Lívia Gaertner em 08 de Março de 2018
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Olga escolheu trombone para se especializar, instrumento também pouco habitual entre as musicistas
Na cidade pantaneira há cerca de um ano, a sargento é natural de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, e, na unidade militar situada na fronteira oeste do país, escreveu seu nome como a primeira mulher a integrar o Grupamento de Fuzileiros Navais de Ladário e a banda de música do 6º Distrito Naval.
“Fui a única mulher do meu curso, dentre quase mil alunos, mas temos outras mulheres no Brasil no Corpo de Fuzileiros, não muitas, mas há”, comentou a militar sobre o fato de pertencer a um grupo preparado para enfrentar combates e situações hostis como sugere o próprio nome ‘fuzileiro” ao lembrar que os integrantes são aqueles habilitados a utilizar armamento (mais habitualmente fuzis) para proteção das unidades militares.
Arquivo pessoal
Durante curso de formação, sargento Olga foi a única mulher entre quase mil homens a integrar a turma
“No começo é difícil estar inserida num ambiente exclusivamente masculino, mas a gente percebe o esforço no dia a dia para respeitar a presença, a maioria compreende a importância de estarmos ali, é claro, tem uma minoria que não, mas isso não desmotiva”, disse Olga sobre o fato de estar “na linha de frente” da participação das mulheres na tradicional instituição militar.
“O preconceito não sinto, não diria que é isso, mas há sempre uma desconfiança porque eles não estão acostumados. No início pensam: 'essa menina não vai conseguir carregar essa mochila, não vai conseguir carregar esse fuzil' e daí eles veem que sim, se surpreendem e acabam espelhando em nós a esposa, uma filha, uma sobrinha e dizem: 'gostaria que minha filha também fizesse isso', mas há o período da adaptação sim”, confessou ao Diário Corumbaense sobre como as mulheres vêm ganhando seu espaço num ambiente ainda predominantemente masculino.
Durante a formação ou nos afazeres já como sargento, Olga contou que não sente distinção entre as tarefas pelo fato dela ser mulher. Segundo ela, além de provar para os colegas que é capaz, precisou provar a si mesma que venceria o grande desafio da vida militar e, hoje, se sente certa dessa igualdade que ainda é uma grande luta das mulheres em outros setores da vida civil.
“A filosofia é a mesma: espírito de corpo. Todo mundo sai junto, chega junto e, quando a gente começa a mostrar nosso valor militar, ganhamos essa valorização. Hoje, eu não me sinto diferente de um soldado da tropa”, disse.
Olga sabe que sua simples presença, seja desempenhando as funções como fuzileiro ou na banda de música, é observada por um importante público: aquele que se espelha no seu exemplo.
“Eu me sinto com uma carga enorme nas costas e privilegiada ao mesmo tempo. Às vezes, a gente sai para correr de manhã na rua e, quando me sinto cansada e vejo que tem uma menina próxima, penso que não posso parar porque ela tem que ver que consigo, porque vai que um dia ela queira entrar para a Marinha”, contou.
Arquivo pessoal
Em carreira ainda dominada por homens, Olga vem ganhando o respeito dos colegas ao superar as tarefas militares
Início em projeto social
Dessa forma, a jovem que se apaixonou pela música ao frequentar um projeto social de sua cidade e teve como pretensão um curso superior na área – ela é bacharel em trombone pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - a sargento Olga, hoje, sabe que seu talento musical caminha lado a lado com o exemplo de superação e pioneirismo para o público feminino a quem manda um recado.
“Não desista do seu sonho nunca, não acredite em palavras negativas, estude sempre. Acredite no seu potencial e não dê ouvidos para quem quer desestimular dizendo que carreira militar é coisa para homem”, finalizou Olga que também se inspira em outra mulher, a segundo-tenente Auxiliar Fuzileiro Naval, Débora Ferreira de Freitas, que faz parte do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais e que se tornou, em 2016, a primeira mulher habilitada a comandar um pelotão de infantaria no Brasil.
A Marinha do Brasil foi a primeira das Forças Armadas a admitir a presença de mulheres em seus quadros. Mais recentemente, em abril de 2017, a Marinha ampliou a participação de oficiais e praças femininas em atividades de aplicação efetiva do Poder Naval, autorizando o embarque em navios e unidades de tropa.
Arquivo pessoal
"Acredite no seu potencial", aconselha sargento Olga que já marcou seu nome no 6º DN por pioneirismo
09/03/2018 Em sessão solene, vereadores homenageiam personalidades femininas
09/03/2018 “Ele faliu nossa empresa de propósito”, revela esposa vítima de violência patrimonial
08/03/2018 Mulheres corumbaenses que marcaram nome no país
08/03/2018 Apenas dois partidos políticos têm maioria feminina no Brasil
08/03/2018 Mulher é maioria no Estado e tem espaço para crescer no mercado de trabalho
08/03/2018 Contra estereótipos e discursos equivocados, Feminismo ainda é movimento necessário
07/03/2018 IBGE: mulheres ganham menos que homens mesmo sendo maioria com ensino superior
Vera Lucia dos santos: Hoje vi essa notícia e não poderia deixar de te parabenizar,pela garra que vc teve de ir a luta ,me lembro de vc com 1 aninho quando ficava na minha casa pra sua mãe trabalhar ,agora essa mulher guerreira isso não tem preço,que Deus te abençoe grandemente sua vida hoje é sempre.abraços e bjs......
No Diário Corumbaense, os comentários feitos são moderados. Observe as seguintes regras antes de expressar sua opinião:
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site. O Diário Corumbaense se reserva o direito de, a qualquer tempo, e a seu exclusivo critério, retirar qualquer comentário que possa ser considerado contrário às regras definidas acima.