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Sem festança, banho de São João foi celebração familiar de fé e devoção

Rosana Nunes em 24 de Junho de 2021

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Família do bairro Generoso descendo a ladeira Cunha e Cruz, cantando a ladainha em homenagem ao santo

Patrimônio Imaterial do Brasil, o Banho de São João nas águas do rio Paraguai, em Corumbá, não pôde mostrar todo seu esplendor em razão da pandemia do novo coronavírus pelo segundo ano seguido. Mas, a tradição foi mantida pelos festeiros. Isoladamente, muitos deles desceram com seus andores para a prainha do Porto Geral e justificaram o reconhecimento do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), como a mais popular celebração do povo corumbaense.

Não temos festa, mas graças a Deus, conseguimos dar o banho nele para agradecer e pedir para que no ano que vem, tudo corra bem e que a gente possa retornar nossa festa”, disse, ao Diário Corumbaense, Auxiliadora Batista Moura, 37 anos , que conduziu o andor e respeitou a promessa que vem se perpetuando a cada geração de sua família.


Com normas de biossegurança e distanciamento, determinadas pela Prefeitura, a imensa festa do banho do santo foi silenciosa. Não houve os grandes cortejos com o ritmo marcado pelo som da ladainha: "Deus te salve João Batista sagrado, o seu nascimento, nós temos que alegrar". Ainda assim, foram ouvidos os versos da mesma canção dizendo: "Se São João soubesse, que hoje era o seu dia, descia do céu a Terra, com prazer e alegria".


Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Não importou o tamanho do andor, mas sim a renovação da fé em São João

O espírito do banho de São João pairava em cada centímetro percorrido pelas procissões de festeiros-devotos entre a ladeira Cunha e Cruz e a prainha que margeia o rio Paraguai. Cada andor que descia para a purificação nas águas do rio –rememorando o batismo de Jesus Cristo por João Batista, nas águas do rio Jordão – emocionava pela fé e devoção que seus fiéis deixavam transparecer.

O que vale é a fé, a devoção, a crença que a gente tem nele. É pelas graças concedidas por ele (São João Batista) que estamos aqui. Todos pedimos que dê força e saúde para aquelas pessoas que estão no leito do hospital, para todos que necessitade oração. Estamos passando por dois anos de batalha, mas com a graça dele, ano que vem estaremos aqui celebrando nossa festa e nossa cultura”, afirmou Elaine Ortiz, 39 anos, que carregou com orgulho o andor de sua família, do bairro Generoso.


Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Família quilombola Campos Correia mantendo a tradição

Diferente de anos anteriores, a Cunha e Cruz ficou vazia. O imaginário lotado de lembranças. Recordações de quando as enormes filas se formavam na ladeira para que mulheres; homens; adolescentes; idosos e até crianças passassem por baixo dos andores inúmeras vezes e sem qualquer cerimônia. Estava ali a tradição de passar embaixo de sete andores, na ida e na volta, que na crença dos fiéis garantia a proximidade do casamento.

Dentro de nossos corações sempre terá uma festa. Este ano, não houve devido a pandemia. Mas, a fé nos move sempre nos moverá e ano que vem, se Deus quiser, será como nós corumbaenses gostamos, com alegria, muita festa e tudo voltará ao normal. fé sempre estará em nossos corações, assim como a festa e a celebração a São João”, declarou Stefany, devota e festeira da família quilombola Campos Correia.



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