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Por dentro da folia - O que determina um desfile campeão?

Por Victor Raphael (*) em 03 de Fevereiro de 2018

Já dizia um ditado popular: “beleza não põe a mesa”, e na festa da suntuosidade e do luxo que são os desfiles das escolas de samba, isso também pode ser aplicado. A construção de um desfile campeão passa por diversos fatores, e muitos deles, não envolvem o poderio financeiro da agremiação, mas sim o seu grau de envolvimento com o desfile. Mas será que há uma receita expressa para uma escola de samba seguir e chegar ao tão sonhado caneco?

A resposta é complexa. Existem caminhos para o grande desfile, para a certeza de um resultado, já não é tão simples, mas podemos descrever por aqui alguns desses trajetos em busca das notas máximas.

No julgamento das escolas de samba existem quesitos que derivam do envolvimento de todos, e outros de poucas pessoas, como é o caso dos quesitos Mestre-Sala e Porta-Bandeira (duas apenas) e Comissão de Frente (entre 8 e 12). Por serem posições de destaque no desfile, a facilidade de visualizar falhas cometidas pelos responsáveis por esses quesitos é muito maior, e, por isso, se faz necessário um ritmo maior de ensaios e treinos, a fim de que os erros não existam ou sejam minimizados na apresentação oficial.

Já outros quesitos, como o enredo, derivam de fatores como o aprofundamento da pesquisa, ou a perfeita inserção dos elementos do tema com a proposta de desfile, descrito em alas, destaques e alegorias. Um desfile com muito luxo num enredo sobre a simplicidade é uma discrepância que certamente será anotada pelo júri, bem como a possível falta de significado ou deslocamento de um elemento dentro do enredo de determinada agremiação.

Em quesitos como Samba-Enredo e Harmonia e Evolução já há um envolvimento maior, onde há compositores, músicos, cantores e a própria escola, que com o seu canto, sua dança e a progressão do seu desfile, impulsionada pelos diretores de harmonia, devem estar em sintonia para que venha a nota máxima. O andamento da bateria também é primordial, uma vez que, um andamento rápido com uma progressão lenta da escola, pode custar preciosos décimos no resultado final.

Dito isto, cabe a pergunta: E o público, onde fica? O desfile aclamado pela população pode não merecer o titulo sob a ótica dos jurados? Infelizmente sim. Mas isso não quer dizer que, em alguns casos, e podemos citar dois deles aqui, a emoção certamente suplantou a razão dos olhos de quem tinha a incumbência de conferir o resultado dos desfiles das escolas de samba. Em 1984, ano de inauguração do sambódromo carioca, a Estação Primeira de Mangueira, com muita simplicidade em alegorias e fantasias, fez um desfile arrebatador, a ponto de os foliões que estavam nas arquibancadas descerem à pista, fazendo com que a escola retornasse pelo caminho inverso do desfile numa grande celebração. Apesar de toda a simplicidade visual, a Mangueira tornou-se, naquele ano, a única supercampeã do carnaval do Rio de Janeiro.

Outro caso muito famoso, e que o samba até hoje ressoa em qualquer carnaval desse país, é o desfile do Salgueiro em 1993. O desfile “Peguei um Ita no Norte” tinha algumas falhas e muita simplicidade também... Mas o samba cantado por Quinho na ocasião levou a Avenida a um delírio carnavalesco. Delírio este que ainda entorpece os amantes da folia, ao ouvirem em trios elétricos, blocos, barzinhos e bailes alguns dos versos mais famosos do carnaval brasileiro: “Explode coração, na maior felicidade...”

(*) Victor Raphael é compositor e diretor da Liga Independente das Escolas de Samba

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