Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa em 14 de Maio de 2021
A Língua Portuguesa, como símbolo de identidade nacional, representa mais de 260 milhões de falantes do idioma espalhados pelo mundo, e aponta os brasileiros como os praticantes da variedade mais conhecida internacionalmente. Isso se deve ao grande contingente de brasileiros que a têm como língua materna, dos falantes da CPLP- Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e daqueles que a utilizam como segunda língua ou como língua de trabalho. Considerada como a última flor do Lácio, ou seja, a última das filhas do Latim, Olavo Bilac exalta de forma poética a história da nossa língua.
Pertencente ao conjunto das línguas neolatinas, assim como o Espanhol, Italiano,
Francês, Catalão, Romeno, Galego e Provençal, o Português integra a família das
línguas Indo-Europeias. Contudo, foi de Lácio, região central da Itália, que
tem Roma como principal cidade, de onde partiram os soldados romanos carregando
a variedade do latim que chegou à Península Ibérica e se tornou português, e se
espalhou para a África, o Oriente e a América, a partir das conquistas
marítimas dos portugueses, tornando-se língua oficial em suas colônias. Esse
latim, antes apenas um modesto dialeto de pastores, e sem rigor gramatical,
tornou-se, então, a Língua Portuguesa, a última flor do Lácio – pois ao mesmo
tempo que difundia a nova variedade da língua, por isso esplendor, também
registrava a última filha do latim vulgar, daí ser, igualmente, sepultura.
LÍNGUA
PORTUGUESA (Olavo
Bilac)
Última flor do Lácio,
inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e
sepultura:
Ouro nativo, que na ganga
impura
A bruta mina entre os
cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida
e obscura,
Tuba de alto clangor, lira
singela,
Que tens o trom e o silvo
da procela
E o arrolo da saudade e da
ternura!
Amo o teu viço agreste e o
teu aroma
De virgens selvas e de
oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso
idioma,
Em que da voz materna ouvi:
“Meu filho!”
E em que Camões chorou, no
exílio amargo,
O gênio sem ventura
e o amor sem brilho!
Coisas da língua! Bom fim de semana!
(*) Rosangela Villa da Silva, Profa. Titular da UFMS, Mestre e Dra. em Linguística pela UNESP, com Pós-Doutorado em Sociolinguística pela Universidade de Coimbra/Portugal.