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"Estamos convivendo com uma tragédia anunciada", dizem vizinhos do Edifício Anache

Leonardo Cabral em 10 de Dezembro de 2019

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Cine Anache, como é conhecido o edifício, foi interditado pela Justiça em 2011

Uma tragédia anunciada. É com esse sentimento de medo que vizinhos do Edifício Farjalla Anache, conhecido como “Cine Anache”, localizado na rua Delamare, entre as ruas Quinze de Novembro e Sete de Setembro, no Centro de Corumbá, estão vivendo nos últimos meses.

O prédio que por anos abrigou o Cine Anache, e que é datado de 1959, fazendo parte do patrimônio histórico de Corumbá, foi interditado em 2011, pela Justiça e desde então, está com as portas fechadas.

Moradores que vivem nas proximidades procuraram o Diário Corumbaense para denunciar as condições precárias do prédio. Alguns, até se mudaram do local, por não se sentirem seguros, devido à janelas, pedaços de ferro e até vidraças que caem dos andares que são habitados apenas por pombos.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Família de Jordan Pereira teve que se mudar por causa da queda de vidros e pedaços de janelas

A falta de manutenção e o descaso tornam o edifício como uma “arma” contra a segurança, de acordo com os moradores. Jordan Pereira, que vive com a família em imóvel alugado, diz que fica praticamente na “mira” dos estilhaços e até de animais mortos. “É uma tragédia anunciada”, afirma.

“Há dois anos moro com meus pais aqui na casa ao lado do prédio e de alguns meses pra cá ficou impossível viver com tranquilidade. A situação piora quando venta, pois é aí que mora o perigo. Pedaços de vidro caem na calçada, dentro de casa. É só ventar com pouco mais de intensidade que os vidros desabam, sem contar os pedaços de madeira e ferro das janelas que estão penduradas e que acabam sendo um risco para nós e para quem passa na frente do prédio”, disse.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Jordan mostra pedaços de vidro caídos na calçada

Por conta da situação, a família não teve outra solução a não ser deixar a casa, pelo sentimento de medo. “Vivemos aqui com medo, pois já imaginou essas vidraças que caem atingirem eu, meu pai, mãe e irmão? Por isso, meus pais tomaram a decisão de deixar a casa e nos mudarmos para uma residência mais segura. Até mesmo animais mortos, que caem do edifício, como pombos, já retirei do telhado da minha casa. O odor era insuportável”, revelou o jovem.

Preocupado também com a situação, o morador Herick Sammer Santos, que vive com a esposa e um cachorro, em uma casa nos fundos de um estacionamento privado, onde também trabalha, falou que é constante a queda de vidros das janelas.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Herick Sammer, mora nos fundos do prédio e disse que no local de trabalho, cliente quase foi atingido pelos estilhaços de vidro

“Se bater vento aqui os vidros caem tanto na casa do vizinho, como aqui no estacionamento. As janelas, portas, batem com o vento que dá e isso gera preocupação para nós que vivemos aqui. Há alguns dias, um cliente que veio deixar o carro no estacionamento, ao sair, quase foi atingido pelos vidros que caíram. Ele chegou, guardou o veículo e ao sair, pedaços de vidros caíram do edifício e por muita sorte, ele não foi atingido nas costas. Fica perigoso tanto para quem vive aqui e para quem passa pela frente do prédio”, relatou Herick que mostrou os pedaços de vidros espalhados pela área do estacionamento. “Na minha casa não caiu, mas aqui cai com muita frequência”, afirma.

Ainda segundo os moradores, o local além de oferecer risco à segurança deles, acaba servindo de abrigo para moradores de rua, boa parte, usuários de drogas. Mesmo com cadeados nas portas da frente, o prédio tem muito lixo, além de forte odor de urina e fezes na fachada.

Interditado desde 2011

O prédio foi interditado em 2011 pela Justiça de Corumbá e a reabertura só ocorreria após obras de reforma e apresentação de laudos técnicos atestando a segurança e condições de moradia do local, cabendo aos condôminos a execução das reformas necessárias.

A medida foi tomada após análise de laudos do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), que fizeram parte do processo.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Estrutura das janelas são a grande preocupação dos moradores que vivem no local

Também, em 2009, o Crea-MS realizou vistoria no prédio e constatou que a evacuação do Edifício Anache e a reforma eram medidas imediatas, de modo a garantir a segurança dos moradores e de toda a área de entorno.

Audiência Pública

Uma audiência pública, convocada pelo juiz de direito, Maurício Cleber Miglioranzi Santos, da 1ª Vara Cível da Comarca de Corumbá, vai ser realizada na próxima quinta-feira, 12 de dezembro.

Estão convocados para a audiência pública, todos os proprietários de apartamento, salas comerciais no Edifício Farjalla Anache, que deverão comparecer munidos de documentação hábil e válido de identificação civil com foto, para procedimentos de credenciamento, e assinatura de lista de presença.

A audiência terá início às 13h30, no Fórum de Corumbá, porém, os proprietários deverão comparecer ao local do evento uma hora antes do seu início, ou seja, às 12h30.

A audiência pública tem como finalidade, deliberar sobre: a alienação do Edifício Farjalla Anache; desapropriação do prédio; restauração e qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos proprietários desde que atenda a proteção cultural atribuída ao prédio.