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Leitura em crise na escola

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 31 de Maio de 2019

Caros leitores

O lugar da leitura como decodificação da escrita e de interpretação de texto data de décadas. Nesse contexto, uma investigação bibliográfica traz à tona várias concepções de língua, texto, leitura e aprendizagem decorrentes de posições teórico-metodológicas distintas, que se estendem desde uma ideia mecanicista até proposições mais recentes (construtivista, psicolinguística, interacionista, sociopsicolinguística, textual, discursiva), conforme constatado por Braggio (1992) e Giasson (1993).

A leitura já foi concebida como um processo de aquisição de habilidades para ler em voz alta (dominar pronúncia, entonação, pausas, junturas) para quem não soubesse ou não fosse capaz de ler (BAJARD, 2001). Assim, na opinião tradicional, a leitura é vista como um conjunto de habilidades específicas e sucessivas, que se iniciam com o processo de decodificação da escrita e se estendem até a identificação das ideias principais do texto.

Em meados de 1950, entretanto, quando o comportamentalismo começava a ser contestado, a psicologia cognitiva assume papel de destaque nos estudos sobre os processos de aprendizagem, postulando que isso resultaria da interação entre o ambiente e algumas estruturas cognitivas pré-existentes no indivíduo. Já nos anos 1960, as relações entre sociolinguistas e psicólogos se ampliam, dando origem a um primeiro modelo interacionista de leitura/escrita. E, em 1970, a construção do significado no texto forma-se como “produto da interação leitor-texto”, resultando num modelo sociopsicolinguístico segundo o qual o ponto de partida e de chegada é o contexto da linguagem, ao qual o leitor aplica seus esquemas mentais e suas estratégias cognitivas, passando a agir na construção do significado (GOMES et al., 2010).

Entretanto, para que essa habilidade seja criada, é fundamental que sejam estabelecidos os objetivos da leitura, que poderão ser: ler por prazer, ler para compreender, ler para resumir, ler para interpretar ou criticar, ler para produzir outro texto. Dessa forma,  a leitura deve partir de uma necessidade específica para se chegar a um objetivo. Do contrário, será como muitas que ocorrem na escola, uma leitura sem motivação que não conduz à aprendizagem, quando o professor manda ler sem explicar a razão, tornando o ato puramente mecânico, distante de significado e de sentido.

A leitura deve ser analítica, crítica e funcional, ou continuará naufragando na escola. Por outro lado, o professor que lida com literatura, leitura e expressão escrita não deve apenas cobrar competência dos alunos, antes, é preciso ensiná-los a se interessarem pelo ato de ler, motivá-los e sugerir leituras apropriadas a todas as faixas etárias e séries, no âmbito da sala de aula e do espaço escolar, mostrando-lhes os múltiplos objetivos a que a leitura poderá levá-los, principalmente despertando neles o prazer de ler!  Bom fim de semana.

(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.