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Competência linguística vs. Competência comunicativa

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 13 de Dezembro de 2019

Caros leitores

Desde muito cedo somos motivados a estudar para “falar bem” e se dar bem na vida. Uma coisa parece estar ligada à outra. Contudo, nem sempre, possuir o mais alto nível escolar significa ter competência comunicativa. Devemos nos atentar para o fato de que falar bem não é falar bonito, mas sim saber adequar corretamente termos e paradigmas aos diferentes contextos de comunicação e interlocutores para promover a competência comunicativa.

Sabemos que a língua portuguesa é uma poderosa ferramenta de comunicação, sendo o português falado no Brasil a variedade mais conhecida internacionalmente. Tal fato é motivo de grande orgulho e dá prestígio aos quase 300 milhões de falantes do português espalhados pelo mundo, brasileiros e estrangeiros. Contudo, ressaltamos que falar bem não quer dizer falar bonito, mas apresentar competência linguística para viabilizar a interação por meio da linguagem falada ou escrita.

E, para isso, não basta ter todo o conhecimento adquirido sobre a gramática, mas se tornar capaz de adequar o seu repertório e suas construções sintáticas às diferentes situações e contextos conversacionais, quer seja, na forma coloquial ou em situações formais de monitoramento de uso da língua, como em discursos de formatura ou de posse. Segundo Silva et al. (2009), a língua não é só um instrumento de interação social entre os indivíduos de uma sociedade, um instrumento de comunicação, mas um meio capaz de transmitir informações sobre o falante.

E, partindo do conceito que somos diferentes socialmente, é preciso entender e respeitar a correlação entre o uso que o falante faz do português aos fatores sociais aos quais está condicionado, dentre eles, o grupo social a que pertence, faixa etária e nível de escolarização que possui. Assim, o estudo da língua não pode ser concebido sem o estudo da sociedade na qual os grupos de falantes encontram-se insertos. Devido à experiência que tiveram anteriormente na escola, talvez vocês tenham pensado durante todos esses anos que a língua venha pronta e acabada, num pacote fechado, nos invólucros denominados dicionários ou gramáticas tradicionais.

Sendo assim, estudá-la em suas partes constitutivas bastaria para vocês se tornarem peritos na língua. Mas já perceberam que isso não é verdade, pois a língua é um processo coletivo, social em ininterrupto fazer e refazer, portanto, inacabada. E é com esse conceito que devemos pensar a língua portuguesa, num constante processo de variação e de mudança.

Se compreendermos esse contexto evolutivo da língua, notaremos que o leito em que ela nasce, dorme e cresce, é natural. Alguém pode interromper o crescimento de um ser humano sem se atentar contra a vida dele? Da mesma forma ocorre com a língua. Toda língua sofre variação e mudança no curso da sua história e ninguém pode impedir a sua evolução. Exemplo disso, é a palavra você que já foi vosmecê; e a palavra menina, que também pode ser criança, garota, guria, mina, miúda e cachopa (comum em Portugal), moleca, fedelha e pirralha (variante com pouco prestígio social). É preciso, portanto, adequar paradigmas para viabilizar a competência comunicativa. Coisas da língua. Até a próxima.

(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.