitores sobre um assunto que tem sido bastante discutido, atualmente, e em diversos espaços: o gênero neutro na língua portuguesa, nomeadamente o termo todes como variante da palavra todos. O pronome indefinido todos é de origem latina, e plural da expressão todo. Todos quer dizer  conjunto de coisas ou pessoas não especificadas ou determinadas, ou seja, a palavra indica um público geral, diverso, não definido, portanto, sem necessidade da criação de sinônimo ou de nova palavra que o defina na língua.

O artigo publicado pelo Diário Corumbaense foi compartilhado pela - Academia Feminina de Letras e Artes de MS, disponível em https://www.facebook.com/103212894481021/posts/383439229791718/, e alcançou mais de seiscentos leitores. Agradecemos a todos que aceitaram participar do debate sobre a proposta de inserção do gênero neutro no idioma. Na verdade, é bom lembrar que, em português, na maioria das vezes, o gênero é definido pelo artigo que acompanha a palavra, e não pela vogal temática.

Nessa esteira, há palavras terminadas em -a que são masculinas (poeta); outras terminadas em -e que são femininas (equipe) e outras, como mão, que são femininas, mas terminam com -o. Deste modo, o que se registra é que o português não aceita gênero neutro. O assunto, contudo, é controverso e tende a relativizar opiniões. Mas, no final, após lermos os comentários, vimos que a maioria dos leitores não está convencida se de fato a atitude para tornar mais respeitoso e democrático o idioma se resume na inclusão da palavra todes no vernáculo.

Vejamos algumas opiniões:

O assunto abordado é bastante interessante, uma vez que estamos presenciando novos termos na língua portuguesa, a fim de realizar a inclusão dos diferentes grupos existentes na nossa sociedade. Contudo, acho desnecessária essa introdução de novos termos para definir cada grupo, uma vez que já existe um termo que inclui todos (todas as pessoas).Gianni Aguiar.

Acredito que o fato de apenas um pequeno grupo utilizar a linguagem neutra faz com que ela não seja passível de inclusão na gramática oficial, além disso, a imposição acaba criando uma aversão a esse tipo de linguagem. Renata Opimi.

Concordo plenamente com as mudanças na língua, apenas não concordo com a escrita todxs com "x" para neutralizar, pois acaba com a acessibilidade das pessoas que utilizam a assistente de voz, muitas vezes, porque são analfabetas ou cegas. Hanielly Beatriz.

Sou da opinião que as mudanças na língua ocorrem, via de regra, de forma natural. A artificialidade do pronome neutro, por si só, como uma ideia exclusiva de um grupo, e tendo pouca aceitabilidade perante a comunidade, deve, com o passar dos anos, fazê-lo cair no esquecimento. Daniel Robbin.

À língua nada se impõe, as mudanças linguísticas ocorrem num processo evolutivo e natural. A meu ver, é forçar a barra querer que nos adaptemos ao "todos e todas", bem como ao "todex". Vanessa Ayala. 

Em minha humilde opinião de brasileira no estrangeiro, acho totalmente desnecessária essa introdução no nosso vocabulário, que, por sua vez, já é riquíssimo e variado. Digo de maneira bem popular que é pura "invenção de moda". Andyara Silva.

Acredito que essa ideia de possibilidade de neutralização dos pronomes tenha ganhado forças por conta da tecnologia, onde as informações se espalham rapidamente. Fora dessa realidade virtual, porém, em minha perspectiva, a ideia de neutralização não terá continuidade, sendo mais um modismo criado no campo virtual. Elizandra Kelly.  

Ressalta-se que esse assunto ganhou muita repercussão no estado, mas pouca aceitação, e, ao parar na Assembleia Legislativa, culminou no Projeto de Lei nº 212/2021, de 09/09, do Deputado Estadual Marcio Fernandes (MDB), que proíbe o uso do gênero neutro em escolas e concursos de MS.

Coisas da língua! Bom fim de semana.

(*) Rosangela Villa da Silva, Profa. Titular da UFMS, Mestre e Dra. em Linguística pela UNESP, com Pós-Doutorado em Sociolinguística pela Universidade de Coimbra/Portugal.