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Cobra-cigarra encontrada em posto de saúde reacende lendas pantaneiras

Caline Galvão em 08 de Janeiro de 2016

Fotos: Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

De acordo com o biólogo José Carlos Carvalho, o inseto não tem veneno, não tem ferrão e é inofensivo

Por volta das 10h da manhã de quinta-feira (07), desesperados com um estranho animal que foi encontrado dentro da Unidade Básica de Saúde João Moutinho, no Cristo Redentor, os funcionários do local acionaram o Corpo de Bombeiros. Tratava-se de um bicho popularmente conhecido como cobra-cigarra. Sem conhecer nada sobre a espécie, os bombeiros tiveram o cuidado de tratá-lo como animal peçonhento, já que diversas lendas envolvem o bicho que na verdade é um inseto.

“Eu já ouvi falar que ela tem um ferrão que se pregar, a pessoa vai secando e secando. Eu aviso sempre às crianças para terem cuidado com ela. A cobra-cigarra, se ferrar você, te faz emagrecer, dá remédio e não sara e vai indo até morrer, então nós temos que ter medo dela”, alertou o “seo” Maturino, conhecido na região como o “rei do Pantanal”. De acordo com ele, o inseto mata o ser humano de maneira rápida e não há antídoto que cure o seu veneno.

"Seo" Maturino acredita que a cobra-cigarra seca a pessoa e leva à morte

Conta a lenda que a cobra-cigarra pode pregar no seu coração, ferroar você, jogar veneno e te matar em 24 horas. E ainda tem mais, a cura está em você fazer sexo antes do tempo limite da morte, ou seja, em menos de um dia depois de ter sido infectado. Histórias como essas podem ser ouvidas dos mais antigos moradores da região do Pantanal, como o senhor Paulo Fernandes, o “seo” Maturino.

No entanto, o biólogo José Carlos Carvalho Júnior explicou ao Diário Corumbaense que os funcionários e pacientes do posto de saúde podem ficar tranquilos.  A cobra-cigarra é nada mais que uma cigarra inofensiva e, por causa do seu aparelho bucal diferenciado, que mais parece com a cabeça de um réptil, o pessoal começou a chamá-la de cobra-cigarra.

“Com certeza ela foi encontrada no posto de saúde atraída pela luminosidade. Ela vive em florestas, tem hábito noturno, então essa luminosidade, que é característica de insetos, fez com que ela chegasse até à cidade, algumas residências e até ao posto de saúde”, explicou o biólogo, que leciona sobre biologia a estudantes de escola rural.

De acordo com José Carlos, a cobra-cigarra é um inseto homóptero da família das cigarras, encontrada geralmente em florestas tropicais e às vezes chega à cidade atraída pela luminosidade, característica dos insetos. Ela é encontrada em toda a América do Sul, mas a destruição de florestas como a Mata Atlântica, Amazônia e Pantanal faz com que seja encontrada em áreas urbanas.  É também encontrada em regiões da Ásia, como no Japão e algumas são consideradas pragas em plantações de arroz.

Biólogo segura espécie de acervo, preservada em álcool 70

“Mas a maioria é encontrada na América do Sul, principalmente na região amazônica, que é floresta tropical de região chuvosa. Tem hábito noturno, se alimenta de néctar das plantas e tem predadores naturais como aves, anfíbios, pequenos mamíferos. É na verdade uma cigarra com esse formato de bico de jacaré ou outro réptil, por isso associaram ela a uma cobra-cigarra. Tem hábito sugador, por se alimentar de néctar, mas é inofensiva, não traz nenhum risco ao ser humano”, assegurou o biólogo.

“Por causa da coloração dela, parecida com madeira, algumas pessoas dizem que quando ela posa na madeira, acaba secando esse vegetal, que na verdade já podia estar seco ou com problema de seiva e aí depois que o animal pousou, deu a impressão que ele secou o vegetal, por isso a lenda popular de que uma picada dessa cobra-cigarra secaria as pessoas, que morreriam em até 24 horas. Só que é uma lenda e é um animal inofensivo”, esclareceu o biólogo.

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