Nelson Urt em 21 de Setembro de 2019
A advogada gaúcha Caroline Leandro, de 30 anos, encontrou em Corumbá um campo de novas experiências e relações antes inimagináveis para ela, acostumada à vida nas capitais e sem nenhum contato com o interior. Há dois anos, quando chegou, acompanhando o marido, militar do Exército, imaginava encontrar uma cidade “perdida no meio do nada, cercada pelo tráfico e pela violência”, de acordo com o estereótipo que haviam lhe “vendido” sobre a fronteira. Precisou de pouco tempo para mudar completamente de conceito. “Posso dizer que sou muito feliz em Corumbá, encontrei aqui a qualidade de vida que não vi em outros lugares”, constata. “Vou ser bem sincera, aqui eu me senti em casa, como se fosse o Rio Grande do Sul, onde nasci", acrescenta a gaúcha de Porto Alegre.
Não teve em Corumbá o mesmo choque cultural de quando foi morar no Recife e depois em Maceió. “Sofri muito por lá e chorava todo dia querendo ir embora”, lembra. “Aqui foi diferente. Existe uma cultura sobre as cidades de fronteira, dizem que são mais precárias e complicadas de se viver, vim preparada para o pior, me botaram muito medo. Hoje declaro meu amor a Corumbá”, diz. “Não tem trânsito, tudo é perto, não acho nada de precário no ensino, como diziam. Minha filha Isabela desenvolveu bem a linguagem”.
Caroline e o marido estudam na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), ela faz sua segunda graduação, em Letras, e ele cursa Matemática. Além disso, ela desenvolve um projeto sobre Violência Obstétrica dentro do Mestrado de Estudos Fronteiriços, pesquisando na Maternidade de Corumbá casos de maus tratos às gestantes durante e no pós-parto. A constatação recente é de que a Maternidade continua sem oferecer às gestantes uma UTI neonatal, o que aumenta consideravelmente os riscos quando há complicações pós-parto.
Corumbá, tão pequena quanto cosmopolita, contribui para que Caroline desenvolva outra de suas potencialidades: o feminismo. Nesse aspecto, ela se engajou ao projeto Leia Mulheres, que surgiu de um movimento digital voltado para incentivar obras literárias escritas por mulheres. Ela é uma das mediadoras dos debates que acontecem sempre no último sábado do mês às 17h no Sesc.
A primeira obra debatida no Leia Mulheres foi Quarto de Despejo, da ex-favelada Carolina Maria de Jesus. “É uma obra muito forte, verdadeira, eu sempre ouvia falar de miséria, mas foi através do livro dela que fui entender o que era miséria de verdade”, conta ao Diário Corumbaense.
Encantada com o Casario do Porto, as festas populares como o Banho de São João e o Festival América do Sul Pantanal, com o peixe a urucum, a saltenha e a sopa paraguaia, Caroline diz que enfim começa a viver seus sonhos, fora dos padrões sociais conservadores que a sociedade impõe às mulheres. “Corumbá tem muitas mulheres à frente do seu tempo, que não se deixam limitar pelo conservadorismo. É necessário que elas ocupem mais espaço na cidade, elas podem trazer um novo olhar sobre as dores que só as mulheres sentem, como as dores do parto”, conclui.
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