PUBLICIDADE

Primavera

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 27 de Setembro de 2019

Caros leitores

É tempo de primavera, a estação mais aguardada, e cujo período é associado ao reflorescimento da flora terrestre. Conhecida como primavera austral no Hemisfério Sul e Primavera Boreal no Hemisfério Norte, o idílico percurso da natureza rumo ao verão é marcado por uma beleza ímpar e por um estado de espírito único nas pessoas. Nesse momento, quando florescem os ipês no Pantanal, também nos orgulha comemorar mais um aniversário de nossa cidade. Assim, reverenciar a Deus pela chuva de ontem é compor, naturalmente, um hino de amor e de gratidão. Em meio a essa profusão de cores, a primavera desperta em nós uma imensidão de sentimentos.

Lembramos, então, do poema Primaveras, um dos mais expressivos dessa estação, composto pelo poeta brasileiro da segunda geração do Romantismo, Casimiro de Abreu, em seu único livro de poesias, publicado em 1859, com o título de As primaveras. O poema Primaveras, que reproduzimos a seguir, se divide em duas partes, revelando o lirismo ingênuo, característico da obra desse autor, e sugerindo uma metáfora com a própria primavera da vida.

Primaveras I “A primavera é a estação dos risos, Deus fita o mundo com celeste afago,/ Tremem as folhas e palpita o lago/ Da brisa louca aos amorosos frisos./ Na primavera tudo é viço e gala,/ Trinam as aves a canção de amores, / E doce e bela no tapiz das flores/ Melhor perfume a violeta exala. Na primavera tudo é riso e festa,/ Brotam aromas do vergel florido,/ E o ramo verde de manhã colhido/ Enfeita a fronte da aldeã modesta. A natureza se desperta rindo,/ Um hino imenso a criação modula,/ Canta a calhandra, a juriti arrula,/ O mar é calmo porque o céu é lindo. Alegre e verde se balança o galho,/ Suspira a fonte na linguagem meiga,/ Murmura a brisa: - Como é linda a veiga! Responde a rosa: - Como é doce o orvalho!”II “Mas como às vezes sob o céu sereno / Corre uma nuvem que a tormenta guia / Também a lira alguma vez sombria / Solta gemendo de amargura um treno. São flores murchas; - o jasmim fenece, / Mas bafejado s’erguerá de novo / Bem como o galho do gentil renovo / Durante a noite, quando o orvalho desce. Se um canto amargo de ironia cheio / Treme nos lábios do cantor mancebo, / Em breve a virgem do seu casto enlevo / Dá-lhe um sorriso e lhe entumece o seio. Na primavera - na manhã da vida - Deus às tristezas o sorriso enlaça, E a tempestade se dissipa e passa / À voz mimosa da mulher querida. Na mocidade, na estação fogosa, / Ama-se a vida - mocidade é crença, E alma virgem nessa festa imensa / Canta, palpita, s’extasia e goza”.

Sob a magia dessas palavras, desejamos uma ótima primavera a todos!

(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.