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Padre Pascoal: uma vida dedicada às causas sociais

Rosana Nunes em 10 de Janeiro de 2021

Quando completou 60 anos de vida missionária no Brasil, em 2019, o Diário Corumbaense homenageou o padre Pascoal Forin, com a colaboração do membro da comunidade salesiana, Thiago Godoy, contando um pouco a história do sacerdote, que veio da Itália para o Brasil em 1959. 

Depois de muita dedicação ao trabalho social, padre Pascoal nos deixou neste domingo (10), aos 84 anos, após dias de luta contra a covid-19. 

Relembre a trajetória do padre Pascoal:

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Padre Pascoal veio para Corumbá em 1987 para atuar como pároco da Igreja Dom Bosco

No dia 11 de novembro de 2019, padre Pascoal Forin, sacerdote salesiano, desembarcava, novamente, no Brasil depois de uns dias de encontro, descanso e contato com os colaboradores internacionais dos projetos sociais realizados em Corumbá.

No mesmo dia, porém o ano era 1959, o jovem italiano pisava pela primeira vez o solo brasileiro. Veio conhecer e viver no tão sonhado país que desde muito cedo fez parte do imaginário ilustrado pelas conversas e propagandas dos missionários salesianos que viviam em meio aos indígenas do Mato Grosso e retornavam ao continente europeu.

Foi uma longa viagem de navio até o porto de Santos e de lá, uma carona no avião militar que fez duas escalas na precária estrutura de um aeroporto no interior de São Paulo e posteriormente na choupana do então aeroporto de Três Lagoas. Assim nasceu essa história de 60 anos de dedicação ao povo brasileiro.

Eram outros cinco jovens sonhadores que estavam dispostos a doar a vida na causa missionária ad gentes (termo latim quem pode ser interpretado como missionário para as nações) na mesma viagem. E nas palavras do próprio padre Pascoal, “foram grandes os desafios, porém valeu a pena cada uma das vitórias”.

Atualmente está à frente, como animador, do projeto social do Centro de Apoio à Infância e Juventude (CAIJ) localizado no bairro Cristo Redentor, um dos braços de atuação da Cripam (Casa de Recuperação Infantil Padre Antônio Müller). Diariamente são mais de 600 crianças, adolescentes e jovens atendidos com instrução educativa e formação biopsicossocial no contraturno escolar. A obra é mantida por meio de doações internacionais, ajuda da comunidade e apoio da Missão Salesiana do Mato Grosso (MSMT).  

Não é difícil encontrar esse “jovem de 83 anos” em meio às crianças que já são a segunda ou a terceira gerações do trabalho social realizado na região de Corumbá.

Relatando os primeiros dias de sua chegada, inicialmente em Campo Grande, percebia como seria desafiante. Já na primeira visita às irmãs salesianas, que à época eram responsáveis pela Santa Casa na capital, testemunhou a correria de uma emergência médica e assim como em seu segundo dia, num passeio pela região rural da mesma cidade, junto com os colegas, achou uma vítima de roubo seguido de morte à beira da estrada. No entanto, tais fatos não se tornaram limites para aprender a viver e se doar para a realidade brasileira.

Arquivo pessoal

A celebração da primeira missa

As primeiras lições da língua portuguesa contaram com a ajuda das crianças destinadas, inicialmente, como estudantes, mas que davam todo subsídio para que também pudesse aprender o novo idioma de maneira clara e ágil.

O ideal de pessoa que se entregou para a nova missão teve grande motivação os ensinamentos recebidos na família simples e do interior, que estava de sol a sol para desenvolver os recursos para se manter. “Se minha vida cresceu nesse otimismo e na busca de melhora foi graças ao berço que vivi como camponês ao lado de meus pais, Luigi e Maria, que me ensinaram a esperar corajosamente o crescimento da planta desde a semente,” disse o missionário.

Não seria diferente, mas é fácil ouvir diversos testemunhos de pessoas que descobriram valores ao cruzarem na vida do padre Pascoal. Não é à toa que a entrevista se dá em meio a um grande trânsito de pessoas que veem saudar, abraçar e pedir a bênção ao redor da cantoria e gritos alegres do pátio, lugar da manifestação juvenil salesiana.

“Tenho a certeza de nunca ter lutado para ser promovido, mas para estar aqui partilhando a minha vida com os demais e recebendo a vida deles”, assim testemunhou num retrospecto até a atualidade, desde as preparações, mesmo antes da certeza da partida da Itália, já que em meio aos estudos acadêmicos de filosofia procurava aprender manutenção elétrica, ainda quando a eletricidade era um artigo de luxo para muitos lugares.

O primeiro contato com os salesianos de Dom Bosco

Na realidade pós-guerra é que nasceu o primeiro contato com os salesianos de Dom Bosco, quando a escola local foi destruída nos bombardeios e teve de estudar no internato numa cidade próxima. Foi nessa época que recebeu o primeiro convite para se tornar padre. O apoio dos colegas foi fundamental para a decisão que celebrou 55 anos no último dia 08 de dezembro.

O ideal missionário que o fez deixar a Itália e vir ao Brasil foi a partir do encontro com um salesiano que testemunhava sobre o contato inicial com os Xavante, povo indígena hoje presente no Mato Grosso. Aquela conversa cheia de ilustrações, entusiasmos e motivações, despertou o interesse que viria ser concretizado logo ao final do estudo de filosofia, posteriormente a uma primeira negativa dos superiores que tinham a intenção de que aprimorasse o estudo em tecnologia para se tornar professor nas novas escolas profissionais salesianas da região.

Mas essa história também teve suas lutas até a plena perseverança, e lembra que diante da decisão de retorno para a Itália por causa das dificuldades de relacionamento observadas no cotidiano, eis que uma voz fraterna do então padre Benjamin Pádua, que perspicazmente suspeitava da intenção de “fuga”, o ajudou a rever o plano e permanecesse.

O encontro com Corumbá foi no ano de 1987 quando foi designado como pároco na igreja São João Bosco, onde permaneceu por 27 anos. Atualmente está diretamente na Ação Social na periferia da cidade. Padre Pascoal lembra com emoção a grande aceitação inicial da comunidade e a vivência de um estilo novo de relação paroquial mais aberta à participação leiga e feminina.

Arquivo pessoal

Padre Pascoal em meio às crianças assistidas pelo Caij

Uma das marcas de toda atuação apostólica era procurar as pessoas mais afastadas, seja nas comunidades rurais, seja nos movimentos sociais. No início o trabalho, sempre contando com apoio da comunidade, teve como atuação ao redor dos assentamentos rurais, recém-implantados na região. Havia apoio econômico de organismo religiosos e sociais vindos de fora do Brasil, mas a força estava na organização das pessoas que se somava à causa de superação das dificuldades, uma estratégia de quase cooperativismo.

Ao lado da vida, pessoas como padre Ernesto Sassida (falecido em 2013 aos 93 anos) foram um dos incentivadores e motivadores que fazem parte do hoje que culmina na continuidade dos sonhos e na independência das Obras Sociais fundadas e projetadas.

O modelo adotado na Pastoral Social era de uma espécie de financiamento, já que o dinheiro, quando se tornasse lucro, na família, era disponibilizado para outras, aliando com toda uma rede de formação, experiência da Pastoral da Terra que se dava por meio de cursos acessíveis às realidades circundantes de acordo com as demandas.

Quando questionado sobre a motivação que o faz frequentar desde a manhã até o final da tarde o seu posto na simples sala do CAIJ, ele responde: “Diante da realidade, nossa missão é ajudar sem olhar a cor, religião, origem ou qualquer outra diferença, nossa missão é ajudar! E por isso devo continuar.”

Na origem, a Cripam atendia a deficiência na área da nutrição básica das crianças, e hoje o complexo não mais atende crianças desnutridas, já que essa situação se encontra superada, mas mantém a busca de emancipação social pela independência com autonomia das pessoas.

Dentro da Cripam há o abrigo das crianças, Irmã Marisa Pagge, há o Caij e o Caijinho que atendem as crianças no contraturno, com diversas atividades educativas e artísticas, sempre contando com apoio de outras partes dos elos que doam tempo e ajudam no financiamento. Sempre há um voluntário que traz seus conhecimentos para colocar à disposição da obra, muitos jovens profissionais de diversas partes do mundo e do Brasil.

Com uma visão bastante lúcida, o CAIJ responde aos anseios atuais e sempre se projeta na perspectiva de novas demandas sem se prender à memória do “sempre foi assim” ou do assistencialismo que pode criar dependência aos problemas sociais que almejam solucionar. Essa é a marca que padre Pascoal apresenta à equipe que leva adiante todas as atividades desse centro de apoio humano.

E diante de sua bela história de dedicação e entrega à causa social, padre Pascoal nos brinda com o seguinte pensamento: “Eu sou de origem camponesa, e o camponês não desiste, isso me alimenta e me alimentou nesses sessenta anos de vida missionária.”

Thiago Godoy - Especial para o Diário Corumbaense.

Comentários:

Helmut Martines da Silva: Tive a grata oportunidade de conhecer e conviver com o padre Paschoal, em assentamentos rurais viabilizando o bombeamento e o fornecimento de água aos assentados, bem como trabalhando na educação de crianças e jovens do projeto CAIJ/CRIPAM. Realmente era um ser que se dedicava com amor na formação e assistência aos que precisavam.... Sempre alegre e sorridente, conduziu seu ministério com zelo, compromisso e responsabilidade; mesmo em isolamento não deixou de ministrar a mensagem de arrependimento e salvação aos visitantes... Que o nosso bom Deus o tenha em um bom lugar e conforte os corações dos milhares e milhares de "filhos" que ele cuidou e formou...

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