Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 30 de Agosto de 2019
Com foco no assunto da variação linguística observamos que a linguagem sofre modificação de região para região ao apresentar diferentes maneiras de dizer a mesma coisa com o mesmo significado. No Brasil, chamamos isso de dialeto ou de falares. Ou seja, é um conjunto de marcas linguísticas restrito a uma comunidade inserida numa comunidade maior de falantes da mesma língua. Assim, o traço característico de determinada região é coexistente com outro que espelha mesmo significado, por exemplo, no português do Brasil, o dialeto caipira.
Entretanto, destacamos que a variação na pronúncia, que caracteriza o sotaque de um grupo, não é a única marca regional de uma comunidade, pois a mesma pode ocorrer também em outros aspectos da língua. Por exemplo, quando diferentes palavras dão nome para a mesma coisa, trata-se de variação lexical, tal como, soutien, sutiã, calefon, corpinho, corpete, sustenta seio, porta-seio, guarda-seio, aperta-seio etc, nomes para peça íntima de vestuário feminino. Por outro lado, se a palavra é escrita de forma diferente num local e em outro, mas ambas designam a mesma coisa, por exemplo, salaminho (Corumbá) salamito (Sul do país), trata-se de variação morfológica, ou seja, na estrutura do vocábulo.
E quando a construção da frase for diferente, mas o significado for o mesmo, como em: não vou, não quero, não posso (Corumbá), vou não, quero não, posso não (Nordeste), trata-se de variação sintática. Silva et aliae (2009) arrolam mais exemplos de variação linguística. Dentre eles, quando há substituição total de vocábulo, mas permanece a mesma ideia, temos variação semântica, por exemplo: subida de custos e aumento de custos. Já na ortografia da palavra, a variação pode alterar a mudança de pronúncia, como em factura (Portugal) e fatura (Brasil), embora ambas referem-se a documento comercial. Do acervo do vocabulário comum na região pantaneira destacamos pintado e surubim para dar nome a peixe da mesma espécie.
As autoras ressaltam, ainda a variação estilístico-pragmática nos seguintes enunciados: Queiram se sentar; Por favor; e vamo se sentano aí galera. Tais expressões circulam como formas estilísticas marcadas por maior ou menor grau de formalidade na interação entre os interlocutores. Vocês perceberam que a variação linguística não precisa ser, necessariamente, uma comparação do modo de falar dos grupos ou comunidades sociais, ela pode ser também estudada ao compararmos a fala dos indivíduos entre si.
Se um cidadão corumbaense se mudar para o Rio de Janeiro e ficar por lá alguns anos, quando retornar, a sua fala terá marcas da influência do falar carioca. Isso porque somos afetados pela interação que estabelecemos com o meio onde convivemos socialmente. Nossas reflexões comprovam a natureza da língua como organismo vivo, passível de variação, de adequação e de mudança. Sobre o nosso sotaque corumbaense e o jeito peculiar de pronunciar o /S/ conversaremos na próxima semana. Até lá!
(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.