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Sindicato Rural de Corumbá contesta relatório do MP sobre incêndios no Pantanal

Da Redação com assessoria de imprensa em 12 de Abril de 2021

Edemir Rodrigues/Governo do Estado

Entidade sindical diz que comunidade que está no Pantanal há mais de 200 anos já provou ser conservacionista

O relatório do Ministério Público (MP) sobre os efeitos da seca e dos incêndios florestais no Pantanal que causaram grande impacto socioambiental e econômico, em 2020, divulgado em 05 de abril, configura um total desconhecimento da região ou má fé do corpo técnico que o elaborou. São conclusões desconexas com a realidade e o complexo ambiente do bioma, com objetivo claro de condenar previamente o homem pantaneiro e o setor produtivo.

Esta é a posição do Sindicato Rural de Corumbá, maior município pantaneiro (44,73% da área de planície, onde se encontram mais de 1.800 propriedades e um rebanho bovino de 1,9 milhão de animais). A entidade repudia a informação divulgada nas redes sociais  e imprensa pelos MPs federal e estadual, segundo a qual “quase 60% dos focos de incêndios no Pantanal têm probabilidade de ligação com atividades agropastoris”.


“Uma conclusão sem embasamento criterioso e cheia de meias verdades, insinuações perigosas e desprovidas de elementos técnicos capazes de sustentar uma querela sem fundamentos, cujas impropriedades, absurdas, são motivadas pela ideologia que está liderando a campanha injuriosa contra os produtores rurais do Pantanal”, aponta o sindicato. “Uma campanha que busca desvalorizar uma atividade econômica do Pantanal totalmente sustentável.”


Para o presidente da entidade, Luciano Aguilar Leite, esse movimento difamatório contrapõe a imagem que se tem mundialmente do Pantanal de um ecossistema único e preservado, lugar de uma natureza intocada e incomparável. “Se o Pantanal é uma maravilha, ocorreu por acaso? Se está conservado, foi conservado por nós, pantaneiros. Por uma comunidade que está ali há mais de 200 anos e provou ser conservacionista”, declarou.


Crime contra o pantaneiro


O relatório produzido pela equipe de geoprocessamento do MP e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro omite os grandes incêndios florestais que se originaram nas unidades de conservação existentes no bioma, como o Parque Nacional e o Sesc Pantanal, ambos em Poconé (MT), e nas reservas, as RPPNs, ao longo da Serra do Amolar. Cita que o fogo se iniciou apenas em uma área: o Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, em Aquidauana.


O documento acusa que a maioria dos focos de calor (“286 pontos de ignição”) foram identificados em fazendas. Para o Sindicato Rural de Corumbá trata-se de uma descoberta que nada acrescenta, investigação banal. Mais de 90% do Pantanal é ocupado há séculos por pequenas, médias e grandes propriedades rurais. A conclusão do “estudo” diz ainda que o fogo atingiu áreas de pastagem - se esta é uma das características naturais do Pantanal.


“O propósito dessas inverdades, nós sabemos qual é; convivemos há anos com uma bem aplicada lavagem cerebral arquitetada por esse ambientalismo colonialista, que nos levará ao abismo econômico e social”, afirma Manoel Martins de Almeida, tradicional pantaneiro do Paiaguás. “De forma leviana e covarde, um verdadeiro complô, querem fazer a sociedade acreditar que somos bandidos. Estão cometendo um crime contra o pantaneiro”, sustenta.


Para os pantaneiros, o programa lançado pelo Ministério Público, “Pantanal em Alerta (?)”, que tem a pretensão de impor e estabelecer condutas aos proprietários rurais na prevenção ao fogo, terá como único resultado criar um clima de terror, de intimidação ao produtores; transferir obrigações e promover a criação de  um cenário para outros grandes incêndios. “É inviável responsabilizar o produtor, não temos estrutura, nem recursos”, rebate Luciano Leite.


Fogo atingiu áreas sem o boi


As conclusões do relatório do MP, segundo o Sindicato Rural de Corumbá, são um poço de inverdades e incoerências em confronto com dados científicos elaborados pela Embrapa Pantanal. A propagação dos incêndios, na realidade, está fortemente associada às condições climáticas, relatam os pesquisadores Balbina Marina Soriano e Marcelo Gonçalves Narciso, somada a ocorrência de um grande mosaico de fitofisionomias no ambiente que favorece a disseminação do fogo.


Ainda segundo a Embrapa Pantanal, tal situação (fogo descontrolado) pode ser minimizada com a presença do boi no pasto - daí a expressão “boi bombeiro” -, cuja função de pastejamento reduz a concentração de material orgânico, comprovada e reconhecida pelo órgão federal. “O boi é elemento fundamental do equilíbrio nos locais de pastagens nativas e de cerrados, a falta do bovino aumenta a probabilidade de incêndios e acarreta grandes prejuízos”, citam os pesquisadores Urbano Gomes Pinto, José Anibal Comastri e Balbina Soriano.


As notas técnicas da Embrapa Pantanal vêm ao encontro da triste realidade vivenciada no ano passado, quando mais de 4 milhões de hectares do ecossistema foram destruídos, segundo informações oficiais. O Sindicato Rural reforça que o corredor de fogo, que ocorre em todo ano de seca na região, desta vez subiu margeando os principais rios no sentido Norte, cujas áreas há décadas estão abandonadas, sem exploração pecuária, ou ocupadas por comunidades ribeirinhas e quilombolas e reservas.


Estudos do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), em 2020, também contrariam o relatório do MP. Os incêndios foram provocados por uma seca e calor extremos, cujas consequências estão relacionadas às mudanças climáticas e à crise hídrica que atingiu a região Sudeste, em 2014-2015. “As longas estiagens, a partir de 2019, e temperaturas cada vez mais elevadas, foram a combinação para deixar um terreno propício à primeira faísca”, diz José Marengo, coordenador da pesquisa.

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