Nelson Urt em 21 de Setembro de 2019
Navepress Acervo municipal deve contar com sala climatizada até o final do mês
Lá dentro podem ser consultados os dois únicos e raros livros publicados por Lobivar: Areôtorare (1935) e Sarobá (1936), este com poesias e personagens sobre uma favela de negros formada em Corumbá no período pós-abolição. Só essas duas obras bastam para agregar um rico acervo, mas há muitas outras. A coleção total contém 30 mil itens, entre livros, revistas e jornais.
A biblioteca foi reaberta ao público no começo de agosto, após seis meses sem funcionar. Nela, além das obras de Lobivar, podem ser encontrados livros referências na história regional de autores como Manoel de Barros, Pedro de Medeiros, Valmir Corrêa, Augusto César Proença, Benedito C.G.Lima e outros expoentes da história cultural. Há um raro exemplar de Sopa Paraguaia, livro de crônicas e poesias do escritor ladarense João Lisboa de Macedo, além de jornais e revistas do século passado.
No mesmo prédio funcionou durante décadas a Câmara Municipal, antes de se transferir para casa própria ao lado da Prefeitura, no bairro Dom Bosco.
O salão passou a ser destinado a outros setores administrativos ligados à Educação, e ficou conhecido como Espaço Educacional. Foi sede do Cartório Eleitoral e passou uns tempos nas mãos do IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul). A biblioteca chegou a funcionar no andar térreo do Grande Hotel de Corumbá, onde se instalou por um período a Fundação de Cultura, presidida por Helô Urt. Os demais blocos do Grande Hotel estavam desabitados e interditados pela Defesa Civil.
A biblioteca municipal foi fundada em 1948, mas só em 1975 ganhou o nome de Biblioteca Municipal Lobivar Matos por meio de lei estadual no então Mato Grosso, portanto, antes da divisão do Estado. O poeta Lobivar era conhecido em Cuiabá, então capital do Estado, onde morou durante a juventude, após publicar seus dois livros.
Quando o prédio inteiro do Grande Hotel foi interditado pela Defesa Civil, por questões de segurança, a biblioteca passou uma temporada em uma sala do prédio da Missão Salesiana, na rua Dom Aquino. Seguindo sua peregrinação, foi transferida para o prédio histórico do Instituto Luiz de Albuquerque, na esquina da rua Antônio Maria com a Praça da República. Um dos primeiros conjuntos arquitetônicos construídos em Corumbá, há 148 anos, o ILA já necessitava naquela época de uma revitalização, mas faltavam projetos e recursos para isso.
Em 2014, o prédio do ILA passou por uma reforma emergencial no telhado, que estava caindo. Outros reparos foram feitos nas instalações elétricas. Mesmo deteriorado, o prédio abrigou por longo tempo a sede da Fundação de Cultura, com salas ocupadas pela Biblioteca Municipal Lobivar Matos e o Museu Regional. Durante o Carnaval e o Banho de São João as salas serviam como oficinas de montagem. Ali costuravam-se as fantasias do Bloco dos Palhaços e da Ala das Pastorinhas. Também no ILA funcionava a oficina da Companhia de Teatro Maria Mole, conduzida pela diretora teatral Bianca Machado.
E enquanto isso o teto desabava gradativamente, o piso apodrecido de madeira das salas e escadas cedia, num caminho sem volta para a deterioração. O ILA é um dos prédios históricos contemplados para revitalização completa com recursos da União do PAC Cidades Históricas. O projeto de revitalização ainda deve ser concluído pelos órgãos públicos responsáveis – Estado, Prefeitura e Iphan – para que os recursos possam ser liberados pelo governo federal.
O resultado foi a interdição do prédio, por decisão da Prefeitura de Corumbá, após Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF). Na verdade, o MPF quis acelerar o processo, exigindo da administração pública que fossem tomadas medidas urgentes em atenção à segurança do prédio, seu acervo e funcionários. Com tanto material inflamável, era constante o risco de incêndio e de desabamentos do teto.
Dessa forma, o acervo da Biblioteca Lobivar Matos foi transferido para o Espaço Educacional, que por sua vez precisa passar por readequações e reformas. Ocupa um espaço provisório e ainda incompatível com as necessidades de uma biblioteca – falta acústica e salas separadas para o acervo, consultas aos livros e a recepção. O destino final da biblioteca, conforme planejado pelos gestores públicos municipais, é ocupar um andar do ILA, quando o instituto estiver restaurado, mas para isso ainda não existe previsão.
Serviço – Biblioteca Municipal Lobivar Matos, rua Delamare, 1557, Centro, prédio do Espaço Educacional, entre as ruas Major Gama e Firmo de Matos. Aberta ao público de segunda a sexta das 07h30 às 17h30.
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