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Mãe provoca a morte de bebê ao retirar sonda para ir ao pagode

Caline Galvão em 26 de Janeiro de 2016

Um bebê prematuro, com pouco mais de um mês de vida, morreu depois que a mãe retirou a sonda que o alimentava e foi a uma casa de pagode. O fato aconteceu na noite de domingo (24), mas a polícia não foi informada sobre o caso, até que na segunda-feira (25) pela manhã, a mulher completamente embriagada saiu com a criança morta perambulando pelas ruas e buscou ajuda em uma lanchonete. A Polícia Civil foi acionada depois que um mototaxista fez a denúncia e a delegada encontrou o corpo da menina, que nasceu no dia 12 de dezembro passado, em cima de um freezer. O caso aconteceu no bairro Cervejaria.

De acordo com informações da delegada de Polícia Civil, que responde pela Delegacia Regional, Paula Ribeiro, a notícia de que havia uma criança morta em uma lanchonete chegou à delegacia quando investigadores estavam saindo para averiguar o homicídio de um homem que cumpria pena no regime semiaberto.

Um mototaxista, que trabalha em um ponto na rua Dom Aquino próximo à rua Luiz Feitosa Rodrigues, acionou a Polícia Civil por volta das 09h da segunda-feira a pedido da dona de uma lanchonete, no bairro Cervejaria, onde a mãe da criança havia chegado com o bebê morto. A mãe caminhou com o corpo da criança nos braços até encontrar o estabelecimento comercial, onde ela pediu ajuda. Foi então que a dona da lanchonete solicitou que o mototaxista acionasse a polícia.

Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Caso aconteceu no bairro Cervejaria e revoltou vizinhos dos pais da criança

Conforme informações repassadas pela delegada Paula Ribeiro ao Diário Corumbaense, os policiais constataram que a mãe da menina estava com sintomas de embriaguez, com fortíssimo odor etílico, dificuldade na fala e tinha relatado que a criança havia morrido na noite anterior, e quem teria matado o bebê seria o pai. À equipe policial, Lorraine Guimarães Torres, de 18 anos, mãe da criança, falou que tinha medo do marido. Ela afirmou que o homem estava em casa com arma de fogo e que era traficante. Segundo a mãe, o pai, identificado como Gilson Gonçalves, vulgo “Cunhé”, de 20 anos, não estava com a ela e a criança morta porque tinha medo de ser pego pela polícia.

“Quando cheguei à lanchonete, a criança estava em cima do freezer deitada e a mãe estava perambulando pelo estabelecimento comercial bastante embriagada”, disse a delegada Paula Ribeiro. De acordo com ela, Lorraine afirmou à polícia que a filha nasceu de sete meses, no dia 12 de dezembro, mas a mãe não soube dizer em qual data retirou a criança do hospital. No entanto, a própria mãe afirmou que foi orientada por mais de um médico de que ela não poderia retirar a criança do hospital, pois ela correria risco de morrer e precisava ser alimentada por sonda.

A funerária foi acionada pela Polícia Civil, mas como estava demorando a buscar o corpo da criança, a fim de encaminhá-lo ao necrotério, a delegada se constrangeu pela vítima ser um bebê e resolveu levá-la à delegacia. “Eu falei, não é justo a criança estar aqui. Como é uma criança, vamos levar para a delegacia. Nesse momento, eu virei e falei para a mãe: 'a senhora quer pegar sua filha pela última vez ou quer que eu pegue?' Ela falou: Tanto faz”, relatou a delegada.

Naquele momento, a delegada Paula Ribeiro pegou a criança no colo e saiu do estabelecimento comercial. Quando a equipe policial estava indo para a delegacia, o carro da funerária encostou e a criança foi entregue e encaminhada para exame necroscópico. Posteriormente aos fatos, em contato com o médico legista, a delegada foi informada que a menina morreu asfixiada com o próprio vômito. Isso ocorreu porque ela, com pouco mais de um mês de vida e prematura, ainda não tinha capacidade de deglutição, não poderia ser alimentada, a não ser pela sonda. No entanto, a sonda não estava com o bebê e a mãe disse não saber onde estava. Contudo, a sonda foi encontrada dentro da bolsa que a mãe havia levado para ir a uma casa de pagode quando a criança morreu.

Conforme a delegada, equipes policiais foram até a casa da mãe e do pai da criança. Como Lorraine havia relatado que o homem estaria armado em casa, a Polícia Civil solicitou reforço. “Quando a gente chegou na casa, pedimos para que ela ficasse no carro, mas ela não obedeceu e entrou juntamente com os policiais porque na visão dela, quem matou a criança foi o Gilson Gonçalves”, disse Paula Ribeiro.

Quando os policiais entraram na residência, um deles viu Elton Gonçalves, irmão de Gilson Gonçalves, pai do bebê, arremessar um pacote pela janela. Como nessas ações normalmente a polícia cerca a casa, esse pacote foi recuperado. Tratava-se de um pacote de fraldas contendo 143 papelotes de pasta base de cocaína. Gilson assumiu ser o dono da droga, embora o irmão dele tivesse dispensado o entorpecente.

“Ele afirmou que a droga era dele, que compra a droga na Bolívia e que ele mesmo embala e comercializa como meio de sustento, já que nem ele, nem o irmão Elton trabalham”, afirmou a delegada. Gilson e a Lorraine, pais da criança, acompanharam as buscas na casa e nenhuma arma de fogo foi encontrada.

Papelotes de pasta base de cocaína encontrados na residência dos pais

Mãe deixou bebê na vizinha para ir à casa de pagode

O que chamou a atenção da delegada Paula Ribeiro é que normalmente quando a polícia chega ao local de um crime, a vizinhança se esconde, mas dessa vez foi diferente. A vizinhança se aproximou da polícia para contar como eram os cuidados de Lorraine com a criança. Os vizinhos informaram que perceberam que o bebê tinha hidrocefalia (acúmulo anormal de líquido no crânio), pelo volume do cérebro, pois a cabeça da criança era grande e o bebê parecia não estar totalmente formado.

Os vizinhos relataram que constantemente Lorraine caminhava embriagada com a criança dentro do bebê-conforto, costumava ficar até tarde ingerindo cerveja com a menina que era prematura e precisava de cuidados especiais. “Ela estava sempre expondo essa criança a riscos que poderiam levar à morte”, afirmou a delegada a este Diário.

Todos os vizinhos relataram que na noite do domingo (24), Lorraine queria ir para uma casa de pagode, então, mesmo depois de ter retirado a sonda da criança, colocando-a em risco de morte, ela levou o bebê até a casa de uma vizinha e pediu para ela cuidar da menina dizendo que iria a um aniversário. Ela deixou a criança lá e foi para o pagode. Quando retornou, já encontrou o SAMU e a filha morta.

Segundo a delegada, tanto Lorraine quanto Gilson, pai da criança, dormiram ao lado do corpo do bebê. No outro dia, na segunda-feira (25), ela acordou e, por volta das 09h, resolveu perambular pela cidade, segundo ela, para pedir ajuda porque ela não sabia o que fazer. Gilson falou em interrogatório que enquanto a mãe saiu com o corpo da criança até chegar à lanchonete, ele estava assistindo a um jogo de futebol pela TV e foi interrompido pela chegada da polícia.

Pai autuado por tráfico; mãe por homicídio doloso

A frieza dos pais chocou tanto a polícia quanto quem ouviu o relato. Uma vítima de roubo que estava sendo ouvida pela escrivã na Delegacia de Polícia Civil ouviu o depoimento de Lorraine e não parava de olhar para a mãe da criança porque não conseguia acreditar na história que ela contava, de acordo com a delegada Paula Ribeiro. “Realmente chamou muito a atenção a frieza como os pais da criança trataram o caso”, disse a delegada.

Gilson Gonçalves foi autuado em flagrante por tráfico de drogas e participação na morte da menina. Lorraine foi autuada por homicídio doloso porque assumiu o risco de produzir o resultado da ação, já que foi orientada mais de uma vez a não retirar o bebê do hospital e a alimentá-lo pela sonda. No entanto, ela não procurou o hospital quando a criança perdeu a sonda, a submeteu a vários riscos que poderiam levá-la à morte, e de fato retirou a sonda, encontrada dentro da bolsa que ela havia levado para ir a uma casa de pagode quando a criança morreu.

“Ela alega que a criança tirou a sonda, mas ela não teria capacidade para isso, foi a própria mãe que tirou, segundo os vizinhos, e ainda entregou a criança para uma pessoa que nem era da família para poder ir ao pagode. Um bebê prematuro, com um mês de nascida, ela realmente submeteu a criança ao risco de morte. Então, ela agiu com dolo eventual, e o pai foi autuado por tráfico juntamente com o irmão, mas o pai também tem responsabilidade na morte da criança porque ele também teria a obrigação de levar a menina ao hospital e ele alega a todo momento que não deu essa atenção a criança porque tinha medo de ser encontrado pela polícia, pois acreditava ter contra ele um mandado de prisão em aberto”, disse a delegada Paula Ribeiro ao concluir a revoltante história.