PUBLICIDADE

Meu filho não sabe escrever, professora!

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa (*) em 10 de Maio de 2024

Caros leitores

Ouvimos, com frequência, esse lamento de mães, familiares e professores. Entretanto podemos dizer que a ortografia do português não é um desafio somente para crianças no início da trajetória escolar, mas também para muitos que, em algum momento, terão dúvida quanto à correta grafia das palavras. O processo de aquisição da ortografia da língua tem como referência a fala. Esta, sendo primordial à escrita na história da civilização, sempre comandará a forma de escrever.

Importante registrar que existem três grandes meios responsáveis pela difusão da língua portuguesa, com efeito direto no modo de escrever: a escola, a literatura e os meios de comunicação de massa. A influência desses setores é determinante para a comunicação e suas múltiplas variações.

Enquanto a escola tem a responsabilidade de ensinar a modalidade padrão da língua, a literatura é o arquivo da tradição de um povo revelada por sua linguagem. Por outro lado, os meios de comunicação de massa exercem forte influência no jeito de falar da comunidade. Não temos como ignorar isso.

Recentemente, ouvimos de uma apresentadora de programa de grande repercussão a frase "Feliz de quem tá onde qué tá". Se na fala podemos flexibilizar a linguagem para atingir nosso interlocutor, devemos tomar cuidado com o excesso de espontaneidade e seu efeito direto sobre aqueles que estão no processo de aquisição da escrita.

Assim, a responsabilidade social do professor vai além de ensinar o modelo padrão da ortografia, mas também de como fazer a adequação aos diferentes contextos de uso da língua: onde e com quem podemos utilizar uma fala mais espontânea e quais espaços de diálogo exigem cuidados maiores de monitoramento da linguagem.

Nessa esteira, se a criança ou o aprendiz adulto escrever cacu por caco, iscola por escola, tá por está, qué por quer, tá por estar, cardaço por cadarço, pobrema por problema, eu fazi por eu fiz (como dizemos em comi, bebi, dormi...) certamente demonstrará a forte pressão da fala sobre a escrita, e o modo como ouve, com regularidade, tais palavras e expressões.

E, mais ainda, no caso da conjugação de verbos, terá pela frente a complexa tarefa de aprender a conjugação dos verbos irregulares. Por isso, professores, pais e familiares, compreensão, paciência e amor são ingredientes essenciais para motivar o seu aprendente da língua portuguesa. Bom fim de semana!

(*) Rosangela Villa da Silva, Profa. Titular da UFMS, Mestre e Dra. em Linguística pela UNESP, com Pós-Doutorado em Sociolinguística pela Universidade de Coimbra/Portugal.