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Promessa a São Francisco de Assis fez Izulina Xavier descobrir talento para as artes

Lívia Gaertner - especial para o Diário Corumbaense em 16 de Novembro de 2022

Anderson Gallo/Arquivo Diário Corumbaense

"É aqui que eu quero ficar. Nunca mais eu vou embora daqui!”, disse Izulina quando chegou à região, em 1944

Cidadã corumbaense, sul-mato-grossense e doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, a artista plástica piauiense, Izulina Gomes Xavier, que escreveu de forma definitiva seu nome na história da cultura corumbaense, faleceu nesta quarta-feira, 16 de novembro, aos 97 anos.

Pelas mãos dela foram produzidas centenas de estátuas em concreto e também, em menor número, em madeira, além de assinar várias publicações, entre peças de teatro, romances e cordéis. Também há registros de sua breve atuação em pinturas em telas.

Izu, como era carinhosamente chamada pelos amigos, chegou ainda muito jovem à Corumbá, após ter se casado com José Xavier. Na viagem até a nova cidade, a bordo de um vapor pelas águas do rio Paraguai, o encantamento tomou conta de Izulina que lembrava: “Aquela água toda! Não era mar. Não era água salgada, era doce. Água pra beber! É aqui que eu quero ficar. Nunca mais eu vou embora daqui!”.

Anderson Gallo/Arquivo Diário Corumbaense

Entre suas maiores obras estão o Cristo Rei do Pantanal e a via crucis

Foi devido a vicissitudes da vida, que acabou descobrindo o talento que a revelaria como artista plástica. Por causa de uma promessa a São Francisco de Assis, Izulina se arriscou numa atividade que nunca tinha tido contato: esculpir em concreto. A enorme peça foi moldada em frente de sua casa durante vários meses. Autocrítica, ela não gostou tanto do resultado, mas quem passava todo dia em frente de sua casa e pôde acompanhar passo a passo a montagem da estátua, encantou-se.

“Tinha um dentista que sempre passava aqui por frente e, quando ele percebeu que tinha acabado, chamou todos os moradores próximos para ver a estátua. Eu me assustei com tanta gente na porta de casa e pensei que tivesse ocorrido algo errado com algum familiar, mas, na verdade, todos vieram me cumprimentar pelo trabalho. Esse foi meu batismo como escultora”, lembrou dona Izulina em entrevista ao Diário Corumbaense em 2018.

A partir daquela estátua, passou a se dedicar à atividade e tem peças espalhadas por Corumbá e outras cidades do Estado, além do país vizinho, Bolívia.

Por seu carisma e importância cultural, Izulina Xavier foi homenageada na maior festa popular da cidade, o Carnaval, em duas ocasiões. Em 2003 e 2006, a história da artista foi apresentada na avenida General Rondon, passarela do samba corumbaense, pela escola Império do Morro.

Diário Corumbaense

Entrevista para o quadro "A História da Nossa Gente", em 2013

É do ano de 2004, uma das suas maiores obras que se incorporou à paisagem e ao afetivo cultural de Corumbá: o Cristo Rei do Pantanal e a via crucis, instalados no Morro do Cruzeiro. Parte do trajeto de subida ao local abriga um conjunto de 72 peças que representam as 14 estações da Via Sacra. O local é ponto turístico da cidade e também de eventos religiosos.

Em 2013, o Diário Corumbaense produziu com a artista um dos episódios da série “A História da Nossa Gente”, onde ela conta sua trajetória de vida e a relação com a cidade que a acolheu e a referenciou como ícone cultural.

Relação de obras literárias publicadas:

Romances

10 Anos de Emoções (1971);

Um Rapto na Madrugada (1975);

Uma Mulher Antes e Depois da Operação Plástica (1978);

Um grito no Pantanal (1985) ;

Meu Pequeno Mundo (1988) e

Amor de Fronteira (1994).

História de Cordéis

A Nudez de Anita (1984);

O Vaqueiro (1986);

Maria Pernas Finas e Desdentada (1986);

Adeus (1986) e

Meu Santinho de Lata (1987).

Contos infantis

Contos da Vovó (1989)

Peças teatrais

Amor de Fronteira e

Delinquente

Relação de Esculturas em Concreto:

Corumbá

Monumento às três Forças Armadas (Jardim da Independência)

Cristo Redentor (entrada do bairro Cristo Redentor)

São Francisco (praça Salim Chamma)

Soldado desconhecido (quartel do 17º Batalhão de Fronteira)

Nossa Senhora da Candelária (em frente ao cemitério Nelson Chamma)

Cristo Rei do Pantanal (morro do Cruzeiro)

Via Sacra, com 72 estátuas (subida do morro do Cruzeiro)

Nossa Senhora do Pantanal (igreja São Vicente)

Monumento ao Lions Clube Corumbá Pantanal (rodovia Ramão Gomes)

Nossa Senhora do Carmo (Forte Coimbra)

Águia (no topo da Casa Vasquez, ladeira José Bonifácio)

Painéis sobre História de Corumbá – (terreno da residência da artista)

Dom Bosco (em frente à paróquia de São João Bosco)

Ladário

Busto de Miguel Couto (praça 14 de Março)

Irmã Regula (praça Matriz)

Painel do Porto de Corumbá (6º Distrito Naval)

Puerto Suarez (Bolívia)

São Francisco

Madonna

Soldado Desconhecido

São Miguel

Anjo

Puerto Quijarro (Bolívia)

São Francisco

Cristo

Virgem Maria

Sagrado Coração de Jesus

Igrejas construídas:

Nossa Senhora do Carmo (bairro Aeroporto)

Da comunidade do Urucum (zona rural de Corumbá, próximo à rodovia BR-262)

Comentários:

Rozilene Amaral : Como ela disse na reportagem o sentimento que ela teve por Corumbá, eu tive esse mesmo sentimento pela cidade de Campos do Jordão São Paulo, quando fui pela primeira vez lá, amei tanto que pensei aqui que quero morar para sempre! Cidade geladinha o ano todo! Não tem verão!

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