Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 03 de Abril de 2020
A Semana Santa se aproxima e, com ela, a celebração da Páscoa, momento profundamente aguardado por nós, cristãos, quando celebramos a ressurreição de Jesus Cristo. A palavra Páscoa é oriunda do vocábulo hebraico pesach, que significa passagem. O conceito está associado aos fatos vivenciados pelos cristãos e contam a história do sofrimento do filho de Deus, de sua injusta morte e da sua gloriosa subida ao céu. Todos os cristãos conhecem detalhadamente bem essa história de sofrimento e de entrega para nos salvar do pecado.
O termo Páscoa registra também a evolução das expressões latinas pascha e pascua, que querem dizer alimento, pasto, e que explicam a época da colheita, o fim do inverno e o início da primavera, em regiões do Hemisfério Norte. Daí as pessoas comemorarem com abundância de comida e bebida o domingo da Páscoa. Porém, o sentido mais forte da celebração da Vigília Pascal é aquele que nos orienta como cristãos, e que fortalece a nossa fé na ressurreição e na vida eterna prometida por Deus para todos que andam no caminho do amor, da justiça e do perdão. Sentimentos como esses predominam neste ano, em que teremos uma Páscoa atípica, quando nem a Igreja Católica poderá reunir fisicamente os fiéis para celebrá-la, e tampouco os cristãos sairão de suas casas para as comemorações.
Entretanto, estando dentro de casa, e protegidos do mal das ruas, poderemos fazer nossas reflexões sobre a vida e as pessoas que amamos; sobre o Planeta e o meio ambiente, dos quais tanto dependemos, e que maltratamos demais; e de como sermos tementes a Deus e seguir seus mandamentos ou de quando ignoramos seus ensinamentos. A hora é de gratidão e de arrependimento, de doação, e de oração pelas centenas de milhares de pessoas doentes no mundo, e por aquelas que choram seus mortos sem poder se despedir deles, nessa pandemia imposta pela COVID 19. Contudo, a doença que flagela a Terra não pode ser maior que o nosso desejo de sobreviver e de ajudar a quem precisa. Na verdade, este momento oportunizou às pessoas revelarem seu belo gesto solidário.
Temos visto, aliás, bons exemplos, que nos confortam como cristãos. As ações vão desde a ajuda sistematizada do estado na distribuição de kit merenda, do auxílio financeiro aos trabalhadores informais, do apoio às empresas que mantêm os empregados, às manifestações individuais de fazer compras para idosos, vaciná-los em casa e nos carros, até aquelas do terceiro setor de produzir e doar máscaras e produtos de limpeza para hospitais e setores da saúde. De fato, a população tem se mobilizado com rápidas e profícuas ações que dariam inveja a qualquer general. Não nos compete julgar, procurar culpados ou quem caminha na contramão de soluções, mas, sim, fazer o que for preciso para aliviar necessidades individuais e coletivas de quem sequer tem água e sabão para a prevenção básica.
Amigos, esta é a Páscoa da união e da solidariedade, momento de olhar do lado e, mais do que nunca, dividir o pão e multiplicar o amor. Lembrar que, diante de uma pandemia, somos todos iguais, assim como somos diante de Deus, essa é a atitude cristã para ultrapassarmos a tribulação. Seja você também um voluntário da esperança nesta luta pela vida, esse é o verdadeiro sentido da Páscoa. Uma Santa e abençoada semana para todos. Até a próxima.
(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.