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Fé, devoção e alegria no São João de Corumbá

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa (*) em 23 de Junho de 2024

Caros leitores

A festa do Banho de São João de Corumbá, reconhecida pelo Iphan como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, em 2021, é uma manifestação popular religiosa, de características diversificadas e inclusivas, linguísticas e folclóricas, que representa marca da identidade cultural dos corumbaenses, assim como o nosso Carnaval e a festa de São Cosme e São Damião.

O contexto que envolve a demonstração de fé, devoção e alegria dos festeiros tem preparação cuidadosa e cheia de amor. Ouvimos várias histórias em que a tradição da celebração foi passada na família de geração a geração; outras em que grupo de amigos se reuniam para comer e beber na calçada, no dia 23 de junho, apenas para celebrar a data, mas que acabaram por incorporar o aspecto religioso e passaram a compor o andor de São João.

Nessa esteira, trouxemos a história do Arraiá do Lions Clube de Corumbá, que iniciou com aspecto apenas comemorativo, mas desenvolveu cunho religioso, vindo o clube a se cadastrar como comunidade festeira. Em 2023, entretanto, o santo perdeu a cabeça com o clube, ou melhor, os Companheiros Leão quase perderam a cabeça da imagem de cerâmica, que partiu no momento do banho no rio Paraguai, por não estar totalmente fixa ao andor.

A cabeça do Santo subiu a ladeira no bolso do presidente Samir Fatah. No fim do mesmo ano, a CaL Luciene Fatah, esposa do presidente, encomendou uma nova imagem a esta colunista, que estava de viagem de férias em Portugal. Numa das lojas do entorno do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, uma imagem de madeira maciça, de 54x26 cm, pintada à mão, chamou a minha atenção. Após analisar as fotos da imagem, a diretoria do Lions Clube aprovou o investimento.

A peça é feita de madeira da árvore tília, um gênero botânico pertencente à família Malvaceae. É típica de regiões de clima temperado, com estações do ano bem demarcadas. Para os germânicos, as tílias eram árvores sagradas com poderes mágicos que protegiam os guerreiros. Pela sua leveza e outras características, a madeira de tília é utilizada na construção de corpos de guitarras maciças, como alguns modelos de Fender fabricados no Japão, e na construção de baterias.

O tesouro atravessou o Oceano Atlântico nas minhas mãos e foi recebido com muita festa e alegria pela família leonística, que este ano estreia a nova imagem em seu andor numa festa de fé e devoção. Coisas da língua!

(*) Rosangela Villa da Silva, Profa. Titular da UFMS, Mestre e Dra. em Linguística pela UNESP, com Pós-Doutorado em Sociolinguística pela Universidade de Coimbra/Portugal.