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Um olhar sobre a redação do Enem 2019

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 08 de Novembro de 2019

Caros leitores

É certo que o cinema é um marco da civilização moderna, considerado como a sétima Arte, e teve a sua primeira exibição de filmes em 1895, na Europa, precisamente em Paris, sendo os irmãos Lumière seus precursores. O termo Sétima Arte surgiu em 1911 com o italiano Ricciotto Canudo, crítico de cinema, no Manifesto das Sete Artes, publicado em 1923. Nesse contexto, o cinema foi antecedido pela música, dança, pintura, escultura, literatura e teatro. No manifesto, Canudo tenta afastar a ideia de que o cinema era um espetáculo para a massa e busca integrá-lo à categoria das Belas Artes, pois, para ele, o cinema constitui uma arte “síntese”, que concilia todas as outras.

Sendo o cinema uma das formas de compreender a sociedade, este se concretiza como a realidade em movimento ou movie, na língua inglesa. Do cinema mudo aos magníficos efeitos especiais contemporâneos, que tornam os fatos mais reais na telona, a sétima arte continua inacessível a mais de um terço da população brasileira, e o tema da redação do Enem 2019 nos leva a refletir sobre essa questão. Convém registrar que a proposta do Enem de democratizar o acesso ao cinema no Brasil é atual e necessária, pois não podemos conceber uma sociedade brasileira exclusivista que marginaliza centenas de milhares de pessoas privando-as de beber do conhecimento cultural, histórico, artístico, literário, dentre outros, que o cinema proporciona. Bens imateriais como esses deveriam estar ao alcance de todos.

Assim, se você associou a democratização do cinema ao ganho de conhecimento cultural histórico, literário, linguístico, artístico etc., com certeza começou a prova com uma das formas de abordagem possível. No Brasil, diante dos dados do cinemapertodevocê.ancine.gov.br (texto de apoio da prova), que comprovam a baixa acessibilidade a esse tipo de diversão, é importante também citar alguns fatores que promovem esse cenário, como, por exemplo, o pouco investimento na construção de salas de exibição independentes nas cidades do interior, vinculação do lazer a shoppings concentrados em cidades de médio e grande porte e nas capitais, somados à expansão e preço acessível de empresas, como a TV por assinatura, Netflix, YouTube, dentre outras, que disponibilizam quase em tempo real os grandes lançamentos cinematográficos, e as pessoas podem assistir no conforto de seus lares.

Por outro lado, algumas ações que poderiam democratizar o acesso, para além de investimento do governo, e de segmentos sociais como ONGS, escolas e do terceiro setor, seria investir na popularização do cinema por meio da oferta de exibição de filmes a preços baixos ou gratuitamente, que levem a arte até as pessoas em tendas montadas em praça pública, em escolas e ginásios, assim, o acesso poderá chegar até o povo que vive nos bairros das grandes cidades e no interior do país; ampliar o bom exemplo do Sesc, que exibe filmes nacionais e estrangeiros gratuitamente em salas modestas de cidades do interior, aos pequenos, médios e grandes cinemas de cidades e de shoppings, a preços promocionais e meia entrada também em horários nobres e em todos os dias da semana.

Ao concluir o texto, é possível colocar na proposta de intervenção a tão praticada articulação entre governo, ONGS, mídia, família e sociedade, sem esquecer a Lei Rouanet e as políticas da Ancine, para embasar as questões das políticas públicas, na promoção do acesso ao cinema, desde que haja objetivo específico e coerência na execução da ação proposta e entre os agentes envolvidos na tarefa. Continuamos torcendo por você!!

(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.