PUBLICIDADE

Tradicionais na mesa, arroz e feijão estão pesando bem mais no bolso dos consumidores

Leonardo Cabral em 04 de Junho de 2020

Acompanhamento indispensável em boa parte das refeições, o arroz, item que já faz parte do dia a dia no prato do brasileiro, está bem mais “salgado”. Os preços, dependendo da marca, assim como de outros produtos, entre eles a cebola e o feijão, apresentaram um aumento que afeta o orçamento do consumidor.

O pacote de arroz de 10 kg, o mais adquirido pelas famílias, antes comercializado nos supermercados entre R$ 8,00 e R$ 10,00 podendo chegar até R$ 11,00 dependendo da marca, agora é encontrado pelo valor que varia de R$ 13,00 a R$ 16,00.

Para esse aumento de um dos produtos principais da cesta básica, assim, como o feijão, a explicação, de acordo com o consultor de empresas, Aldo Barrigosse, está ligada a uma conjuntura de fatores, entre elas, a exportação para outros países, a alta do câmbio e até mesmo o clima e o frete, fator que está relacionado com o cenário vivenciado pelo país por conta da pandemia de coronavírus.

Diário Corumbaense

Arroz registrou aumento de até 20% nos preços da saca e consumidor está pagando mais caro

“Tivemos aumento do preço de março para cá, cerca de 20% na saca de 50 kg. Anteriormente ou início da pandemia, a saca era vendida a menos de 50 reais. Hoje a média dela é de 62 a 63 reais, aumento de 20%. Entre os fatores que alavancaram essa alta, primeiro temos oferta menor do produto no mercado. O produtor, nos últimos cinco anos, vem vendendo o arroz em uma margem pequena ou negativa, onde não ganha dinheiro com essa venda”, disse Aldo ao Diário Corumbaense.

Ele ainda ressalta que em plena pandemia alguns produtos, como o próprio arroz, feijão e cebola, entre outros, foram comprados em maior quantidade no início de março, para que houvesse estocagem em casa, porque boa parte da população pensou que o produto poderia faltar ou ter desabastecimento no mercado. “Com isso gerou uma corrida na compra dos produtos, puxando esse aumento, com uma maior demanda, maior procura pelo produto junto às prateleiras de supermercados e a oferta reduzida, fez com que o preço do produto aumentasse”, mencionou.

Outro ponto que puxa o preço para cima é a questão do frete. Muitas transportadoras estão cobrando no preço do frete ida e volta. “Isso ocorre pelo medo de levar um frete e não ter a mercadoria pra retornar. Com isso o preço de frete teve uma elevação, ou seja, isso é normal em termos de mercado em momento de instabilidade o qual estamos vivendo, que está relacionado à pandemia”, acrescentou Barrigossi, frisando também sobre a exportação do produto no mercado internacional. 

Segundo ele, o Brasil exportou pouco mais de 220 mil toneladas de arroz para o mercado internacional. O produto valorizou em dólar acima de 30% nesse cenário. “Essa venda deve ser maior em 2020, impulsionada pela quebra da safra no mercado asiático, grande abastecedor no mercado mundial de arroz, assim como o Brasil é um grande consumidor. Isso faz com que a gente tenha desequilíbrio no mercado mundial e além disso a valorização do câmbio de 40% e 41% faz com que nosso produto tenha uma aceitação melhor para o mercado internacional, pois o produtor brasileiro acaba recebendo mais em real, na casa de 40% a mais”, explicou o consultor de empresas, completando ainda que cerca de 70% da produção, sai do Rio Grande do Sul, onde foi registrado problema com a produção.

A mesma situação ocorre com o feijão e a cebola, que também têm abertura para o mercado internacional. Aldo fala que quem produz, acaba optando por colocar a produção no mercado externo.

“É a questão da valorização do produto ofertado, onde o produtor estará recebendo 41% a mais, com essa situação dentro do mercado internacional e isso faz com que haja um desequilíbrio no cenário doméstico. Então o que estamos vivenciando é a questão de mercado, da valorização do dólar. Com o feijão, temos também problemas climáticos, com o excesso e falta de chuvas durante a colheita da primeira safra, ocasionando menor oferta do produto junto ao mercado brasileiro e menor oferta e consumo igual ou maior, fazem com que o preço tenha um aumento”, disse o consultor.

Se reinventar é preciso

Mesmo com os preços em alta, os produtos ainda seguem como preferência na hora da compra. A dona de casa e advogada, Caroline Araújo Samoza, disse que desde que percebeu o aumento nos preços, procurou se reinventar e buscar alternativas para economizar e não desperdiçar os produtos.

“São itens necessários, mas com os preços sofrendo esse aumento repentino, o que temos que fazer é buscar soluções, como reaproveitar o arroz de um dia para o outro, receitas novas, como risoto, bolinho de arroz, enfim alguma mistura que possa ser reaproveitável. Desperdiçar jamais, pois a solução também é substituir o arroz por algum carboidrato, como batata, macarrão, enfim, temos que aproveitar o momento para reinventar,  aprender novas receitas ou colocar em prática as que tínhamos aprendido”, falou.

Caroline Araújo ainda contou que o preço pago por ela no arroz era de R$ 2,00 a R$ 3,00. “Compro duas vezes no mês e sempre adquiro pacotes de 2 quilos do produto que são suficientes para meu marido e eu. Mas nas últimas compras percebi que o preço já estava acima de R$ 3,00, bem como o feijão, que na última compra encontrei pelo valor de R$ 6,00 e agora está a R$ 10,00 o pacote”, frisou ao se queixar também do aumento de outros produtos como a manteiga, pedaços de frango congelado, entre outros.

Já a proprietária de um restaurante, Miriam Assad Tomelic, também reclamou do preço do arroz, feijão e da cebola. Segundo ela, o quilo da cebola saía por R$ 2,00, agora paga entre R$ 6,00 e R$ 7,00.

Diário Corumbaense

Miriam, proprietária de restaurante, manteve os preços das marmitas mesmo com alta: "não seria justo subir na pandemia"

“O arroz e o feijão por mais que tiveram aumento nos preços, são indispensáveis, temos que comprar, não podem faltar na mesa. Já a cebola, por mais que eu goste de cozinhar com ela, ainda posso substituir por outros temperos ou produtos, como pimentão e tomate. O que manda na hora é a criatividade, sempre cozinhando com amor”, comentou Miriam que fez questão em dizer que mesmo assim, os preços das marmitas que ela fornece não sofreram reajuste. “Não aumentei os preços, pois tenho a consciência de que muitas famílias que hoje são clientes, também estão sendo afetadas pela crise da pandemia, não seria justo da minha parte. Prefiro diminuir meu lucro, mas manter os clientes”, afirmou a este Diário.    

Ela ainda ressalta que na hora da compra sempre vale o jeitinho brasileiro. “Temos que pesquisar e ir em busca do menor preço e ‘chorar’ para pagar menos, procurar complementar os pratos com outras receitas. Assim, vamos indo e sobrevivendo”, pontuou.

Consumo vem encolhendo

Pesquisa do IBGE mostra que os brasileiros estão comendo bem menos arroz e feijão nos últimos anos. “Eles estão preferindo se alimentar em restaurantes ou quando em casa, preferem outras opções, como o feijão enlatado e até mesmo por produtos embalados. O consumo vem encolhendo”, destaca o analista de empresas, Aldo Barrigosse.

“Consequentemente por conta da situação, temos a valorização do mercado internacional por parte dos produtores, onde eles investem bem menos na área, onde temos uma diminuição de oferta. Quem produz sempre busca escoar para um mercado que gera maior rentabilidade. É uma conjuntura para esse desequilíbrio, que chega com maior preço ao consumidor”, acrescentou.

PUBLICIDADE