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Por dentro da folia - O “fazer” samba de enredo

Por Victor Raphael (*) em 19 de Janeiro de 2018

Aqueles que adoram os sambas de enredo, escutam e cantam na época do carnaval e até entoam obras clássicas dos desfiles nas festas da cidade, possivelmente já tiveram a curiosidade em saber como são feitos os sambas, de onde se extrai a inspiração para cantar em versos e prosas um tema que irá figurar entre alas e alegorias nos desfiles das escolas de samba.

Vale dizer que, como curiosidade, os sambas de enredo nascem depois do surgimento das escolas de samba. Enquanto a Deixa-Falar, primeira agremiação denominada “escola”, na data de 1928, convenciona-se dizer que o primeiro samba de enredo é da Portela, já em 1939, “Teste ao Samba”, de autoria do lendário fundador Paulo da Portela. Antes de 1939, e até uns anos após, as escolas levavam apenas o refrão para o desfile, sendo as primeiras, segundas e até terceiras partes dos sambas fruto do improviso, como se faz no partido-alto, ou mesmo se entoavam canções que nada tinham a ver com a temática proposta visualmente.

Se define um samba como samba de enredo pela presença de uma temática pré-definida que permeia toda a letra composta pelos autores. Esse tema deriva de uma sinopse, oferecida pela agremiação para que os poetas possam extrair dela os versos, estrofes e refrãos que vão fazer parte da construção da obra que embalará o desfile.

Na atualidade, tornou-se muito importante seguir a sequência do enredo na música, e também a preocupação com o samba ser “explosivo” para a evolução da escola, em detrimento de melodias que se “encaixem” na temática proposta. Um enredo triste não tem mais melodia dolente, e sim algo que vá fazer os componentes cantarem de peito aberto na passarela, privilegiando um conceito único de evolução de um cortejo.  

Em compensação, cada vez mais os sambas de enredo vão abandonando uma “receita de bolo” que figurou durante muitos anos: dois refrãos, primeira e segunda partes. Hoje em dia, os autores buscam ousar mais, com sambas de três partes, falsos refrãos ou estribilhos, dando mais qualidade técnica às obras.

No fim das contas, no processo de composição, invariavelmente, os compositores pensam exaustivamente de que maneira poderão atingir o coração de seu povo, de sua escola, e de quem assiste os desfiles. Sem essa sensação sua letra é vazia. Povo e samba é a mistura perfeita do carnaval.

Evoé!

* “Evoé”, em Grego EUOÉ, em Latim EVOHÉ, era um grito de alegria e comemoração lançado pelos bacantes nas festas de DIÓNISO (ou BACO, para os romanos).

(*) Victor Raphael é compositor e diretor da Liga Independente das Escolas de Samba de Corumbá.