PUBLICIDADE

Pandemia do coronavírus impacta a vida de profissionais informais

Leonardo Cabral em 09 de Junho de 2020

A pandemia do novo coronavírus tem provocado abalos em todos os setores. Impactos significativos no mercado de trabalho, vêm afetando principalmente o público que depende do setor informal. Boa parte deles integra a classe artística e cultural e depende das “noitadas” para ganhar o pão de cada dia, como músicos, Dj’s e seguranças que ajudam a manter a diversão em casas noturnas e festas realizadas em Corumbá.

Trabalhando há mais de 13 anos como segurança em festas e eventos, Valdilene Silva Ramires, mais conhecida como “Lene”, destaca que nesses anos de profissão, jamais vivenciou ou imaginava passar por essa situação, ainda mais ocasionada por uma pandemia.

“São três meses vendo um cenário complemente diferente. O dinheiro que ganhava como segurança ajudava nos gastos em casa, ainda mais com a minha filha, pois ela sofre de alergia de alguns alimentos e usava boa parte do dinheiro que ganhava nos eventos e festas para comprar mantimentos especiais para o lanche dela na escola”, conta Valdilene.

Arte: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Ela ainda enfatizou que hoje tem que escolher quais contas serão pagas. “Só o essencial neste momento está sendo pago ou comprado. Os gastos estão sendo controlados, pois meu marido trabalha em um supermercado e graças a isso, estamos conseguindo levar. A situação está difícil. Tentei arrumar algo, mas ninguém está contratando. É uma situação que além de afetar financeiramente, atinge todos psicologicamente. Mas espero que essa fase possa passar o quanto antes e, para isso acontecer, é necessário que as pessoas possam entendam e tenham consciência dos riscos da doença”, pediu Lene, como é conhecida, que também atuava na bilheteria de eventos em casas noturnas.

Acostumado com a alegria do público ao lotar as casas de shows, agora apenas convive com as lembranças e o vazio ocasionados pela pandemia. Essa é a situação que o Dj Léo Duarte define essa fase: tristeza e simplesmente mudança nos hábitos diários.

“Seremos os últimos a conseguir nos reerguer. Não sabemos de fato como vai ser, se poderemos voltar a tocar e, se retornar, como será o cenário? É uma pergunta que ainda não temos respostas e uma situação difícil que estamos enfrentando”, desabafou o Dj Léo, que já está há cerca de três meses sem tocar em evento e simplesmente tem se virado “nos 30”, para enfrentar a falta de trabalho.

“Fora os problemas que já tinha, a pandemia afetou ainda mais, pois era das festas que tirava meu sustento e da minha família. Esses três meses já parecem uma eternidade, a cada dia que passa, temos que criar outras maneiras para gerar renda. Entendemos a situação que temos que enfrentar pensando na saúde pública, nas vidas que são resguardadas com as orientações de combate e prevenção, mas chega a ser revoltante ver pessoas que não estão nem aí pelo momento que estamos passando, sem se atentar aos riscos que estão correndo”, afirmou.

Arte: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Antes da pandemia, Léo Duarte tinha eventos de quarta a domingo. “Tocando nesse período, fora as festas de aniversário, casamento e eventos particulares, me gerava renda suficiente para suprir as necessidades tanto minha, quanto da família”, relembra o Dj que tem duas filhas. “Eu estava com a intenção de alugar uma casa, mas até isso a pandemia contribuiu para que não fosse possível. Hoje, moro com minha mãe novamente, é ela quem está em dando uma força”, completou.

Ele diz que o sentimento de tristeza é tanto que a dor maior é não poder atender os desejos das filhas em algumas situações e o também ter que se desfazer de instrumentos de trabalho. “Tento fazer outros trabalhos. Mas é difícil. As minhas filhas sentem falta de querer algumas coisas. Tem dias que não tenho nada no bolso. Chego no final do mês sem nada. Pela situação, já me vejo vendendo alguns equipamentos de trabalho para poder segurar a ‘barra’”, desabafou o Dj, que conseguiu receber R$ 600 do auxílio emergencial para minimizar a situação.

Sentindo também os impactos da pandemia, a artista Laryssa Alencar, conhecida por sempre animar as festas em casas noturnas, aniversários e casamento, tanto em Corumbá como em outras cidades de Mato Grosso do Sul, se diz amedrontada com a situação. Ela é de Fortaleza, vive em Corumbá há quase quatro anos e está em quase oito meses de gestação, à espera de uma menina.

“Acostumada com o cenário sempre cheio, rodeada de pessoas o qual levava alegria, hoje o olhar é vazio, no que se refere à música. Tudo parou. O cenário mudou. Já são três meses sem tocar em lugar algum. E isso reflete financeiramente, pois é da música que tiro meu sustento e agora gestante, a preocupação aumenta e muito”, diz Laryssa que ganhava nos shows semanais, o suficiente para suprir as necessidades financeiras e pessoais.

“Era correria de um lugar para o outro, chegava ao final era exaustivo, mas grata pelo trabalho feito. E hoje, isso faz muita falta nesses meses parada. É uma situação extremamente difícil não só para mim, como para os colegas de profissão”, mencionou a cantora ao Diário Corumbaense.

A perda do pai

Passando pela situação tensa, Laryssa está encontrando forças na filha que está prestes a chegar. Pois, além do campo profissional, a pandemia levou a pessoa que mais a incentivou durante esses pouco mais de 10 anos como cantora.

Arte: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

“Perdi meu pai em Fortaleza para o coronavírus. Não consegui me despedir dele. Fazia três anos que não nos víamos e agora será para todo sempre. É uma situação que realmente dá medo, uma pelo fato da partida dele e outra pela gestação, não sei como vai ser daqui pra frente”, contou a artista que disse ter se despedido do pai através de uma live na hora do enterro.

“Foi a única maneira que encontrei de me despedir dele. Muito triste, pois ele é quem me dava total apoio dentro da música. Foi dele que ganhei meu primeiro violão. Me senti imponente em não poder ir até lá para a última despedida. Mas me agarro na esperança de que tudo vai melhorar e para isso, é necessário que todos possamos nos conscientizar. A dor de verdade só será sentida quando acontecer com um familiar ou amigo próximo”, desabafou.

A cantora ainda revelou que a mãe também foi diagnosticada com a doença, mas esteve assintomática. Uma tia, irmão do pai, também perdeu a vida para a covid-19 em Fortaleza.

“É preciso que todos se cuidem, para que esse período passe logo. A gente vive para levar a alegria para o povo e a gente não está podendo fazer isso. Estamos privados de fazer, porém, se todos fizerem a sua parte, iremos sim, sair dessa situação”, pediu a futura mamãe.

PUBLICIDADE