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Corumbá precisa refletir sobre o seu dia 13 de junho

Marco Aurélio Machado de Oliveira (*) em 13 de Junho de 2017

O dia 13 de junho de 2017 será lembrado como a data que marca os 150 anos da retomada de Corumbá, cerca de três anos antes do fim da Guerra do Paraguai. Contudo, pode, também, ser marcada como uma nova fase na História da cidade, essencialmente, com a chegada de imigrantes das mais variadas origens. Isso lhe deu impulso enorme, tanto na economia quanto no aumento da população. Nossos estudos atestam que cerca de vinte nacionalidades conviviam entre o final do Século XIX e o início do XX, com uma população que orbitava na casa dos sete mil humanos. Eram sírios, libaneses, franceses, bolivianos, paraguaios, argentinos, uruguaios, portugueses, espanhóis, italianos, macedônios, turcos, entre tantos outros.

Aqui, eles e elas refizeram suas vidas após os acontecimentos aflitivos que os tiraram da terra natal. Construíram famílias, alguns ergueram nomes suntuosos, outros se especializaram no anonimato, trabalharam, sofreram em um ambiente muito favorável à hospitalidade e ao acolhimento. Corumbá foi feita, em grande medida, por esses imigrantes. E nossa cidade pode aprender muito com seu passado, uma vez que a atualidade se apresenta exigindo preparos de nossa parte.

Vejamos. O Século XXI iniciou-se com fortes indicadores de que as crises do século anterior não foram resolvidas. Além disso, novas crises surgiram alimentando as existentes, tornando mais difícil a compreensão dos tempos em que vivemos. Há no mundo, hoje, ao menos três conflitos de dimensões incalculáveis: a da Síria; a da Ucrânia; e a do Boko Haran, centrado no norte da Nigéria. Alguns estudiosos indicam que esses conflitos possuem mais nações envolvidas do que na II Guerra Mundial, o que pode ser um exagero, mas não dos maiores. Outros, como o Papa Francisco, declaram que estamos vivendo a Terceira Guerra Mundial, desta vez vista por capítulos. Adicionem-se a eles as tensões no Afeganistão, Paquistão, Palestina, norte da África e Península Coreana. Seja qual a for a inclinação ideológica, é inegável que o mundo está vivendo tempos muito arriscados.

Uma das expressões mais dramáticas desses conflitos é o número de refugiados que se espremem desesperadamente, em especial, nas bordas mediterrâneas. Isso não se trata de uma “crise de refugiados”, mas, sim, uma crise humanitária, com tantas pessoas, diversas delas na posição de autoridades, virando as costas para gritos de socorro. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento estimou, em 2009, que mundo teria em torno de 200 milhões de pessoas vivendo fora de seu país de origem. Isso significa 3% da população na Terra. Alguns deles já chegam ao Brasil, e são acolhidos por laços familiares ou por organismos que se empenham a dar a esse grupo social a dignidade que eles merecem.

E Corumbá faz parte desse processo. Desde 2015 o Circuito de Apoio ao Imigrante faz levantamento junto aos órgãos que atuam com imigrantes e refugiados e tem constatado que o número de pessoas que ingressam no nosso país através de nossa cidade tem crescido. Da mesma maneira tem se avolumado as nacionalidades e etnias que enxergam em nossa fronteira um porto seguro para suas, pouco generosas, alternativas.

As autoridades locais, e também as de esferas superiores, devem se atentar para o fato de que nossa cidade não tem a vocação de virar suas costas para o imigrante e para o refugiado. Que a exemplo do período pós Guerra do Paraguai, seu povo, com larga história de receptividade, não quer ver às suas bordas a repetição de tragédias humanas que tem comovido o mundo inteiro. 

(*) Marco Aurélio Machado de Oliveira é professor de História e do Mestrado em Estudos Fronteiriços na UFMS.