PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Sesc suspende atividades em Corumbá e classe cultural lamenta: “nos tiraram um braço"

Leonardo Cabral em 21 de Maio de 2020

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Unidade de Corumbá, localizada na região central da cidade, teve as atividades suspensas

Desde a última semana, a unidade do Sesc em Corumbá está de portas fechadas por tempo indeterminado. Considerada a “Casa da Cultura” na cidade, o local proporcionava ações de cultura para toda a população de forma gratuita. A notícia pegou os frequentadores e, até mesmo, os funcionários da instituição de surpresa, mesmo com os atendimentos suspensos desde março, por conta do combate e prevenção ao novo coronavírus.

As ações na unidade envolviam linguagens artísticas em diversas áreas culturais, responsáveis não só de levar ao público temas variados e pertinentes, como também, por atingir a classe artística da cidade, de forma geral, que tinha um dos únicos espaços de fomento da arte local, tornando as ações públicas e disponíveis para apreciação do público. 

Foi no Sesc também, que os corumbaenses puderam ter novamente o acesso a uma sala de cinema com exibições de filmes, tanto para o público adulto, como para crianças e adolescentes, trazendo uma variedade de mostras nacionais e internacionais dos filmes mais clássicos aos mais contemporâneos. Desde que o último cinema fechou as suas portas na cidade até a instalação da sala na unidade do Sesc, jamais foi instalado outro cinema no município pantaneiro, que é um dos lugares mais visitados por turistas em Mato Grosso do Sul.

Outra grande contribuição do Sesc ao município e região, foram as inúmeras apresentações artísticas, com a presença de artistas renomados tanto no âmbito local quanto nacional, entre eles, músicos, artistas plásticos, escritores que vinham dos quatro cantos do Brasil. O Sesc era o palco dessas apresentações, com o cenário de fundo, o Pantanal.

Além disso, era oferecida a atividade de Contação de Histórias, reunindo crianças e até mesmo adultos, que acompanhavam grandes histórias, causos e lendas daqui e de todos os lugares do mundo.

A unidade do Sesc em Corumbá fez com que o município pantaneiro se transformasse em pioneiro em Mato Grosso do Sul, ao receber um evento dedicado à Literatura, com a realização da FliSesc – Festa Literária do Sesc.

A FliSesc foi um evento que buscava atingir uma diversidade de públicos dentro da produção literária, com a abrangência de diversificados temas abordados durante a programação. Pelo sucesso, se expandiu para Campo Grande, que passou a realizar o evento, considerado um dos maiores do Sesc em Mato Grosso do Sul.

Porém, aparentemente toda essa abundância de ações, não fará mais parte da rotina dos corumbaenses, pois a unidade encerrou suas atividades na cidade por tempo indeterminado, como foi informado na página do próprio Sesc-MS, no Facebook. Funcionários foram dispensados após essa decisão.

“Nos tiraram um braço”, diz a classe cultural

Sobre a determinação do Sesc, a classe artística e cultural de Corumbá e região, disse que foi pega de surpresa e que, com a situação, o local que, além de servir como forma de proporcionar e incentivar a cultura, também era um gerador de renda para os artistas que acreditam que, mesmo sendo por tempo indeterminado, o espaço pode não mais reabrir as portas, já que um caminhão foi visto fazendo a mudança de pertences da unidade do Sesc, quadro este que, até então, não foi relatado em qualquer outra unidade no Estado.

O diretor-presidente da Fundação de Cultura e Patrimônio Histórico de Corumbá, Joílson Silva da Cruz, disse ao Diário Corumbaense que com o fechamento da unidade, mesmo que seja por tempo indeterminado, é como se fosse retirado “um braço da cidade” e encara a decisão com tristeza, ressaltando que esperava ao menos um diálogo por parte da instituição.

“Não houve nenhum diálogo, qualquer tratativa ou pedido de socorro que fosse, em relação ao que estava acontecendo. Como artista e diretor-presidente da Fundação de Cultura, vejo isso acontecer de forma triste, até mesmo porque, a Prefeitura foi muito parceira com as atividades do Sesc. Ficamos praticamente ‘sem um braço’ e sem esse ponto de cultura que ali tínhamos para a população com essa acessibilidade mais fortalecedora para a cultura da cidade. Mas, infelizmente fomos pegos de surpresa”, falou Joílson.

Sempre ativa no Sesc Corumbá, a atriz, diretora e produtora cultural, Bianca Machado, que participou de inúmeras ações na unidade, disse que a decisão também traz um sentimento de tristeza. Ela fez questão de desabafar sobre o que a classe artística vem enfrentando no país, ainda mais com o fechamento por tempo indeterminado da unidade na cidade.

“O fechamento do Sesc faz parte de um desmonte que acontece há dois anos em nosso país. A cultura vem num desmonte avassalador, embora faça parte desse desmonte durante uma epidemia, vamos levar em conta que é nesse período, que tem uma fração monetária muito abalada no país inteiro. O Sesc, além de oferecer serviços de cultura para a cidade que não tinha nada parecido, como teatro, cinema, biblioteca, orquestra de viola caipira. Além de tudo isso, a unidade em Corumbá era um mecanismo que profissionalizava os artistas da região, era um gerador de renda que, hoje, infelizmente, se encontra de portas fechadas, mesmo que seja por tempo indeterminado, pois para mim, tempo indeterminado é a minha vida”, diz Bianca se referindo sobre a situação não ter previsão para retornar.

Divulgação/Sesc

Variadas atividades realizadas pelo Sesc em Corumbá sempre atraíam bom público

A presidente do Conselho de Política Cultural de Corumbá, jornalista e produtora cultural, Lívia Gaertner, também se diz espantada com a maneira pela qual o Sesc geriu a paralisação que, segundo ela, acredita ser algo nada positivo para a cidade. Ela informou que o Conselho se manifestou através de documentos enviados à direção do Sesc.

“O sentimento de surpresa é compartilhado por todos. O que nos causa estranheza é que a instituição Sesc, desde sua implantação na cidade, sempre manteve um diálogo franco e sincero, porém, de repente, a retirada dos livros, obras de arte e demais pertences, durante à noite, e, no dia seguinte, um comunicado vago, nos põem a acreditar que a ‘paralisação por tempo indeterminado’ seja um eufemismo para a real notícia que é de fechamento definitivo. Sendo assim, chamamos essa transparência que sempre houve e solicitamos que o Sesc esclareça à população, o que, de fato aconteceu, pois, acredito que, unindo forças, podemos buscar caminhos para a permanência em todas suas ações no município, que é considerado berço da Cultural de Mato Grosso do Sul e por isso merece a manutenção de um espaço tão importante para o setor como o Sesc”, declarou Lívia.

Formação cultural

Gabriela Winkler, frequentadora assídua do local, junto com a filha Clarice, disse estar muito 'sentida' com o fato de a unidade em Corumbá decidir pelo fechamento das portas por tempo indeterminado.

“O Sesc foi muito importante na formação cultural da minha filha, ela teve acesso a peças de teatro de artistas de renome, teve acesso a filmes, livros, contação de histórias, atividades e ações que se não fosse o Sesc, com toda certeza ela não teria a oportunidade de ter visto ao longo da vidinha dela”, contou Gabriela.

Ela ainda completa que tem o desejo de que isso possa ser por tempo indeterminado, mas em um período curto. “Quero ter a esperança fortemente que ao passar essa pandemia, a vocês da nacional, regional, enfim, que possam rever essa decisão, pois há um público muito grande aqui que acompanha e tem acesso às atrações do Sesc, isso era visível com as atividades feitas no local”, pontuou a frequentadora.

Resposta do SESC

Sobre a situação, ao Diário Corumbaense a assessoria do Sesc informou em nota que, “desde 2012 o Sesc Mato Grosso do Sul tem vocacionado suas unidades com oferta de produtos e serviços específicos para cada região. Desta forma, considerando sua atuação e o período de isolamento social, bem como os impactos gerados pela pandemia do COVID-19 no Estado, a Instituição avaliou o modelo de negócio aplicado no município e decidiu suspender as operações por tempo indeterminado”.

A nota ainda traz que qualquer novidade será publicada no site e nas redes sociais do Sesc MS e Sesc Corumbá.

Abaixo assinado

Pela permanência do Sesc em Corumbá, o Conselho de Cultura realiza uma petição online. Qualquer pessoa pode assinar através desse link abaixo:

https://secure.avaaz.org/po/community_petitions/sescms_pela_permanencia_da_unidade_sesc_corumba/?ftatica&utm_source=sharetools&utm_medium=facebook&utm_campaign=petition-1024054-pela_permanencia_da_unidade_sesc_corumba&utm_term=YqQHqb%2Bpo

Comentários:

Michelle de Saboya Ravanelli: Que tristeza essa notícia. O Sesc já era a segunda casa do corumbaense, num esquina linda com suas gravuras nos muros, o arco de livros e principalmente o livre acesso que todos tínhamos. Eu me tornei leitora nesse espaço, quando comecei a frequentar o clube de leitura, o acesso à biblioteca, cafés literários e flisesc. Além do cinema, que eu frequentava também, os shows, teatros, oficinas... Uma pena essa falta de comunicação e principalmente a incerteza do acesso novamante a tudo isso

Ana Paula Pott: Que tristeza ver o pouco caso que fazem com a arte. Que tristeza ver o desmonte da cultura na calada da noite. Corumbá, o povo, os artistas, os funcionários e as obras merecem mais respeito, Sesc MS!

MARIO MARCIO OLIVEIRA DE PAULA: É triste essa noticia. Mais uma vez, nós corumbaenses, passaremos a dizer que Corumbá já teve um espaço cultural do SESC. Faço uma pergunta? Cade os nossos políticos para interceder a quem de direito e evitar essa falta de respeito com o povo de Corumbá com o fechamento do SESC.

PUBLICIDADE