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Quem é você nessa folia?

Por Victor Raphael (*) em 14 de Fevereiro de 2020

São passistas, baianas, comissões de frente, casais de mestre-sala e porta-bandeira, empurradores, diretores de harmonia, cantores, músicos, destaques… Mas o maior contingente dentro de uma escola de samba é justamente o componente das alas. Anônimos, são eles que desempenham o papel de transformar simples transeuntes em um cortejo de fantasias coloridas e emblemáticas, ajudando a escola a fazer do sonho um carnaval. 

Geralmente os componentes das alas não são julgados de forma individual, mas sim, em conjunto. Se dermos uma olhada na justificativa do júri, veremos sempre o termo “ala” em detrimento do termo “componente”, a despeito de situações graves, como quando um integrante da ala “A” entra no espaço delimitado para a ala “B”. Trocando em miúdos, só é lembrado quando o que se faz é passível de perda de pontos.

 

Porém, a escola só “pulsa” se o componente embarcar na alegria e “comprar a briga” da agremiação em fazer um grande carnaval. É ele quem dita o ritmo perante o público para saber se a escola está morna ou “chegou chegando” na avenida. Isso pouca gente se atenta.

 

Nos primórdios do carnaval, as fantasias eram muito mais leves e menos elaboradas. De certa forma, isso ajudava a euforia dos desfilantes, que, com mais mobilidade, pulavam, cantavam e dançavam o samba com muito mais liberdade.

 

Dois fatores são determinantes para as mudanças de postura dos componentes comuns. As fantasias ganharam plumas, decoração mais carregada e vestimentas que se assemelham mais a figurinos do que às indumentárias leves de antes. Ademais, o julgamento do quesito evolução prevê que uma escola coesa na avenida deve se apresentar sem clarões, ou buracos, como é mais conhecido. Geralmente a empolgação do componente dá lugar, eventualmente, a responsabilidade de cobrir esses espaços, e com isso, pode ajudar a “esfriar” o ânimo dos desfilantes. 

Sendo assim, qual é o segredo para “incendiar” um desfile? A mística do carnaval está aí. Grandes sambas já passaram de maneira fria na passarela, outros onde a bateria se sobressaiu também não surtiram o efeito desejado em quem estava desfilando. Há ainda um sem número de desfiles frios onde o componente estava vestido do mais alto luxo. O preparo em todas as instâncias de uma escola de samba é fator primordial para o sucesso e ajuda a minimizar a possibilidade de erro. Mas a magia do carnaval… essa, só se pode adquirir ao pisar a marca de início do desfile. É lá que a magia acontece…


(*) Victor Raphael é compositor e diretor da Liga Independente das Escolas de Samba.