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Ex-investigador da FELCC revela que autoridades sabiam do assalto a Eurochronos

Leonardo Cabral em 01 de Março de 2020

Reprodução/ El Deber

Ex-investigador revelou que autoridades sabiam do assalto um dia antes

Em 12 de julho de 2017, um dia antes do trágico assalto frustrado à joalheria Eurochronos, na cidade de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, foi realizada uma reunião nas instalações da Força Especial Anti-Crime (Felcc) com a equipe dos chefes e investigadores dessa unidade que divulgaram o que aconteceria um dia depois no assalto, na manhã de 13 de julho, que deixou cinco mortos, dois bolivianos e três brasileiros, apontados como responsáveis pelo assalto, sendo um deles, morador em Corumbá.

A versão foi revelada ao jornal El Deber, por um ex-chefe da Felcc que decidiu interromper o silêncio sobre as interligações dessa operação, considerada trágica no país vizinho que teve como mandantes supostamente integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).

O homem, que por medo de represálias pediu para manter sua identidade no anonimato, explicou que a declaração da reunião era conhecida por volta das 10h do dia 12 de julho. A ordem indicava que sobre o ocorrido eles deveria se reunir às 17h do mesmo dia em um encontro convocado por Gonzalo Medina, policial dispensado, ex-diretor do Felcc na época e que agora se encontra preso em Palmasola por supostas ligações com Pedro Montenegro, extraditado para o Brasil por tráfico de drogas.

“Naquele dia, a ordem foi cumprida e a reunião foi instalada nos escritórios do Departamento de Análise e Inteligência Criminal (DACI)”, disse o ex-investigador da polícia revelando que o plano dos bandidos foi informado pelas autoridades em meio a grandes expectativas.

De acordo com o depoimento do ex-investigador, foram reveladas todas as ações dos bandidos, ainda foi informada a rota de fuga que os assaltantes usariam sendo identificada e verificada, para que fosse monitorada pelos agentes do DACI quando o caso tivesse ocorrendo. Também na reunião, eles delegaram e usaram pessoal das divisões de Propriedades e Crime Organizado para cobrir todas as áreas próximas ao assalto.

"Aparentemente, eles tinham tudo planejado por um longo tempo", disse o ex-membro do Felcc e acrescentou: "A inteligência da DACI já tinha todos os detalhes do que deveria acontecer no dia seguinte na Eurochronos", afirmou.

“Na reunião foi comunicado o local onde seria o assalto, obviamente Eurochronos, na Avenida Irala e Avenida Velarde, a hora do ataque, o número de agressores armados que participariam. Também se sabia o caminho que os criminosos seguiriam quando o assalto fosse cometido e seu primeiro ponto de encontro”, explicou o homem que passou mais de dez anos na Polícia e reiterou, em várias ocasiões, o conhecimento do que aconteceria naquele dia completando ainda que havia agentes da Polícia disfarçados nas imediações da casa onde o bando se encontraria, para ver a quantidade do que havia sido levado da joalheira.

"Por saberem de tudo, o paradeiro dos criminosos foi revelado, mas com o argumento de que a polícia agiu imediatamente e as investigações progrediram com bons resultados", disse o ex-investigador.

Dados os detalhes da versão confiada ao El Deber pelo ex-investigador, foram consultados alguns agentes da ativa que na época trabalhavam na Felcc e as mesmas confirmaram a existência dessa reunião, sem entrar em detalhes.

Reprodução/El Deber

Dentro da joalheria, um dos assaltantes durante negociação com policiais

Além das versões dos agentes que indicaram que a reunião ocorreu, depois de revisar as imagens das câmeras de segurança que fazem parte do registro do processo concluído em uma de suas fases, emitindo sentenças de prisão contra Sandra Guzmán (5 anos) e Edwin Landivar (30 anos), pode-se notar nas gravações, de acordo com os relatos do ex-chefe da Felcc, o aparecimento rápido da polícia no local, como se soubessem que isso aconteceria.

Por exemplo, quase dois minutos depois que os bandidos entraram na Eurochronos, os dois primeiros policiais armados aparecem pela Avenida Velarde e três minutos depois outros cinco agentes chegaram ao local pela Avenida Irala, como se já estivessem aguardando a ação dos bandidos que poderia ter sido evitada.

O ex-investigador, que solicitou o anonimato, disse que quatro policiais foram os que subiram no prédio ao lado da Eurochronos (um sobrinho de um chefe e capitão), local onde teria sido disparado o tiro que matou a jovem Ana Lorena Tórrez, gerente da joalheria.

Os mortos

A troca de tiros entre os policiais e os assaltantes terminou com a morte de três brasileiros: Antonio Adão da Silva, que tinha sido detido por três anos e dois meses por tentativa de homicídio; Ronny Masalbi Suarez, vulgo “Macaco”, que tinha passagem na Polícia por roubo agravado; e Camilo Maldonado Pinto, morador de Corumbá e que foi até Santa Cruz para participar do assalto à joalheria na época.

Morreram também a gerente da joalheria Ana Lorena Tórrez e o policial Carlos Gutiérrez. O quarto assaltante, Erick Edwin Landívar, de nacionalidade boliviana, sobreviveu ao fogo cruzado e encontra-se no presídio de Palmasola, juntamente com Sandra Guzmán Vaca, apontada como cúmplice da quadrilha e esposa do assaltante brasileiro morto Antônio Adão da Silva, indicado pela polícia como líder do grupo. 

Com informações do jornal El Deber.