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Jovens fazem mutirão de limpeza, mas moradores continuam jogando lixo

Caline Galvão em 07 de Janeiro de 2016

No conjunto Primavera, próximo ao bairro Nova Corumbá, parte alta da cidade, um grupo de oito adolescentes e crianças realizou mutirão de limpeza que terminou com aproximadamente 50 sacos de lixo. A iniciativa aconteceu na véspera de Natal, quando dois desses adolescentes quiseram passar a data desfrutando do local mais limpo e organizado.

Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Ação aconteceu no conjunto Primavera, mas não demorou para sujeira voltar a ser acumulada

 “A gente pensou assim, vamos limpar o ponto de ônibus para a gente passar o Natal ali, com os nossos colegas. Aí peguei a enxada lá em casa para capinar, e limpamos tudo, mas meu colega disse para limparmos o bairro todo. Aí disse que só nós dois não dava, mas estava cheio de lixo e decidimos:  vamos limpar, então fomos”, explicou o adolescente Rômulo Rodrigues, de 17 anos, que está de férias.

Mas faltavam os sacos de lixo. Para isso, os amigos se uniram e foram pedir moedas aos vizinhos, a fim de comprarem os sacos. Depois de arrecadarem certa quantia em dinheiro, a dupla conseguiu a adesão de mais seis adolescentes e crianças colocaram sacos plásticos nas mãos para se protegerem e cada um começou a retirar todo o lixo que encontrava pela frente.

Fraldas, pneu de bicicleta, espelho, restos de máquina de lavar, aparelho de som, lixo orgânico, roupas e até calcinhas e cuecas foram encontrados pela equipe. Todo esse lixo tem sido constantemente jogado pelos próprios moradores nos terrenos baldios e nas calçadas. A cesta de lixo que hoje existe no ponto de ônibus da rua República da Bolívia, no conjunto Primavera, foi colocado pelo grupo de jovens com o objetivo de não serem mais obrigados a ver lixo no local.

“Nós tivemos essa iniciativa também por causa da dengue e minha irmã está grávida e está com medo do zika vírus. Nós deixamos tudo limpo e o caminhão de coleta de lixo passou e levou os sacos de lixo”, disse Rômulo, já consciente da gravidade da doença.

Depois de limpeza, sofá foi abandonado em ponto de ônibus

No entanto, da noite para o dia, um sofá apareceu no ponto de ônibus. Cascas de ovos com água parada foram flagradas pela reportagem do Diário Corumbaense, além de inúmeros recipientes com acúmulo de água. Moradores jogando entulho nos terrenos baldios também foram flagrados, reforçando a falta consciência por parte de muitos deles.  

O aposentado Aroldo Gama de Melo também é exemplo de bom vizinho. A calçada dele é limpa todos os dias e ele faz questão de varrer toda a rua. O morador chega a jogar água sanitária e detergente no ponto de ônibus todos os dias, para manter o ambiente longe da sujeira. “O ponto de ônibus quem limpa todos os dias sou eu e a gurizada, mas sempre aparece lixo”, disse o aposentado.

Casa abandonada é criadouro de mosquitos

Elivelton Makicy, de apenas 10 anos de idade, é mais consciente do que muitos adultos. Indignado com a sujeira provocada pelos moradores, Elivelton foi um dos garotos que realizaram a limpeza. “Eu ajudei porque a gente pegou todas as garrafas plásticas que acumulavam larvas do mosquito porque tem que ajudar, senão, fica doente”, disse o menino. “Eles jogam, a gente tem que limpar. Eles têm que ajudar, pegar uma sacola, colocar o lixo na sacola, juntar e esperar o caminhão de lixo passar. Simples”, enfatizou Elivelton, que estuda na Escola Municipal Cássio Leite de Barros e afirmou ter aprendido tudo sobre a dengue na sala de aula.

Casa abandonada tem água parada em geladeira, fogão e caixa de água

O menino estava indignado e mostrava, à equipe de reportagem, diversos recipientes com acúmulo de água nos terrenos. Ele virava de cabeça para baixo todos os materiais que encontrava, a fim de retirar a água. Elivelton, juntamente com Rômulo, mostrou a este Diário uma casa abandonada, na rua Cáceres, que é um verdadeiro criadouro de mosquitos.

No local, foram encontrados geladeira e fogão abertos ao ar livre, com água parada dentro. E o mais grave, uma caixa d’água aberta e com água parada. Além disso, um sanitário em banheiro no quintal com porta aberta, onde um cachorro aproveitava para "relaxar". O local, infestado por mosquitos, causa revolta na vizinhança.

“Para mim, isso é um absurdo porque eu tenho oito filhos pequenos, inclusive, meu filho de cinco anos de idade achou larvas de mosquito da dengue na minha caixa, sendo que eu lavo todos os dias ela, mas na casa abandonada estava cheio de larvas na caixa d’água. A gente foi lá, retirou a água da caixa, mas como é muito pesada, não conseguimos virá-la”, relatou a vizinha da casa abandonada,  Elisângela Flávia da Silva.

Ela denunciou que há muitos vizinhos que não respeitam e jogam lixo no terreno na frente e há um vão no meio da mata que está com grande quantidade de lixo, colocado por alguns moradores. “Eu limpo tudo, meus filhos limpam todos os dias, mas os vizinhos não colaboram e o terreno tem dono, mas o dono não manda limpar”, afirmou.

Do outro lado da rua, em frente à casa da mãe do garoto Elivelton, mais terrenos baldios com mato alto, cujos proprietários não se importam em limpá-los. “Seria melhor que todos os moradores se conscientizassem e pegassem junto essa causa, porque não adianta só as crianças e os adultos ficarem de fora. Tem muita gente que ainda não tem consciência, mas com a nossa ajuda, eles vão criando essa consciência de limparem melhor o ambiente”, disse Keila Aparecida, mãe de Elivelton.