PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Por dentro da folia - O Cisne de Ébano da Passarela

Por Victor Raphael (*) em 28 de Fevereiro de 2020

Vila Nascimento é parte da história do carnaval brasileiro por formar um conceito do que é ser porta-bandeira. Ainda que a função tenha se estabelecido desde os primórdios das escolas de samba do Rio de Janeiro (década de 1930), a sua forma de realização não estava totalmente consolidada. Isso gerou uma série de estilos de dança, muito baseada na identidade de cada porta-bandeira com a sua comunidade. Um dos destaques da época era Neide, com um bailado aguerrido, e um tanto pulado, mostrando a disposição daquele pessoal do Morro da Mangueira.  

Porém, surgia, junto com a explosão das escolas de samba do cenário nacional, o Cisne da Passarela. Vilma, então na sua escola de coração, a Portela, apresentou um bailado leve, com graciosidade, como se flutuasse pela avenida, mesmo carregando um peso enorme da fantasia que a sua função exigia. Bandeira desfraldada, esticada no ar como se o vento a segurasse caprichosamente ao seu rodopio.

 

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Valessa e Edelton durante apresentação no carnaval deste ano

Guardadas as devidas proporções de tempo, espaço, método e estilo, temos um Cisne também na Cidade Branca. Um Cisne de Ébano que atende pelo nome de Valessa. Desde que a vi dançando pela primeira vez, vestida (e talvez embuída da personagem que representava) de Santa Sara, em sua estreia no ano de 2018 pela Mocidade Independente da Nova Corumbá, já se notava o quanto era diferenciada. Giros rápidos, um sorriso largo e constante, a mistura perfeita de graça, leveza e força. Ressalta-se, lógico, a sua sintonia com o mestre-sala Edelton, seu parceiro de sempre e que foi um dos responsáveis por indicá-la para a função quando a Arara da Zona Sul ficou sem a pessoa que empunharia o seu pavilhão.  

Hoje, o casal está na Unidos da Vila Mamona, outra bandeira tradicional da nossa cidade, mas o encanto continua o mesmo. Eles levaram o Esplendor do Samba, cada qual em sua função, e no dia do desfile, todos os atributos que encantam uma plateia ali estavam. A garra ao empunhar o pavilhão, a simpatia, o carisma e a sintonia perfeita entre a flor e o beija-flor. 

 

Há de se assinalar a ironia que é o carnaval e o desfile das escolas de samba: mesmo sendo a festa da emoção, seu julgamento se dá de forma fria. E não é a intenção falar dele. A intenção é falar exatamente do oposto. Das sensações que a folia desperta. E a comoção que gera. E os personagens que são criados dentro dela.

 

Temos na história do carnaval corumbaense,  excelentes e históricas mulheres que prestaram serviços às bandeiras das escolas de samba. 

Mais uma escreveu ao longo desses três anos o seu nome nela.

E continuará a escrever.

 

Parabéns, Valessa!


(*) Victor Raphael é compositor e diretor da Liga Independente das Escolas de Samba de Corumbá.