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Fazer carnaval “pra ganhar”. O que?

Victor Raphael (*) em 09 de Fevereiro de 2018

Na hora em que você, caro leitor e amigo, estiver lendo essa coluna, possivelmente já passou muita coisa no carnaval. O Bloco Sandálias de Frei Mariano já terá passado pela Avenida General Rondon. O Corumbaense já estará na segunda fase da Copa do Brasil, complementando o clima carnavalesco. As chaves da cidade já estarão nas mãos do Rei Momo, entregue no concurso de fantasias, e, logicamente, o centro da cidade já terá sido invadido pelo povo do Chupeta. Mais que isso, talvez ao ler esse texto e olhar para o que está a sua volta, já veja uma das figuras do Cibalena zanzando pelas ruas (uma vez que essa coluna sai sempre nas sextas-feiras).  Isso quer dizer que você, querendo ou não, já está inserido na folia da cidade, e será muito difícil desvencilhar dela até quarta-feira de cinzas.

E nesse período acontece o Desfile das Escolas de Samba, que também é uma competição entre elas para saber quem será aclamada como a grande campeã do período momesco. Cabe então perguntar: as escolas de samba trabalham para vencer? É por esse sabor da conquista que há todo um trabalho gerado por meses a fio e passado em meros 75 minutos na avenida? Categoricamente a resposta é não. Não se trata apenas disso.

Cada escola de samba tem a sua torcida própria, algumas bem arraigadas nos bairros onde estão sediadas. É ali o primeiro compromisso de uma agremiação: através do seu desfile, poder encher de orgulho o coração daqueles que torcem por ela, ou até mesmo, abnegadamente oferecem seu esforço, seu trabalho, ou mesmo ajudam a colocar a escola na avenida com aporte financeiro, por menor que seja.

Além disso, pouca gente percebe, mas o integrante de uma escola de samba, seja ele diretor, intérprete, integrante da comissão de frente, a passista ou mesmo o folião de ala, espera o calor das arquibancadas e camarotes. Ele espera, e se alimenta do sorriso das pessoas que estão ali para ver a escola, e fatalmente, vê-lo também. Isso, juntamente com o toque da bateria e com a empolgação do samba-enredo são os principais motores de um componente. Portanto, saiba: você também é importante, mesmo na condição de espectador, para a comoção de um desfile.

Os desfiles geralmente terminam por volta de 2 ou 3 da manhã. Isso quer dizer que, após o desfile, quem participa de uma escola de samba pretende descansar do dia anterior, e se preparar pra curtir o próximo dia de folia na cidade. Certo? Errado. Ele geralmente não desliga e fica tentando apurar nas redes sociais e nos sites de notícias como foi a repercussão de sua apresentação na Passarela do Samba. Desde 2010, ainda há outro fator que ajuda a temperar ainda mais esse momento: as escolas aguardam ansiosas as indicações para o Esplendor do Samba, realizado aqui pelo Diário Corumbaense para os melhores do Carnaval, segundo opinião dos órgãos de imprensa convidados e de uma comissão do próprio jornal. Há todo um orgulho incontido quando o nome da escola do coração aparece como um dos indicados às famosas placas douradas em Corumbá.

Só depois de tudo isso vem a expectativa pelo resultado. Pelo ganhar, por cada nota dez ou cada parcial em que as colocações das escolas vão mudando nota após nota. Se fosse apenas pelo resultado, não seria a paixão que é. A paixão vem muito forte, e muito antes de qualquer numeral. De 8 a 10.

Essa é a ultima edição da coluna “Por Dentro da Folia”. Desde já quero agradecer ao Diário por este espaço, na figura da Rosana Nunes e da Lívia Gaertner, por propiciarem esse momento em que, de alguma maneira, eu possa falar um pouco daquilo que penso, e principalmente, sinto pelo carnaval. Pra um folião “de nascença” é sempre muito bom falar e propagar aquilo que está em nossas raízes e princípios

Evoé! E bom carnaval a tod@s!

(*) Victor Raphael é compositor e diretor da Liga Independente das Escolas de Samba de Corumbá