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Um ano após conflito, bolivianos voltam às urnas para escolha do novo presidente

Leonardo Cabral em 18 de Outubro de 2020

Diário Corumbaense

Fronteira entre Corumbá e Bolívia foi fechada do lado do país andino

A fronteira da Bolívia com Corumbá amanheceu fechada neste domingo, 18 de outubro, por causa das Eleições Gerais no país andino. Os bolivianos voltaram às urnas para a escolha do presidente, vice-presidente, deputados e senadores, após a tumultuada disputa de outubro de 2019, que gerou protestos e mortes em todo território boliviano por 21 dias e culminou com a renúncia de Evo Morales, hoje exilado na Argentina. 

Na linha internacional que separa Corumbá das cidades bolivianas de Arroyo Concepción, Puerto Quijarro e Puerto Suárez, o fluxo de pedestres foi intenso porque muitos bolivianos que moram no território brasileiro cruzaram a ponte para votar. Alguns carros foram colocados na pista para impedir o tráfego,  sendo que em território boliviano, como previsto em lei, a circulação de veículos é proibida, apenas os autorizados podiam trafegar.

Já do lado de Corumbá, o local de votação foi a sede do Consulado da Bolívia, localizado na rua Sete de Setembro, entre a Avenida General Rondon e Delamare. Já nas primeiras horas da manhã, bolivianos aguardavam na fila o início da votação.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Viviana disse que momento é importante e que espera uma "nova" Bolívia daqui pra frente

Viviana Flores disse ao Diário Corumbaense que fez questão de vir logo cedo, pois espera dessas eleições presidenciais, uma nova história para o seu país.

“Depois das eleições conturbadas, assim, como foram os últimos meses para a nossa querida Bolívia, muitas famílias sofreram, esse momento é importante, pois vamos eleger os nossos representantes. Fiz questão de estar aqui para exercer meu papel de cidadã e ajudar meu país a se levantar”, falou Viviana que mora em Corumbá há oito anos.

Orgulhosa na fila, aguardando o momento de votar, Yolanda Severiche, disse que o seu voto é em pensamento para uma Bolívia melhor.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Yolanda Severiche foi logo pela manhã votar

“Tenho família lá e penso também na população em geral que tanto sofreu nesses últimos meses e ainda mais depois das eleições passadas, que foram canceladas. Mesmo com 63 anos, faço questão de estar aqui, para depositar meu voto e ajudar a melhorar a situação de vida dessas pessoas e da própria Bolívia como um todo”, falou.

Fazendo o caminho inverso, Jeanine Ulloa Vespa, que mora em Corumbá, faz questão de votar na cidade de Puerto Quijarro. Ela enfatiza o momento como patriótico.

“É uma escolha minha atravessar a fronteira e votar na Bolívia. Estou aqui para ajudar a eleger os nossos representantes. Que os eleitos possam governar e fazer uma Bolívia mais justa para seu povo”, declarou Janine. “Estamos vivendo um momento histórico e importante”, completou.  

Ao todo, em Corumbá, foram 210 bolivianos aptos a votar. Esses estrangeiros que vivem em solo pantaneiro fazem parte dos 7.332.925 bolivianos habilitados a votar neste domingo.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Cônsul do país andino, em Corumbá, Enrique Gonzáles Antelo

O cônsul do país andino, em Corumbá, Enrique Gonzáles Antelo, destacou o dia como importante para toda a população boliviana. “Tivemos que improvisar a sede do consulado, para que pudéssemos fazer dele, um local de votação, seguindo todas as medidas de segurança contra o novo coronavírus. Esperamos que tenhamos um dia tranquilo e que possamos escolher bem os nossos representantes”, mencionou o cônsul a este Diário.

Os eleitores usavam máscaras e passavam por uma câmara de desinfecção, instalada na porta do Consulado, antes de seguirem para a área de votação. Diferente das eleições em 2019, que foram canceladas, por suspeita de fraude eleitoral, neste pleito, houve novas regras.

Na parte da manhã, apenas os eleitores com final das carteiras de identidade 01-02-03-04 foram autorizados a votar, das 08h até às 12h30. Já os eleitores com identidade final 05- 06- 07- 08- 09, puderam votar apenas na parte da tarde, das 12h30 até às 17h, quando se encerrou a votação.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Antes de seguirem para as urnas, bolivianos que votam em Corumbá, passam pela câmara de desinfecção

A Bolívia tinha oito candidatos concorrendo a presidente, entre eles, a presidente interina do país, Jeanine Añez, que desistiu da disputa. Também desistiram mais dois candidatos, Tuto Quiroga e Maria de La Cruz.

Cinco nomes concorrem à presidência do país neste domingo: Luis Arce, do Movimiento Al Socialismo (MAS); Carlos Mesa, do partido Comunidad Ciudadana (CC); Luis Fernando Camacho (Creemos); Chi Hyun Chung (FPV) e Feliciano Mamani (PAN-Bol).

A constituição boliviana declara vencedor, o candidato que conquistar 50% mais um voto ou mais de 40% com 10 pontos percentuais de vantagem sobre o segundo lugar.

Entenda o momento 

Nas eleições de 20 de outubro do ano passado, marcadas por denúncias de fraude, Evo Morales foi reeleito em primeiro turno. Após uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) ter chegado à conclusão de que o pleito havia sido fraudado, Morales renunciou ao mandato, pressionado pelas Forças Armadas. Após renunciar, o ex-presidente asilou-se primeiro no México e depois na Argentina.

À época, junto com Morales, também renunciaram Álvaro García Linera, vice-presidente do país; Víctor Borda, presidente da Câmara de Deputados e Adriana Salvatierra, presidente do Senado. Desta forma, Jeanine Añez, que era a segunda vice-presidente do Senado, assumiu a presidência interina, em 12 de novembro. 

O mandato de Añez inicialmente deveria durar até janeiro, mas foi prorrogado pelo tribunal constitucional do país até maio. No dia 03 de maio, a Bolívia deveria ter ido às urnas. No entanto, com a pandemia da covid-19, houve o cancelamento. O Tribunal Supremo Eleitoral boliviano, então, propôs que as eleições gerais fossem realizadas entre 28 de junho e 27 de setembro.

No final de abril, a Assembleia Legislativa, com maioria do partido de Evo Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS), aprovou a Lei n° 1.297, de Adiamento das Eleições Gerais de 2020, que definiu que o processo seria realizado em 90 dias, calculável a partir de 03 de maio. Añez afirmou que essa proposta não atendia recomendações do TSE, que previa critérios técnicos, logísticos e científicos para a realização da eleição durante a pandemia.

No início de junho, o TSE boliviano apresentou uma nova proposta de eleições a serem realizadas no prazo máximo de 127 dias, a partir de 03 de maio, ou seja, domingo, 06 de setembro deste ano.

Nas eleições deste domingo, serão eleitos presidente e vice-presidente, 36 senadores e senadores, 130 deputados e deputados e nove representantes para os órgãos parlamentares supra-estatais. (matéria atualizada ao final da votação)

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