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Leia artigo "A carreira penitenciária x preconceito"

Fonte: Agente Márcio* em 28 de Abril de 2011

Todo filme, evidentemente, traz uma mensagem, que dependendo do ponto de vista, pode ser muito útil para reflexão ou completamente inútil, do tipo melhor ir para a lixeira. Estava na expectativa de assistir "Tropa de Elite 2", filme que segundo comentários é um verdadeiro "tapa na cara" da sociedade.

A ansiedade era grande porque já havia assistido alguns trailers disponíveis na internet, especialmente o que mostra os presos com armas em mãos no interior de um presídio de segurança máxima. No automático, perguntei: "como essas armas foram parar nas mãos desses detentos?"

Enfim, juntamente com a minha família e alguns amigos, começamos a assistir o tão esperado filme. Logo nos primeiros minutos fui premiado, aos olhos dos demais presentes, com o primeiro "tapa". Estava lá, logo ali, a resposta para a pergunta anterior sobre o esperado filme. Um "colega de profissão", um agente penitenciário foi quem passou as armas para os presos, dando início à mostrada carnificina.

Quem nos conhece, conhece, sabe quem é quem, mas aos olhos da sociedade a primeira impressão é a que fica, e mais uma vez a carreira penitenciária foi jogada no chão. Até você explicar o óbvio, que nem todo mundo é igual, que a grande maioria dos agentes penitenciários deste país, mesmo sem as condições ideais de trabalho, honra e dignifica a sua profissão,... "já perdeu", já lhe atiraram a primeira, a segunda e as demais pedras.

Nunca imaginei exercer a função de agente penitenciário, portanto, tinha uma ideia equivocada da profissão, achava que era só abrir e fechar grades. Não possuía nenhum conhecimento do real papel do Técnico Penitenciário. Hoje, caminhando para seis anos trabalhando em contato direto com detentos de toda índole, sei que estava redondamente enganado.

Agora sei que ser agente penitenciário não se resume em fechar e abrir grades, quem dera se resumisse somente nisso. A nossa profissão é muito mais complexa e requer muita, muita coragem e preparo. O pré-julgamento decorre da falta de conhecimento. A sociedade não nos conhece e consequentemente não reconhece o quanto a nossa profissão é importante. Ela só conhece os maus exemplos, que igual ao câncer, alastra e contamina.

É urgente que nos apresentemos à sociedade. É necessário sair da passividade e do conformismo em relação ao preconceito que essa mesma sociedade nos impõe. É preciso reagir, lembrar que maus exemplos existem em todo lugar, mas que são exceções e não regra. A tarefa de elevar a profissão, juntamente com a busca contínua de melhores condições de trabalho, deve ou deveria ser de iniciativa institucional e não somente sindical.

Temos hoje, em nosso quadro, aqui em Mato Grosso do Sul, e com certeza em outros Estados do Brasil, agentes penitenciários gabaritados, por exemplo, para proferir palestras.

O filme? Com certeza alcançou seu propósito, mostrou que existem muitas correções a serem feitas na Segurança Pública, mostrou que na carreira policial existem muitas mazelas, mas que também existem muitos heróis.

Infelizmente, deixou a desejar quanto à carreira penitenciária, já que mostrou somente as mazelas, esqueceu de mostrar que nos presídios deste país também existem agentes penitenciários honestos e comprometidos com a legalidade.

*Agente Márcio é Técnico Penitenciário do Estado de Mato Grosso do Sul - Lotado no Estabelecimento Penal de Corumbá
Matrícula 8536151 - Bacharel em Administração - UFMS
E-mail: valdipan@globo.com