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É para mim fazer ou para eu fazer?

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 02 de Agosto de 2019

Caros leitores

O uso dos pronomes mim e eu continua causando dúvidas nas pessoas. Muitas dizem que tanto faz uma ou outra forma, pois o que importa mesmo é a eficiência do ato comunicativo, sendo assim, é como dizer peixe ou pexe, cadarço ou cardaço, pois o significado não muda. No entanto, é importante aos professores de português ensinar as regras da escrita, mas sem pressão, mostrando que sempre temos mais de um jeito de dizer a mesma coisa. É necessário ensinar aos alunos que, na fala, a pessoa tem à sua disposição recursos, como gestos, olhares etc, que facilitam a compreensão, na escrita nada disso é possível.

Portanto, é natural que as regras da gramática sejam aplicadas para tornar a mensagem escrita coerente e mais compreensível. No caso do uso dos pronomes do título, conforme vimos em Simka (1996), antes de um verbo que esteja no infinitivo, que é a forma nominal do verbo, terminada em r (fazer, amar, abrir etc), devemos utilizar o pronome pessoal reto eu, que funciona como o sujeito do verbo, como em: A professora de literatura deu um livro para eu ler. Quando, porém, não houver verbo no infinitivo, empregamos o pronome pessoal oblíquo mim: A professora de literatura deu um livro para mim.

É possível observar que o uso de mim parece estar generalizado na fala das pessoas, independente de classe socioeconômica e cultural. Bagno (2003) nos recorda que em 1872, no livro Inocência, de Visconde de Taunay, um dos personagens disse “para mim atalhar” indicando que esse tipo de construção é mais antigo na língua do que supomos, e que, quando surge na escrita, só comprova que na fala o uso está consolidado. Bagno alerta que seria muito mais interessante se, em sala de aula, a gente pudesse explicar as coisas assim: chamar a atenção dos alunos para a complexidade dos fenômenos da língua em vez de ter um ataque histérico sempre que um deles disser “para mim fazer”, e enfatizar que existem regras de uma outra gramática, que não é a normativa tradicional, mas que tem lógica e seu valor social.

Se para mim fazer sofre preconceito, é considerado erro, é estigmatizado, e a construção para eu fazer goza de prestígio e abre portas, isso deve ser ensinado aos alunos, pois corroborando com o autor, o que não podemos permitir é que o desconhecimento seja usado contra eles no processo perverso de exclusão social baseada no preconceito linguístico. Até a próxima.

(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.