Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 09 de Agosto de 2019
Variação linguística é um fenômeno comum em toda e qualquer
língua falada e escrita. Contudo, mudanças reais no idioma só acontecem após um
longo e demorado processo, e toda mudança pressupõe variação anterior. Sendo
assim, o percurso para uma mudança linguística passa antes e necessariamente
pela difusão, pelo uso e pela adoção de uma nova palavra pela sociedade ou pela
alteração do jeito de escrever, que também poderá mudar a pronúncia uma palavra
já existente, mas sem alterar o seu significado. Podemos descrever esse
processo do seguinte modo: uma ou mais formas de dizer a mesma coisa ganha
espaço entre os falantes.
Nesse contexto, a forma concorrente, também chamada
inovadora, “disputa” com a forma convencional a preferência dos falantes, até
que, com o tempo, ela passa a ser a mais utilizada e ganha status de padrão,
substituindo amplamente a forma anterior que cai em desuso e se torna arcaica,
embora não desaparece totalmente da língua, passando “a morar na periferia” do
nosso acervo. Se, por outro lado, a forma inovadora se revelar, com o tempo, de
pouco prestígio, como acontece com as gírias, a população perde o interesse em
usá-la e ela tende a desaparecer ou a ser usada por um grupo restrito.
Nessa esteira, podemos dar como exemplo as expressões nós e a
gente com significado de primeira pessoa do plural: nós vamos, a gente vai.
Nesse caso, o falante terá que flexionar o verbo ao optar por uma ou outra
maneira de fala. Sendo assim, não poderá dizer e muito menos escrever “a gente
vamos”, mas, sim, a gente vai. E também não deverá dizer ou escrever “nós vai”,
ao invés de dizer nós vamos. Sendo as expressões nós vai e a gente vamos
fortemente estigmatizadas, elas só poderão ser utilizadas em contextos
informais de comunicação, sendo aceitáveis, se partirem de interlocutores que
possuem baixo ou nenhum nível de escolarização. Ou seja, por não terem
frequentado a escola e, dessa forma, desconhecerem as regras do português
padrão.
Nessa situação, é preciso compreender a escolha do falante e respeitá-lo. Assim, a partir do exemplo dado e considerando a atitude das pessoas sobre o uso das formas não padrão, é possível que essa variação não opere mudança. Nesse sentido, na escola, os professores devem ensinar a língua da escola, e explicar para os alunos a importância de eles aprenderem e praticarem o português padrão, principalmente em ambientes em que a linguagem deve ser monitorada, pois é por meio do modelo gramatical que eles serão avaliados no percurso de sua vida estudantil e profissional, quer seja no momento de concorrer a uma vaga na universidade, a um emprego ou de fazer um concurso. Até a próxima.
(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.