Ricardo Albertoni em 04 de Abril de 2018
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Autor dos gols das duas finais, Negão (à esquerda), e o dirigente do clube, José Roberto Costa, lembraram do episódio
O título estadual de 1984 do Corumbaense Futebol Clube ficou tão marcado no coração dos torcedores que muitos se esqueceram que o time precisou jogar duas vezes para confirmar a conquista. Por isso, quando Corumbaense e Operário se credenciaram para disputar a final do Campeonato Sul-mato-grossense 2018, após vencerem Novo e Sete na semifinal, surgiu a dúvida sobre a reedição da final do primeiro título do time pantaneiro.
Embora o jogo histórico do Corumbaense tenha acontecido no dia 12 de dezembro de 1984, no estádio Arthur Marinho, com vitória de 1 a 0 sobre o Operário de Campo Grande, oficialmente o confronto não valeu. Isso porque o Clube Atlético Douradense, alegando ter o direito de disputar a final contra o time de Corumbá por ter sido superior à equipe da Capital no critério de desempate após o quadrangular que definiu os finalistas, teve recurso aceito pelo Conselho Nacional de Desporto em julho de 1985. Sendo assim, a final entre Corumbaense e Operário foi anulada e o Carijó da Avenida teve que disputar o título contra outra forte equipe.
Anderson Gallo / Diário Corumbaense
Dirigente do Corumbaense, José Roberto Costa, que também fazia parte da diretoria do clube na época, lembra que a decisão causou transtornos para as duas equipes
Na época, sob a gestão do presidente Henrique de Carvalho Rostey, o Carvalho Sobrinho, o time montado na gestão anterior de Clévis Curvo da Costa, com grande investimento do empresário Alfredo Zamlutti Júnior, tinha como diretor José Roberto Costa, que faz parte da atual diretoria do clube. O dirigente, apaixonado pelo clube, lembra que a decisão causou transtornos para as duas equipes que tiveram que jogar a decisão, mais de sete meses depois, apenas com jogadores inscritos na competição estadual do ano anterior. O Corumbaense disputava a Taça de Ouro – Série A do Campeonato Nacional – com novos atletas contratados no elenco.
“A decisão nos pegou de surpresa, inclusive nós já estávamos disputando o Brasileirão de 1985 justamente por conta do título que havíamos ganhado em 1984 e nós não poderíamos utilizar os jogadores contratados em 1985 para o Brasileirão. Tínhamos que disputar novamente o título só com jogadores inscritos em 1984, então, foi uma dificuldade muito grande, não só pra nós como pra eles também, mas graças a Deus, deu tudo certo. Vários jogadores já tinham saído daqui, mas a base praticamente era formada com jogadores da casa. Trouxemos de volta o Wagner ‘Vanusa’ goleiro que já estava em Belém do Pará e conseguimos inscrevê-lo a tempo para poder jogar”, lembrou José Roberto ao Diário Corumbaense.
Em 2013, no episódio da série produzida pelo Diário Corumbaense, Negão lembrou do gol marcado contra o Operário na final de 1984
Autor do gol em 1984 aos 35 minutos do primeiro tempo, da final anulada contra o Operário, e dos dois gols dos confrontos contra o Douradense, vencidos pelo placar mínimo em cada partida, Amaurício dos Santos, o Negão, considera como jogo do título a vitória contra o time da Capital. Para ele, naquele ano, ter quebrado a hegemonia de Comercial e Operário foi o que tornou a conquista ainda mais importante.
“Mesmo que o registro oficial seja Corumbaense e CAD, para todos nós jogadores e envolvidos, a final foi contra o Operário. Aquilo parou a cidade, o estado, porque nós já vínhamos disputando o campeonato estadual em 1980, 1981 e éramos a terceira força, vendo os títulos sendo disputados por Operário e Comercial. Naquela época, o Alfredo Zamlutti era patrocinador do Corumbaense, montou uma boa estrutura, trouxe o treinador Da Silva, Wagner Pereira como preparador físico e nós começamos a nos impor contra os dois times de Campo Grande. Eles sabiam que aqui dentro era difícil ganhar da gente, como aconteceu”, lembrou Negão.
Ídolo do Carijó confessa que após receberem a notícia de que a final teria que ser disputada novamente, contra outro adversário, não teve receio de perder o título
O ídolo do Carijó confessa que após receberem a notícia de que a final teria que ser disputada novamente, contra outro adversário, o que aconteceu nos dias 28 e 31 de julho de 1985, não teve receio de perder o título. Para ele, os dois jogos que tiveram pequena cobertura da mídia, serviram apenas para aumentar o saldo de gols que o confirmou como artilheiro do time na competição.
“Não levamos nem a taça para o estádio porque ninguém falou muita coisa. Mas, a gente sempre comenta entre jogadores que nosso time era tão bom que tivemos que disputar duas vezes para garantir o título. Ficou essa brincadeira”, disse Negão aos risos a este Diário.
Evolução do Corumbaense
Desde que retornou ao futebol profissional em 2005, o Corumbaense mantém frequência nas competições estaduais. O time acumula dois títulos - Série B em 2006 e Série A em 2017 e dois vice-campeonatos da Série B – 2012 (Novo) e 2014 (Serc). Desde 2015, o time chega às semifinais e nos dois últimos anos disputa a final da Série A do campeonato estadual. O retrospecto, embora tenham ocorrido alguns tropeços no meio do caminho como os rebaixamentos em 2011 e 2013, é positivo, graças ao apoio do Poder Público.
“Quando o prefeito Ruiter (Cunha, falecido há cinco meses), já na sua primeira administração abraçou o futebol, as coisas foram melhorando. Com o decorrer do tempo veio o Paulo Duarte e depois Ruiter novamente, a estrutura melhorou muito e fomos tendo mais condições de formar boas equipes. Sem a ajuda do Executivo dificilmente Corumbá teria condições de manter uma equipe de futebol que tem hoje. Com esse apoio que estamos tendo da torcida e do prefeito Marcelo Iunes, daqui pra frente é só melhorar”, afirmou José Roberto ao lembrar também de patrocinadores como a Andorinha, que faz o transporte da equipe dentro e fora da cidade.
Ídolo de todos os tempos do clube também destaca a torcida como um dos principais fatores para o desenvolvimento do clube. “Hoje a gente vai ao estádio e fica feliz em saber que o time de maior estrutura de MS é o Corumbaense Futebol Clube. Temos a maior torcida não é de hoje. Essa torcida já é apaixonada desde a minha época e eu me arrepio quando eu vou ao Arthur Marinho e vejo os torcedores daquela maneira. Eu espero que os jogadores façam também a parte deles como nós fizemos na época e sejam lembrados aqui dentro como grandes campeões”, finalizou Negão.
Segunda partida da final
No próximo domingo, 08 de abril, no estádio Morenão, em Campo Grande, o Corumbaense terá a chance de ser campeão oficialmente sobre o Operário e o “Galo da Capital” terá a oportunidade de devolver a frustração da perda do título de 1984. O “Galo Pantaneiro” precisa de apenas um empate para confirmar o tricampeonato estadual, enquanto para a equipe campo-grandense só a vitória interessa para que levante a taça 21 anos depois da sua última conquista.
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