Nelson Urt, especial para o Diário Corumbaense em 21 de Setembro de 2018
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Casa do Dr. Gabi fica na esquina das ruas Quinze de Novembro e Cuiabá
Trata-se de outra coleção histórica de valor inestimável que corre o risco de deterioração – a Biblioteca Lobivar Matos já perdeu jornais dos anos 1940 e muitos livros em virtude do mofo e das traças, já que o local é inapropriado para a conservação de documentos e peças antigas. Sem climatização, o prédio é obrigado a manter as janelas abertas e coloca em risco o acervo. Ali também não existe acústica apropriada a museus e bibliotecas. “Estamos providenciando a transferência desse acervo do Museu Regional do Pantanal para o Espaço de Memória Casa do Dr. Gabi, na rua Cuiabá”, informou o gestor da Casa, José Gilberto Rozisca.
Fazem parte do acervo uma carruagem fúnebre de origem francesa do século XIX pertencente à família Oliva, uma imagem do Barão de Vila Maria e um busto de bronze de Nheco (Joaquim Eugênio Gomes da Silva), fundador da Nhecolândia.
Transformada em museu em agosto por decreto municipal, a Casa do Dr. Gabi é a bola da vez entre as instituições que pretendem multiplicar o acesso do público. “Queremos aumentar o fluxo das visitas monitoradas dos estudantes de Corumbá”, diz Rozisca. Nesta semana do aniversário de Corumbá, a Casa do Dr. Gabi abriga a “Primavera dos Museus”, evento realizado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Construída em 1940 em estilo eclético, a Casa foi revitalizada com recursos da Prefeitura, sem depender dos recursos do PAC das Cidades Históricas.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Decreto municipal transformou a Casa do Dr. Gabi em museu
Muhpan expõe sistema escravocrata em Corumbá
Mantido pela Fundação Barbosa Rodrigues desde 2007 em um prédio cedido em regime de comodato de dez anos pela Prefeitura, o Muhpan (Museu de História do Pantanal) ocupa a antiga Casa Wanderley, Baís e Companhia, restaurado dentro do Programa Monumenta, no Porto Geral, com fiscalização do Iphan. O contrato venceu em 2017 e a fundação ainda não se manifestou em renová-lo.
Dessa forma, o funcionamento do Muphan permanece irregular há quase um ano, o que gerou comentários de que a Prefeitura tivesse planos em fechá-lo, o que é veementemente negado por gestores culturais de Corumbá.Ocorre que, sem contrato, a Prefeitura fica impossibilitada de intervir em qualquer tipo de manutenção do prédio, mesmo no caso de pagamento de contas de água e luz. Apenas um funcionário efetivo trabalha na monitoria do museu, que enfrenta problemas com instalações. O prédio foi alvo de furto e,desaparelhado, desativou a exposição multimídia.
Mesmo diante das dificuldades, o Muphan abriu neste ano anova sala “Braços cativos no espaço urbano e rural de Corumbá”, que expõe deforma inédita o sistema escravocrata no município e a maneira como a cidade se relacionava com os cativos africanos ou afrodescendentes que aqui chegavam como mão de obra nas diferentes frentes de trabalho, inclusive como operários na construção dos prédios históricos.
“O cativo foi inserido no espaço urbano e rural para trabalhar”, relatou a professora e historiadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Elaine Cancian, responsável pela pesquisa e narrativa histórica da nova sala. “Ainda que o discurso historiográfico regional mais tradicional tenha, por vezes, procurado ocultar ou negar a inserção na região de Corumbá dos africanos e seus descendentes escravizados, documentos mostram a presença dos mesmos desde os primeiros anos após a fundação do povoado”,acrescentou. Anderson Gallo/Diário Corumbaense Mostra expõe a maneira como a cidade se relacionava com os cativos africanos ou afrodescendentes
Barão de Vila Maria era dono de escravizados
Na sala, há um painel com a lista de 21 escravizados que pertenceram a Joaquim José Gomes da Silva, conhecido com Barão de Vila Maria,ex-vereador, juiz de paz e pecuarista influente nos anos 1860-70 – o mesmo quedá nome ao prédio da Câmara Municipal de Corumbá.
Em outra sala do museu o Barão de Vila Maria aparece como o homem que viaja no lombo de um cavalo durante 47 dias, de Corumbá ao Rio de Janeiro, para levar a notícia ao Império sobre a invasão do Paraguai em território brasileiro.
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