Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 03 de Julho de 2020
Nossa comunicação mais abrangente na sociedade moderna ocorre por meio da fala e da escrita e se efetiva na compreensão e interpretação do texto como um todo, num processo de coprodução entre interlocutores, e num contexto de produção e recepção. Assim, uma das primordiais tarefas do professor de português é ensinar aos alunos atividades de leitura e de interpretação. Atualmente, e com a variedade de textos multimodais à disposição dentro e fora da sala de aula, esse trabalho se tornou desafiador porque os leitores, nomeadamente crianças e adolescentes, são estimulados pela metalinguagem presente nas mensagens curtas e imagéticas do que na leitura do texto meramente gráfico, com expressões basicamente lineares.
Para Silva e outras (2009), a leitura, como área de aplicação da linguística, evoluiu, assim, não se pode submeter o processo de leitura ao reducionismo, segundo o qual o texto é produto de um trabalho intencional, e o leitor deve captar dele apenas um sentido que já estaria lá. Incorrer no oposto disso seria, igualmente, uma atitude reducionista, pois levaria ao exagero do “lúdico”, em que a polissemia se pretenderia total. Nisso, concordamos com Eco (1986, p. 47), entendendo que, por maior que seja o número de interpretações possíveis, uma deve ecoar a outra, de modo a reforçar-se mutuamente. Contudo, para isso se efetivar, é preciso que o texto seja lido na íntegra. Para que ele seja entendido, não pode ser particionado.
O que acontece com frequência é que as pessoas querem ler muito e rapidamente, recuperar o tempo perdido, absorver mais informação e preencher vazios, numa leitura en passant, na qual simplesmente passam os olhos em busca de palavras-chave que tenham relação com o título, e desse modo acabam comprometendo o entendimento do verdadeiro sentido pretendido pelo autor. Entretanto, mesmo assim, insistem e emitem opinião e até severas críticas. É comum vermos isso em jornais, rede social etc.
Cuidado, pois o velho hábito de julgar o livro pela capa não se aplica na comunicação falada ou escrita nesses ambientes. Evite essa conduta. O melhor é ler com calma, compreender e interpretar o texto para depois opinar. Até a próxima! Se cuidem, e fiquem em casa!
(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.