Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 16 de Agosto de 2019
No âmbito da variação da linguagem, fato comum em qualquer
língua falada na Terra, assunto discutido por nós nesta coluna, é importante
observar que nem toda forma de pronúncia ou de palavras com o mesmo significado
poderão culminar em mudanças no idioma. As mudanças são
consagradas após o aval da Academia Brasileira de Letras, como se deu com o
último AO-Acordo Ortográfico, de 1990, e que entrou em vigor no Brasil no dia 1
de janeiro de 2016.
A partir disso, é que passamos a utilizar as mudanças
autorizadas e a escrever os novos vocábulos incorporados ao acervo da língua.
As novas palavras poderão, assim, se estabelecer por neologismo, que cria ou
adapta vocábulos para o português, como, deletar; ou por estrangeirismo, que
inclui uma palavra ou expressão de outra língua em nosso vocabulário, como,
delivery.
Contudo, mudanças reais no idioma só acontecem após um longo
processo, pois esbarram em múltiplos fatores sociais que as facilitam ou
retardam. Toda mudança passa por vários estágios, dentre eles, o grau de compreensão e a facilidade de pronunciar a nova palavra, o que pode determinar o nível de prestígio do termo. Segundo Labov (2008), linguista norte-americano e precursor dos estudos sociolinguísticos, em sua pesquisa na Ilha Martha's Vineyard, foi possível mensurar a resistência da comunidade tradicional em adotar uma nova forma de pronunciar um traço da língua, e a disposição dos mais jovens pela mudança.
Esse assunto nos remete as diferentes formas de pronunciar o
/S/ em Corumbá, dois, doix, dox, ou de não o pronunciar
meØmo, as casaØ. Será que daqui a algumas décadas ou século a pronúncia do s
chiado, esse marcador de status regional, será absoluta na comunidade?
Labov postula que o prestígio da nova forma pode promover ou não mudanças. Ele
explica o que classificou na linguagem de mudança vinda de cima e de mudança
vinda de baixo. No primeiro caso, a pronúncia não apresenta nenhum padrão de
variação estilística na fala daqueles que a usam, sendo um indicador definido
como uma função de pertencimento ao grupo.
Esse tipo de mudança parece refletir a situação da pronúncia
do s, em Corumbá. No segundo caso,
se a mudança tiver se originado no grupo de maior status da comunidade, ela se
tornará um modelo de prestígio para a comunidade. A palavra resultante de
mudança é, então, adotada nas formas mais cuidadas de fala por todos os outros
grupos, na proporção de seu contato com usuários do modelo de prestígio e, em
menor medida, na fala casual.
Nessas observações, concordamos com o autor, encontramos algum suporte para a ideia de que as pessoas não tomam empréstimos na linguagem dos meios de comunicação ou de outras fontes, mas daqueles que estão distantes delas no máximo uma ou duas unidades na faixa etária ou na escala social. Coisas da língua! Até a próxima.
(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.