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Por dentro da folia - Destaques: História e Adaptação

Por Victor Raphael (*) em 31 de Janeiro de 2020

O desfile das escolas de samba tomou a forma como conhecemos hoje bebendo na fonte de outras manifestações carnavalescas da primeira metade do século XX: as alegorias presentes nas Grandes Sociedades, o ritmo que já fazia parte de alguns ranchos e blocos, além das vestimentas em fantasias típicas dos agregados e dos cordões.

 

Numa analogia simples, o carnaval sempre foi considerado o momento em que “maltrapilhos se transformavam em reis”, e vice-versa. E esse expediente foi largamente utilizado nas escolas de samba ainda embrionárias do Rio de Janeiro, onde se via em meio ao cortejo, pessoas vestindo roupas exageradas e com as “falsas relíquias” cheias de brilho típicas do período momesco. Era nessa caracterização que nasciam os destaques de escolas de samba, que, até meados dos anos 60, desfilavam, no chão, entre uma ala e outra, mesmo carregando costeiros com peso acima de 30 quilos.

 

A criação do conceito do destaque no universo dos desfiles tem como endereço o bairro de Madureira, onde Olegária dos Anjos, da Império Serrano é a matriarca de uma verdadeira legião de pessoas que gastam vultuosas quantias para mostrar figurinos com toda a exuberância e opulência que o cargo exige. De Clovis Bornay a Carlos Reis, passando por Tânia Índio do Brasil, Evandro de Castro Lima e Jésus Henrique, os concursos de fantasias, nas décadas de 70 e 80, sobretudo, ajudaram a lançar os holofotes em torno dessas pessoas que são apaixonadas por transformar uma temática em uma aula de luxo e originalidade.

 

Em Corumbá, por essa ligação umbilical com a cultura carnavalesca carioca, não haveria de ser diferente. Vários destaques começaram a aparecer no cenário da folia corumbaense, com fantasias bordadas à mão, mesmo os paetês que ajudavam na ornamentação dos figurinos. Félix Rodrigues, Laudelino Neves, Zezinho Cabeleireiro, Genésio, Airton Rosa, Benevides Fernandes e, a pioneira entre as mulheres, a senhora Maria do Carmo, mais conhecida em Corumbá como Maria Mulata; ajudaram a construir esse imaginário de luxo e fascínio através de plumas e recortes espelhados.

 

Dentro dessa ideia de dar visibilidade, nasce o Concurso de Fantasias, pelas mãos e genialidade do saudoso Claudio José (fica o registro para que as escolas de samba de Corumbá possam tratá-lo com um enredo possível), trazendo consigo uma nova geração de destaques, inclusive oriundos de outros municípios, onde podemos citar: Kiro Panovitch, Laura Summer, Jackeline Pazzoliny, Marcia Lins, Pelucy Velmont, Claudinho Tasso, Marcos Soledade, Viktoria Lorrayna, Valdir Gomes, Adão Barbosa, Carlos Flores, Ranulfo Galeano, e outros tantos que marcam uma história de garbo e elegância no carnaval da nossa cidade branca.

 

E como em tudo que se relaciona com carnaval tem a sua parte folclórica, vai aí uma fresquinha de 2020. A destaque hors concours do carnaval corumbaense, Fernanda Vanucci, anunciou (já não é a primeira vez) a sua despedida das passarelas do Concurso de Fantasias. Esperamos que seja mais uma das despedidas que não duram até a quarta-feira de cinzas, como tantas outras já vistas nos alfarrábios carnavalescos.

 

Evoé!

 

(*) Victor Raphael é compositor e diretor da Liga Independente das Escolas de Samba.